CNE afasta Venâncio Mondlane da corrida autárquica
Lusa
21 de agosto de 2018
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique afastou na segunda-feira à noite o candidato da RENAMO para as eleições autárquicas de 10 de outubro, alegando irregularidades na candidatura.
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Venâncio Mondlane foi afastado depois de uma votação, na segunda-feira à noite (20.08), na sequência da impugnação solicitada pelo antigo partido, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), que considerou ilegal a candidatura, por Mondlane ter renunciado ao mandato na Assembleia Municipal de Maputo em 2015.
De acordo com a lei moçambicana, "não é elegível a órgãos autárquicos: o cidadão que tiver renunciado ao mandato imediatamente anterior".
Votação
Mondlane renunciou ao mandato na Assembleia Municipal de Maputo em 2015 para ocupar a função de deputado, na altura pelo MDM, no parlamento moçambicano.
No processo de votação na segunda-feira, além do MDM, representantes da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, e uma parte da sociedade civil votaram pela impugnação da candidatura de Mondlane, tendo o processo terminado com nove votos contra e sete a favor, informou o diário O País na sua página da Internet.
Venâncio Mondlane era deputado do MDM, terceira força política do país, e em julho foi apresentado à comunicação social pelo secretário-geral da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Manuel Bissopo, como membro do maior partido da oposição em Moçambique.
Desconhecem-se as razões da desvinculação de Venâncio Mondlane do MDM, mas o político recusou a sua indicação a candidato do partido por Maputo nas eleições autárquicas, afirmando não ter sido consultado sobre a decisão.
Mondlane, um político conhecido nos centros urbanos de Moçambique pela retórica, foi candidato do MDM a Maputo nas autárquicas de 2013, tendo sido derrotado por David Simango, da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), num escrutínio muito disputado.
Outras averiguações
Além de Mondlane, o candidato do MDM para o município da Matola, Silvério Ronguane, está também na mesma lista de nomes que podem ser afastados da corrida eleitoral, mas o processo não foi analisado porque nenhum órgão impugnou a candidatura.
Documentário alemão retrata agricultura urbana de Maputo
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A Comissão Nacional de Eleições está também a avaliar a situação de Samora Machel Júnior, filho do primeiro Presidente de Moçambique, Samora Machel.
A candidatura de Samora Machel Júnior, que quer concorrer como independente, depois de ter sido afastado internamente pela Frelimo, foi questionada após quatro integrantes da lista da AJUDEM, uma organização da sociedade civil que está a apoiar o filho de Machel, requererem à CNE a sua retirada da lista, alegando que foram adicionados contra a sua vontade.
As eleições autárquicas de Moçambique, as quintas da história do país, estão marcadas para 10 de outubro.
Este processo eleitoral vai ser o primeiro realizado de acordo com um novo modelo, resultante das alterações à Constituição.
Os líderes das autarquias vão passar a ser escolhidos a partir da lista mais votada para a assembleia municipal, deixando de ser sufragados diretamente em boletim de voto próprio, como se verificava desde as primeiras eleições autárquicas, em 1998.
Figuras socialistas e marxistas imortalizadas nas avenidas de Maputo
Várias avenidas de Maputo têm nomes de personalidades estrangeiras de ideologia socialista e marxista. Muitas apoiaram a luta da independência moçambicana. Os seus nomes são homenageados em vários locais da capital.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Julius Nyerere – o amigo da Tanzânia
Liga o sul, na zona de cimento, aos bairros periféricos do norte. Julius Nyerere foi presidente da Tanzânia entre 1961 a 1985. Em 1967, defendeu o socialismo, inspirado pela antiga União Soviética. Foi amigo de Moçambique e chegou a ceder o seu território à FRELIMO, durante a luta pela independência, o que lhe valeu a atribuição desta avenida.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Vladimir Lenine- inspiração marxista-leninista
Vai da baixa da capital até à Praça dos Combatentes, numa extensão de quase quatro quilómetros. Vladimir Lenine, Presidente da URSS, é um dos rostos da criação e disseminação do comunismo pelo mundo. Depois da independência, Moçambique adotou um socialismo de inspiração Marxista-Leninista e muitos moçambicanos viajaram para a URSS para formações de ideologia marxista-leninista.
Foto: DW/R. Da Silva
Avenida Ho Chi Minh - "o que dá luz"
Começa na atual sede da Comissão Nacional de Eleições, na parte centro-este, e termina na escola Secundária Francisco Manyanga, na parte ocidental. Ho Chi Minh, que significa para os vietnamitas “o que dá a luz”, foi o nome que Nguyen Ai Quoc adotou. Também amigo de Moçambique, valeu-lhe atribuição desta avenida por ter inspirado a FRELIMO a adotar os ideais comunistas.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Kim Il Sung - apoio norte-coreano
Começa no Hospital Central de Maputo e termina perto da Embaixada da Alemanha, numa extensão de cerca de 1500 metros. Kim Il Sung é avô do atual presidente Kin Jung-un. O nome da avenida recorda o apoio da Coreia do Norte na luta pela independência moçambicana. Samora Machel visitou várias vezes a Coreia do Norte de Sung e ainda hoje Moçambique mantém boas relações políticas com o país.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Olof Palme - da Suécia para Moçambique
Localiza-se no bairro central, no centro da cidade de Maputo. Olof Palme é considerado uma das figuras maiores da social-democracia sueca. Justiça social, igualdade e paz eram seus ideais mais acalentados. Levou a Suécia para a arena internacional moderna, dedicando-se a temas como o socialismo, a paz e a solidariedade. É dos poucos governantes europeus que constam da lista das avenidas de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Nkwame Nkrumah – primeiro presidente da África Negra
Localiza-se no centro da capital, na zona nobre de Maputo. Nkrumah foi Presidente do primeiro Estado independente da África Negra, o Gana. Em 1952, ainda no período da colonização, no seu primeiro discurso como primeiro-ministro, Nkrumah proclamou-se socialista, marxista e cristão. Não tardou a ter uma avenida em Maputo, pois a FRELIMO também era um partido de orientação socialista.
Foto: DW/R. da Silva, Getty Images/Express/T. Fincher
Avenida Salvador Allende - defensor do marxismo
Esta avenida tem localização central na zona nobre da capital e conta com um único sentido. Salvador Allende foi Presidente do Chile e o primeiro Presidente com ideais comunistas, eleito em eleições livres, a assumir o cargo num país latino-americano. Allende era marxista e atuou politicamente defendendo os valores característicos dessa ideologia.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Mao Tse Tung – símbolo de uma longa amizade
Mao Tse Tung defendia uma visão revolucionária do comunismo, em que todos os aspetos da sociedade, cultura, economia e política deveriam estar a serviço de causas ideológicas. Depois da independência, Moçambique inspirou-se nos ideais do Partido Comunista Chinês. Os dois países são amigos de longa data, tendo os chineses ajudado a FRELIMO na luta contra o colonialismo.
Foto: Dw/R. da Silva
Avenida Karl Marx – motor da mudança ideológica
É uma das avenidas mais frequentadas na capital. De nacionalidade alemã, Karl Marx foi um influente pensador na questão da luta de classes. Em 1977, o partido FRELIMO deixou de ser uma frente armada para ser um partido de ideologia marxista-leninista, com monopólio exclusivo do poder político e instaurando o partido único. Para imortalizar a influência de Marx, foi-lhe atribuída esta avenida.
Foto: picture alliance/Glasshouse Images, DW/R. da Silva
Avenida Friederich Engels – inspiração contra injustiças sociais
Nesta avenida, pode contemplar-se uma bela paisagem marítima. Engels, amigo próximo de Marx, desenvolveu a sua teoria sobre as classes trabalhadoras, ao observar a miséria e as condições dos operários que viviam dentro do regime capitalista. Em algumas das suas obras, denunciou as injustiças sociais. Inspirou Samora Machel e a FRELIMO a adotarem uma política em defesa das classes sociais.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Patrice Lumumba – o herói congolês
Patrice Lumumba lutou contra o imperialismo europeu. O seu partido, o Movimento Nacional Congolês (MNC), identificava-se como comunista. Após a independência do seu país, em 1960, Lumumba foi eleito primeiro-ministro. Um ano depois, foi preso, e, em janeiro de 1961, foi barbaramente assassinado. Como homenagem, a FRELIMO atribui o seu nome a uma avenida e a um bairro na Matola.