Clima de tensão marca início da semana na Tanzânia
Martina Schwikowski | AFP
11 de setembro de 2017
Tentativa de assassinato de político da oposição, na última quinta-feira, chocou parte da população. Tundu Lissu está em estado grave e se recupera em um hospital no vizinho Quénia.
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A Tanzânia é um dos países mais estáveis no leste africano. Mas o atentado contra Tundu Lissu trouxe um clima de preocupação ao país. Ele foi alvejado na quinta-feira (07.09) após ter saído de uma sessão no Parlamento, na capital Dodoma. Lissu sobreviveu e foi levado ao país vizinho, o Quénia, onde passou por uma cirurgia de emergência. A decisão de transportar o político de 49 anos para Nairóbi foi feita pela família e pelo partido.
Segundo Abdallah Safari, o porta-voz do "Partido para a Democracia e Desenvolvimento", conhecido por Chadema – a sigla de Lissu, o político se encontra em estado crítico. O atentado, de acordo com Safari, deixou outros integrantes da oposição com medo.
"A oposição se encontra em uma situação crítica", sustenta a especialista em África pela Chatham House, de Londres, Rebekka Rumpel. "Outros integrantes de alto escalão da oposição também foram, recentemente, presos. Um consultor experiente, Ben Sanane, está desaparecido desde novembro de 2016. O medo no país cresce e a situação deve piorar", diz Rumpel.
Discussões
Tundu Lissu teve uma série de discussões com o Presidente tanzaniano, John Magufuli. Foi preso ao menos seis vezes este ano – acusado de ter insultado o chefe de Estado e por ter perturbado a ordem pública, entre outras acusações. Lissu chegou a chamar Magufuli de ditador em julho, acusou o governo de negligenciar a economia e disse que o desemprego piorou com ele no poder.
O Presidente da Tanzânia expressou choque com a tentativa de assassinato e prometeu desvendar o crime. Mas ativistas de direitos humanos acusam Magufuli de agir de forma cada vez mais autoritária. Estações de rádio e jornais foram fechados.
Richard Chaba, da Fundação Konrad Adenauer na Tanzânia, reconhece os retrocessos na imprensa e na oposição, mas não classifica Magufuli de ditador. "Seria exagero chamar Magufuli de um governante autoritário. Nosso Parlamento e a justiça funcionam. Esses são elementos importantes", destaca Chaba.
Tanzania - MP3-Mono
Nervosismo no partido governamental
Para a especialista em África, Rebekka Rumpel, percebe-se um grau crescente de nervosismo no partido do Governo ao longo dos anos, já que o apoio nas urnas tem diminuído nas últimas eleições. "Magufuli ficou com 58% dos votos na eleição presidencial de 2015, foi um queda em relação à eleição anterior, quando ele ficou com 80% dos votos", alega Rumpel. É o contexto, segundo a especialista, que "dá para ver que a crescente oposição significa um desafio para o partido do Governo e que Magufuli comanda a política com um tom mais forte autoritário", completa.
O partido do atual Presidente domina a cena política da Tanzânia desde a fundação dele em 1977. Apesar das críticas a Magufuli, o representante da Fundação Konrad Adenauer na Tanzânia, Richard Chaba, afirma que ele segue popular e que deve participar das eleições em três anos. Entre ações vistas de forma positiva, estariam decisões na luta para erradicar a corrupção. Magufuli, por exemplo, demitiu um amigo próximo – que era ministro da mineração –, já que o então ministro não havia agido energicamente contra a exportação ilegal de minerais.
Enquanto isso, os autores do atentado contra o político de oposição Tundu Lissu continuam desconhecidos. Sem saber quem está por trás da ação, a polícia segue a investigar.
O eterno segundo lugar: uma vida na oposição em África
Não são apenas os presidentes que não mudam durante décadas nalguns países africanos. Também os chefes da oposição ocupam o cargo toda a vida, vedando o caminho às novas gerações. Conheça alguns eternos oposicionistas.
Foto: Reuters
O guerrilheiro moçambicano
Afonso Dhlakama é um veterano entre os oposicionistas africanos de longa duração. Em 1979 assumiu a liderança do movimento de guerrilha Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO. Este tornou-se num partido democrático. Mas Dhlakama é famoso pelo seu tom combativo. Por vezes ameaça pegar em armas contra os seus inimigos. E concorreu cinco vezes sem sucesso à presidência do país.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Morgan Tsvangirai - o resistente
O ex-mineiro tornou-se num símbolo da resistência contra o Presidente vitalício do Zimbabué, Robert Mugabe. Foi detido, torturado, sofreu fraturas do crânio e uma vez tentaram, sem sucesso, atirá-lo do décimo andar de um edifício. Após as controversas eleições de 2008, o líder do Movimento pela Mudança Democrática chegou a acordo com Mugabe sobre uma partilha do poder.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
O primeiro jurista doutorado na RDC
Étienne Tshisekedi foi nomeado ministro da Justiça antes de terminar o curso. Só mais tarde se tornou no primeiro jurista doutorado da República Democrática do Congo. Teve vários cargos na presidência de Mobuto, mas tornou-se crítico do regime. Foi preso e obrigado a abandonar o país. Liderou a oposição de 2001 até a sua morte em fevereiro de 2017. Perdeu as eleições de 2011 contra Joseph Kabila.
Foto: picture alliance/dpa/D. Kurokawa
Raila Odinga: a política fica em família
Filho do primeiro vice-presidente do Quénia, Raila Odinga nunca escondeu a ambição de um dia assumir a presidência. Foi deputado ao mesmo tempo que o pai e o irmão. Mas não se pode dizer que seja um militante fiel de algum partido: já mudou de cor política por quatro vezes. Após a terceira derrota nas presidenciais de 2013, apresentou queixa em tribunal contra o resultado e ... perdeu.
Foto: Till Muellenmeister/AFP/Getty Images
O Dr. Col. Kizza Besigye do Uganda
Besigye já foi um íntimo de Museveni, para além do seu médico privado. Quando começou a ter ambições de poder, transformou-se no inimigo número um do Presidente do Uganda. Foi repetidas vezes acusado de vários delitos, preso e brutalmente espancado em público. Voltou a candidatar-se nas presidenciais de maio de 2016, durante as quais ocorreram novamente distúrbios violentos.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Kurokawa
Juntos por um novo Chade
Saleh Kebzabo (esq.) e Ngarlejy Yorongar são os dois rostos mais importantes da oposição no Chade. Embora sejam de partidos diferentes, há muitos anos que lutam juntos pela mudança política no país. Mas desavenças no ano de eleições 2016 enfraqueceram a aliança. A situação beneficiou o Presidente perene Idriss Déby, que somou nova vitória eleitoral.
Foto: Getty Images/AFP/G. Cogne
O Presidente autoproclamado
Desde o início da sua atividade política que Jean-Pierre Fabre se encontra na oposição do Togo. O líder da “Aliança Nacional para a Mudança” concorreu por duas vezes à presidência. Após a mais recente derrota, em abril de 2015, rejeitou os resultados do escrutínio e autoproclamou-se Presidente. Sem sucesso.
O pai foi Presidente do Gana na década de 70. Nana Akufo-Addo demorou muitos anos até seguir-lhe as pisadas. Muitos ganeses não levam muito a sério as tentativas desesperadas para chegar à presidência, tendo dificuldades em identificar-se com este membro das elites. Mas em novembro de 2016, Akufo-Addo candidatou-se pela terceira vez e venceu as eleições. Desde janeiro de 2017 é Presidente do Gana.