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ConflitosEtiópia

Retirada de parceiros internacionais é criticada na Etiópia

Henry-Laur Allik | Etienne Gatanazi | Coletta Wanjohi | rl
25 de novembro de 2021

Crescem acusações de que comunidade internacional estaria a semear pânico para enfraquecer Governo de Abiy Ahmed. Analistas veem possibilidade de tomada de Adis Abeba, mas TPLF não teria como manter-se no poder.

Äthiopien Konflikt mit Tigray
Foto: AMANUEL SILESHI/AFP/Getty Images

A Organização das Nações Unidas (ONU) fez saber que, até esta quinta-feira (25.11), vai retirar da Etiópia as famílias dos seus funcionários internacionais. Na mesma linha, face à escalada da guerra civil, alguns países ocidentais – incluindo a Alemanha, França, Reino Unido e Estados Unidos – estão a exortar os seus cidadãos a abandonar o país.

A possibilidade cada vez mais real do conflito se estender à capital Adis Abeba colocou nos últimos dias a Etiópia no centro do debate internacional. Isto porque, de acordo com  agências internacionais, as forças da Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF) estão a cerca de 200 km da capital, o que tem feito intensificar os apelos internacionais para um acordo de cessar-fogo. Contudo, nem o governo central de Adis Abeba nem a TPLF concordaram até agora com possíveis conversações de paz.

Em entrevista à DW, Jan Abbink, investigador da Universidade de Leiden, nos Países Baixos, afirma que este tipo de anúncio é um indicativo de que estes países decidiram abandonar a Etiópia à sua sorte. "Penso que, neste tipo de crise, fazem [isso] como precaução por causa do que aconteceu, por exemplo, em Cabul, no Afeganistão. Mas acho que é um exagero. Eles podem fazê-lo, porque é um direito deles, mas pessoalmente penso que não ajuda ninguém", afirma.

Crescem as acusações de que a comunidade internacional está a tentar semear o pânico com o intuito de enfraquecer o governo de Abiy Ahmed. Ahmed Soliman, do instituto de investigação Chatham House, afirma que "o primeiro-ministro etíope acredita que foi encurralado e que os parceiros internacionais como os EUA e a União Europeia estão a fazer pressão para que seja destituído".

Autoridades organizam evento em apoio ao exército em Adis AbebaFoto: AP/picture alliance

Em declarações num evento com a comunidade diplomática, no início desta semana, o chefe do Gabinete de Paz e Segurança de Adis Abeba, Kenea Yadeta, afirmou mesmo que "a propaganda que está a ser divulgada pelos meios de comunicação ocidentais contradiz totalmente o estado pacífico da cidade de Adis Abeba, pelo que não há razões para ter medo”.

"Ahmed causou o seu próprio infortúnio"

Por outro lado, Gérard Prunier, especialista no Corno de África, defende que as acusações contra a comunidade internacional são infundadas, uma vez que  foi "Abiy Ahmed quem causou o seu próprio infortúnio ao atacar Tigray".

O também historiador diz não ver "como poderia a comunidade internacional ter apoiado um Prémio Nobel da Paz que pensa poder trazer uma parte do seu território de volta à ordem constitucional através de bombardeamentos".

Gérard Prunier acredita que "já não há forma de impedir os rebeldes de tomar a capital". Mas também acha, acrescenta, que chegando a Adis Abeba, os separatistas não têm como se manter no poder por muito tempo.

"Não basta tomar a capital, é preciso saber o que fazer depois. É preciso saber se as forças tigré terão inteligência política para entregar o poder a uma coligação política que inclua os Oromos, o maior grupo étnico da Etiópia, com 38 milhões de pessoas”.

Manifestação de apoio a Abiy Ahmed na capitalFoto: AP/picture alliance

Ahmed pede "sacrifício"

Na sua conta da rede social Twitter, Abiy Ahmed escreveu, esta semana, que é chegada a hora em que "o país precisa sacrificar-se" e que com esse sacrifício é possível vencer. Por isso, esta quarta-feira (24.11), antes de partir para a frente de batalha, voltou a pedir aos cidadãos para que se juntem à luta. "Você pode questionar se isto é sábio ou não, mas certamente significa que a situação está muito séria na Etiópia.

Uma decisão que aos olhos da correspondente da DW em Adis Abeba está a ser recebida como um ato "de solidariedade, coragem e responsabilidade"'. Por outro lado, opina Colleta Wanjohi, tratar-se-ia de um gesto positivo "para as forças militares que estão a lutar no terreno há um ano, ver o seu comandante-chefe juntar-se a elas. Dá-lhes energia para continuar a lutar".

Birtukan Adugna vive na capital etíope e confessa estar preocupada com o aproximar das forças da TPLF da sua cidade. No entanto, afirma que elas "não vão controlar Adis Abeba, pois as pessoas aqui estão unidas e a trabalhar em conjunto”.

A mesma opinião tem Esubalew Wale, que diz estar orgulhoso e do lado do Primeiro-Ministro Abiy Ahmed".

O apelo do Prémio Nobel da Paz entusiasmou também heróis nacionais, como é o caso dos atletas olímpicos medalhados Haile Gebrselassie e Feyisa Lilesa, que anunciaram a sua disponibilidade para pegar em armas e combater a TPLF.

Abiy Ahmed discursa durante cerimónia de entrega do Prémio Nobel em OsloFoto: Erik Valestrand/Getty Images

Ameaça à segurança no Corno de África

Preocupados com a estabilidade na região, também os presidentes do Quénia e da África do Sul, reunidos em Pretória, apelaram esta terça-feira (23.11) ao diálogo. Em declarações aos jornalistas, o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, afirmou "que existe margem para o diálogo entre as partes em conflito e que existe uma necessidade urgente de ambas se comprometerem a um cessar-fogo imediato, indefinido e negociado, e a um diálogo político inclusivo".

Também o secretário de Estado norte-americano Antony Blinken avisou, na semana passada, em Nairobi, que a guerra ameaça a segurança do Corno de África e instou as partes em conflito a voltarem ao "processo político" para resolver a disputa.

O enviado especial da União Africana para o Corno de África, o ex-presidente nigeriano Olusegun Obasanjo, reuniu-se recentemente com os líderes de ambos os lados, mas estas conversações não deram, até agora, qualquer fruto.

As lutas do ativista etíope Daniel Bekele

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