É o que diz Mfuka Muzemba, ex-deputado do maior partido da oposição em Angola, a UNITA. Muzemba defende que é necessária uma nova geração de políticos comprometidos com os interesses da nação. Jovens concordam.
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Angola tem um novo Presidente e o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder há mais de 40 anos) deverá ter, a partir de setembro, um novo líder: João Lourenço. Mas vários jovens e analistas angolanos consideram que as mudanças não devem ficar por aqui.
A classe política angolana "está completamente velha" e tem de ser renovada, defendeu esta terça-feira (15.05) Mfuka Muzemba, ex-deputado da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) num debate organizado pela Plataforma Juvenil para a Cidadania, uma organização da sociedade civil que se dedica a questões relacionadas com a vida da juventude.
"Era importante que a saída do Presidente José Eduardo dos Santos significasse algum caminho que privilegiasse a transição política. É preciso renovar a nossa classe política", afirmou Mfuka Muzemba.
Novos desafios
Segundo o antigo secretário nacional da Juventude Unida Revolucionária de Angola (JURA), braço juvenil da UNITA, para uma verdadeira transição política é necessária uma nova geração de políticos comprometidos com os interesses da nação. Muzemba diz que os "mais velhos" da política angolana já não estão preparados para os desafios que se avizinham.
"Não estamos a falar sobre titulares de órgão. Estamos a falar sobre a renovação de uma classe política, porque essa classe política já nos mostrou que nunca está a altura dos grandes desafios da nação. E é preciso renovar, porque basta ver o estado em que deixam o país."
Classe política angolana "está completamente velha"
Melhor educação e mais espaço para jovens
A maior parte das duas dezenas de pessoas que estiveram no debate promovido pela Plataforma Juvenil para a Cidadania concordou com a necessidade de renovar a classe política.
Uma das preocupações levantadas na discussão tem a ver com o tipo de jovem que está a ser preparado para assegurar essa "transição política". Para o estudante Jorge Mendes, é fundamental melhorar a qualidade do ensino para formar os líderes de amanhã.
"Para olhar para o tipo de jovens que temos atualmente, temos de olhar para o modelo de formação no país - a forma como os detentores do poder político prestam atenção à questão da formação. Hoje temos escolas com certas debilidades no processo de ensino e educação, temos universidades sem laboratórios", comenta.
Miguel Filipe, membro da Juventude Patriótica de Angola, braço juvenil da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), alerta que os jovens devem procurar encontrar já o seu próprio espaço.
"A juventude deve saber-se impor. E é nesse espaço de cidadania que poderemos galvanizar e levar a bom porto os destinos da nação", frisou.
"Acaba de me matar": jovens angolanos protestam contra o Governo nas redes sociais
Devido à falta de estrutura para lidar com os efeitos da chuva, pelo menos dez pessoas morreram em Luanda. Esta situação levou os cidadãos a iniciarem no Facebook uma onda de protestos denominada "Acaba de me matar".
Foto: Guenilson Figueiredo
Perdas após mau tempo
A morte de uma criança de quatro anos desencadeou a onda de protestos nas redes sociais, com os cidadãos a partilhar imagens fingindo-se de mortos e com a mensagem "Acabam de nos matar", uma forma de repudiar a não resolução dos problemas da população por parte do Governo. Ariano James Scherzie, 19 anos, participou na campanha que rapidamente se tornou viral.
Foto: Ariano Scherzie
Sonhos estão a morrer
Botijas de gás, livros, computadores e blocos de cimento estão entre os objetos usados pelos jovens para protestar contra o que dizem ser más políticas públicas. Indira Alves, 28 anos, lamenta a situação do seu país. "Estou a morrer. Desde as condições de vida até aos sonhos, não é possível o que temos vivido nesta Angola", conta a jovem que abandonou os estudos para trabalhar.
Foto: Indira Alves
Chamar atenção das autoridades
Anderson Eduardo, 24 anos, quis "atingir pacificamente a atenção de alguém de direito a fim de acudir-nos". Decidiu participar no protesto devido ao descontentamento com a governação em Angola. "Eles nos pedem para apertar o cinto, se contentar com o bem pouco, e ao mesmo tempo tudo sobe de preço, alimentos, vestuários, electrodomésticos, e o salário não sobe”, conta o engenheiro informático.
Foto: Anderson Eduardo
Em nome dos colegas e pacientes
Cólua Tremura, 24 anos, conta o porquê de ter participado no protesto: "A minha motivação foram os meus colegas que cancelaram a faculdade por causa da crise, os colegas que morreram antes de realizarem o sonho de serem médicos, os pacientes que apenas vão ao hospital quando estão graves. Acredito que [o protesto] não alcançou os resultados previstos, que era chamar a atenção do Governo".
Foto: Cólua Tremura
Sem reações
Lucas Nascimento, 20 anos, viu no mau tempo e na falta de estrutura razões para aderir ao protesto. O jovem quis dar apoio a uma jovem da região que perdeu a casa num desabamento provocado pelo mau tempo. "Acaba de me matar quer dizer que nós já estamos mal e o Governo está acabando de nos matar", explica. "Até aqui, não notamos nenhuma reação do Governo, talvez possa ser ignorância ou desleixo".
Foto: Lucas Nascimento
Falta justiça
Guenilson Figueiredo, 20 anos, entrou na onda de protestos e teme as consequências que ela pode trazer aos cidadãos que participaram. "Não posso falar muito sobre este protesto, porque nós vivemos num país onde a justiça só funciona contra os pobres".