"CNE e Governo podem levar o país a banho de sangue" - MDM
22 de outubro de 2024O candidato presidencial moçambicano Venâncio Mondlane convocou hoje mais dois dias de greve e manifestações "pacíficas" nacionais, na quinta e sexta-feira (24 e 25.10).
"O país nestes dois dias deve ficar parado", disse Mondlane, um dia depois de uma marcha de repúdio ao homicídio de dois apoiantes do político, que ficou marcada por ataques da polícia contra os manifestantes e jornalistas.
A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição, condenou hoje, em conferência de imprensa, a "brutalidade" policial. Já o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a terceira maior força política, alerta que o país está "sentado num barril de pólvora".
Em entrevista à DW, o porta-voz do partido, Ismael Nhacucué, garante que o MDM "está com Venâncio Mondlane" e que "tudo fará para que seja restaurada a dignidade moçambicana".
Nhacucué avisa ainda que, se os resultados que a Comissão Nacional de Eleições (CNE) anunciará na quinta-feira (24.10) não espelharem a vontade do povo, poderá haver "um banho de sangue" em Moçambique.
DW África: Como reage o MDM aos tumultos de segunda-feira no país, em particular em Maputo?
Ismael Nhacucué (IN): Estamos solidários com o engenheiro Venâncio Mondlane, com o PODEMOS [que apoia o político] e com toda a sociedade moçambicana, que tem o direito legítimo de repudiar os resultados eleitorais e a má governação. Por isso, condenamos este uso abusivo [da força] pelas Forças de Defesa e Segurança para oprimir e intimidar a sociedade moçambicana.
A Polícia da República de Moçambique (PRM) está ao serviço do partido FRELIMO [Frente de Libertação de Moçambique, no poder]. As Forças de Defesa e Segurança estão ao serviço do Governo da FRELIMO, porque não é possível que a população seja maltratada pela polícia sem a orientação direta do Presidente da República e do comandante da PRM.
DW África: Entretanto, Venâncio Mondlane convocou mais dois dias de paralisação e dirigiu-se também à oposição, nomeadamente ao MDM, apelando a que se deixe as desavenças de lado em prol da causa nacional. O MDM vai aderir a esta nova convocação?
IN: O partido MDM faz parte da sociedade moçambicana, faz parte deste grupo que é prejudicado pela má governação. Portanto - fazendo o MDM parte do povo e sendo este chamamento do Venâncio um chamamento do povo – obviamente que o MDM está com Venâncio Mondlane nesta luta. Está com o povo moçambicano, porque esta luta não é só de Venâncio Mondlane.
O Venâncio pode ter a certeza que o MDM tudo fará para que, de facto, seja restaurada a dignidade moçambicana, que é um dos pilares da nossa governação.
DW África: A CNE confirmou hoje que os resultados das eleições serão anunciados na quinta-feira. O que espera o MDM, sendo que coincidirá também com o arranque desta segunda fase de protestos?
IN: O que nós esperamos é que, na quinta-feira, depois das reclamações efetuadas nas mesas de votação e a nível das comissões provinciais de eleições, a Comissão Nacional de Eleições venha trazer um apuramento nacional ajustado à realidade dos factos. Se isto não acontecer, obviamente vamos recorrer ao Conselho Constitucional.
Se a CNE não trouxer os resultados verdadeiros, este mal-estar social vai crescer e o que se pode esperar é que haja mais problemas, mais pânico, mais confusão nas ruas. E a CNE e o Governo da FRELIMO poderão levar o país a um banho de sangue.
DW África: Como é que o MDM olha para o silêncio do Presidente Filipe Nyusi diante dos últimos acontecimentos no país?
IN: Parece que o Presidente da República está indiferente a esta situação; parece que está impávido a ver estes macabros assassinatos a acontecer, com total indiferença. É de repudiar esta atitude do Presidente da República. Esperava-se que, a esta altura, o Presidente da República já tivesse se pronunciado sobre estes crimes macabros e esta atitude brutal da polícia na tentativa de manter a ordem.