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Clima de terror pode aumentar durante campanha eleitoral na Guiné Equatorial

António Rocha9 de maio de 2013

Várias organizações internacionais alertam para um eventual agravamento das violações dos direitos humanos na Guiné Equatorial, que no próximo dia 26 de maio elege os novos membros do parlamento e das autarquias.

A campanha eleitoral está prestes a arrancar na Guiné Equatorial
A campanha eleitoral está prestes a arrancar na Guiné EquatorialFoto: AP

As eleições legislativas e municipais serão as primeiras na Guiné Equatorial desde o referendo às reformas constitucionais realizado em novembro de 2011 e aprovadas com 97,7% dos votos, apesar de muitas críticas feitas na altura pela forma como se desenrolou a consulta.

Agora, numa declaração divulgada terça-feira (07.05), em Londres, a Amnistia Internacional, a Human Rights Watch e a Equatorial Guinea Justice (EG Justice), manifestaram uma grande preocupação pelas várias prisões ocorridas nos últimos meses na Guiné Equatorial e consideram que este clima de terror poderá aumentar durante a campanha eleitoral que começa esta sexta-feira (10.05).

“Nas eleições anteriores, registaram-se várias fraudes e perseguições de membros da oposição, que foram presos e torturados. Sabemos que esta situação vai repetir-se”, avisa Tutu Alicante, diretor executivo da EG Justice, organização de defesa dos direitos humanos na Guiné Equatorial.

Situações “negativas e preocupantes” à vista

Teodoro Obiang governa a Guiné Equatorial há 34 anosFoto: AP

“Estou em contacto com elementos da oposição e todos dizem que entre o início e o fim da campanha, no dia 24, muitas situações negativas e preocupantes irão ocorrer”, revela Alicante, lembrando o que aconteceu nas anteriores eleições. “E esta nossa posição é reforçada quando se sabe que o presidente da Comissão Eleitoral é também membro do Partido Democrático da Guiné Equatorial que governa atualmente o país”, acrescenta.

A Guiné Equatorial, que é governada desde 1979 pelo Presidente Teodoro Obiang e o seu Partido Democrático da Guiné Equatorial (PDGE), sempre tomou medidas enérgicas contra os opositores políticos nas anteriores eleições, invocando razões de segurança. O Presidente Obiang foi reeleito em 2009 depois de uma campanha eleitoral marcada pela perseguição dos candidatos da oposição, a quem foi negado entre outros o acesso aos media.

Desta vez, a situação não se alterou, diz Tutu Alicante. “A triste realidade vai continuar apesar de já existir há 34 anos com Obiang no poder. Agora ele tenta colocar o seu filho como vice-presidente e mais tarde como o próximo presidente do país”, sublinha o responsável da EG Justice, assegurando que a sua organização vai continuar a denunciar estas eleições.

“Impossível falar-se de eleições livres”

Os eleitores vão eleger os membros do parlamento e das autarquias e pela primeira vez escolher os 55 membros do novo Senado, criado na sequência das alterações introduzidas na Constituição do país e promulgadas em fevereiro de 2012. Para Tutu Alicante, porém, tudo não passa de uma farsa porque ”não existe uma oposição e o acesso aos media está vedado às pessoas que não pertencem ao regime, que não são do poder.” Denuncia ainda que “a liberdade, a mais elementar não existe” e, por isso, “é impossível falar-se de eleições livres e transparentes na Guiné Equatorial”.

Apenas dois partidos políticos apresentaram candidatos, enquanto outras dez formações políticas reconhecidas oficialmente formaram uma aliança com o partido no poder. Várias fontes têm denunciado a utilização desproporcionada dos fundos e recursos do Estado pelo partido no poder e criticam os preparativos para a realização dessas eleições, que deveriam ser justas e transparentes.

Um dos regimes mais fechados do mundo

EG Justice teme repetição de fraudes e perseguições de membros da oposiçãoFoto: picture-alliance/dpa

Nos embates eleitorais anteriores, a observação internacional das eleições foi considerada deficiente e a oposição denunciou fraudes sistemáticas na votação. E como será desta vez? “Só sabemos que o presidente anunciou através de um decreto que convidou membros da sociedade civil nacional e internacional”, conta o director executivo da EG Justice.

Por outro lado, “diz-se que a imprensa internacional pode deslocar-se à Guiné Equatorial para cobrir essas eleições, mas até agora não se sabe se o governo vai deixar as pessoas entrarem no país”, acrescenta.

Considerado pelas organizações de direitos humanos como um dos regimes mais fechados do mundo, a Guiné Equatorial tem estatuto de observador na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) desde 2006. Malabo aspira à adesão plena à comunidade lusófona e o assunto deverá ser discutido na próxima cimeira da organização, marcada para 2014 em Díli, capital de Timor-Leste.

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