No dia em que celebra seis anos, a Convergência Ampla de Salvação de Angola Coligação Eleitoral diz-se pronta para as eleições autárquicas, que devem realizar-se o "mais rapidamente possível" em todo o país.
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Em dia de aniversário, a realização das primeiras eleições autárquicas em Angola, apontadas para 2020, mas com o Governo angolano a admitir tratar-se de um processo a implementar de forma faseada em todo o país, é alvo das críticas da CASA-CE.
O secretário executivo nacional da segunda força da oposição em Angola, Leonel Gomes, garante que a coligação está pronta e quer as eleições autárquicas o "mais rapidamente possível", mas que "englobem todo o território nacional", como forma de cumprir os "pressupostos constitucionais".
Após a coligação ter apontado o objetivo de chegar ao poder nas eleições gerais de agosto, onde garantiu apenas 9,5% dos votos, Leonel Gomes afasta um cenário de desmobilização entre os militantes e assume que o período é de "definir novas estratégias" com vista às eleições autárquicas, antes das eleições gerais de 2022.
"Esse furor vai estar de novo a terreiro, para fazer a quarta volta ao país no decurso de apenas seis anos. E os outros que têm 60 anos quase que não conhecem o país até agora", concluiu o secretário executivo nacional da CASA-CE.
Transformação em partido
A coligação é atualmente constituída pelos quatro partidos políticos fundadores, casos do Partido de Aliança Livre de Maioria Angolana (PALMA), Partido Nacional de Salvação de Angola (PNSA), Partido Pacífico Angolano (PPA) e o PAADA - Aliança Patriótica, aos quais se juntou, em 2017, o Bloco Democrático.
Abel Chivukuvuku ataca MPLA durante comício em Benguela
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Seis anos depois da sua constituição, os militantes da CASA-CE ainda analisam a possibilidade da sua transformação em partido político - assunto que continua a não ser consensual. As divergências sobre a transformação em partido foram admitidas esta terça-feira (03.04) pelo secretário executivo nacional.
"Há os que pensam que o momento ainda não é adequado para partimos para a transformação, há outros que pensam que sim, que devia ser de imediato. A abordagem entre nós continua, é saudável", explicou Leonel Gomes, recordando que na sua génese, a CASA-CE prevê o "compromisso" dessa transformação.
A transformação da CASA-CE, liderada por Abel Chivukuvuku, em partido político foi indeferida em janeiro de 2017, pelo Tribunal Constitucional, "por não existir consentimento para a respetiva fusão e dissolução" por três dos quatro partidos coligados desde 2012. A informação constava do despacho de indeferimento do pedido, apresentado pela CASA-CE, segunda maior força da oposição angolana, a 23 de outubro de 2016, documento que referia que três dos partidos enviaram mesmo ao Tribunal Constitucional, quando o processo já estava em tramitação, "cartas separadas" recusando a extinção.
A CASA-CE é uma coligação de partidos independentes, que surgiu em 2012, mesmo ano em que concorreu às eleições gerais de Angola, tendo logo nesse mandato garantido a eleição de oito dos 220 deputados à Assembleia Nacional, que duplicou, para 16, nas eleições gerais de agosto passado.
"Permitam-me a comparação. Num lar onde os filhos não abordam os problemas com os pais e os pais não conversam com os filhos, este lar só tem duas naturezas: ou não existe ou é ditatorial. E nós partimos para a premissa fundamental de que queríamos, queremos e vamos continuar a lutar para que Angola seja um verdadeiro Estado democrático", apontou Leonel Gomes.
Eleições em Angola: Do combate à corrupção ao "Dubai africano"
A DW África analisou os principais factos que marcaram a campanha eleitoral angolana e as promessas mais faladas de cada partido concorrente às eleições gerais de 23 de agosto. Um resumo fotográfico.
Foto: privat
Pouco espaço para a oposição
Na pré-campanha, a oposição afirmou que nas ruas de Luanda só se viam cartazes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Segundo a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), as agências publicitárias recusavam-se a divulgar materiais da oposição, sob risco de perderem as licenças e os espaços publicitários atribuídos pelo Governo Provincial de Luanda.
Foto: DW/N. Sul de Angola
Propostas na rádio e televisão
Após a pré-campanha, a Comissão Nacional Eleitoral estabeleceu o período de 23 de julho a 21 de agosto para a campanha eleitoral. Além dos atos de massa, os partidos puderam apresentar as suas propostas nos meios de comunicação social do país. A oposição voltou a dizer que não teve o mesmo espaço que o partido no poder.
Foto: DW/B.Ndomba
Combate à corrupção
Combater a corrupção foi uma das metas apresentadas pelo MPLA. O partido no poder, que tem João Lourenço (foto) como cabeça-de-lista, reconheceu durante a campanha que o país "não pode mais sofrer com a corrupção". A ausência do candidato à vice-presidência, Bornito de Sousa, e do Presidente cessante José Eduardo dos Santos, que supostamente estavam doentes, também marcou a campanha eleitoral.
Foto: DW/ A. Cascais
"Interesse nacional"
Entre as propostas da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) está a gratuidade da educação até o ensino secundário. O maior partido da oposição também prometeu um Governo em que o "interesse nacional" esteja acima de "interesses partidários, setoriais ou pessoais". O partido liderado por Isaías Samakuva encerrou sua campanha eleitoral no Cazenga (foto), em Luanda.
Foto: DW/A. Cascais
Mudança depois de 42 anos
A CASA-CE, segundo maior partido da oposição, reuniu ao longo da campanha milhares de apoiantes em diferentes atos de massa nas províncias (foto em Benguela, a 29 de julho). No ato de encerramento, em Luanda, o candidato Abel Chivukuvuku pediu confiança dos angolanos para pôr fim aos "42 anos de sofrimento e má governação".
Foto: DW/N. S. D´Angola
Estados federados
A campanha do Partido de Renovação Social (PRS) foi marcada pela proposta de implantar um sistema federalista no país. O cabeça-de-lista Benedito Daniel (ao centro da foto) defendeu que só através dessa reforma as províncias angolanas – convertidas em estados – teriam autonomia para governar.
Foto: DW/M. Luamba
Angolano no "centro da governação"
A campanha da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) deu especial atenção à pobreza, saúde, educação e emprego. Liderado por Lucas Ngonda, o partido diz que é a "única formação partidária que tem o angolano como centro da sua governação". A abertura da campanha eleitoral aconteceu no Bié (foto), berço do antigo braço armado do partido, a União Para a Libertação de Angola (UPA).
Foto: DW/J. Adalberto
"Dubai africano"
A Aliança Patriótica Nacional (APN) é o partido com o candidato à Presidência mais jovem. Durante a sua campanha eleitoral, o ex-deputado Quintino Moreira (à esquerda na foto) prometeu criar um milhão de empregos – o dobro do que o MPLA prometeu nestas eleições. Além disso, disse que transformaria a província do Namibe num "Dubai africano".