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Combate à seca em África: o que fazem os governos?

Birgit Morgenrath / Maria João Pinto26 de fevereiro de 2016

Grandes áreas do continente africano estão a braços com uma seca recorde. Cerca de 45 milhões de pessoas estão ou estarão brevemente dependentes de ajuda alimentar. Como reagem as autoridades? Um retrato de norte a sul.

Foto: picture-alliance/dpa

Etiópia

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de dez milhões de etíopes precisam urgentemente de ajuda alimentar. Um número que poderá duplicar, segundo a ONU. Ainda assim, o país está agora "muito mais pró-ativo e mais bem preparado para enfrentar a crise da seca" do que na década de 1980, diz Oliver Kirui, investigador do Centro de Investigação para o Desenvolvimento, em Bona, na Alemanha. "O Governo, com a ajuda de muitos doadores, tem dado passos importantes na gestão da seca e garante que há formas de apoiar a população", explica o analista, acrescentando que o Executivo etíope se prepara para “distribuir um milhão de toneladas de trigo” pelas áreas afetadas.

Mesmo em anos "normais", milhões de pessoas necessitadas nas áreas afetadas pela seca de forma regular na Etiópia têm recebido ajuda alimentar e financeira do Estado desde 2005. "O trabalho do Governo, através da rede de organizações humanitárias, permite-nos identificar melhor os problemas e programar a resposta à crise de forma imediata", diz Claire Seaward, da Oxfam.

A distribuição de ajuda humanitária à população é também facilitada pelas estradas construídas nos últimos anos na Etiópia, mesmo nas regiões mais remotas. No entanto, a situação continua a ser precária. Até agora, o Governo disponibilizou cerca de 590 milhões de dólares para combater a fome, mas a quantia não deverá ser suficiente. A ONU já lançou o alerta à comunidade internacional: a Etiópia necessita de um total de 1,4 mil milhões de dólares, no ano em curso, para enfrentar a crise.

Mulheres esperam para recolher água na região Somali, na Etiópia, fortemente afectada pela secaFoto: Reuters/T. Negeri

Angola

As províncias do sul de Angola estão a braços com a seca pelo quarto ano consecutivo. Cerca de 750 mil pessoas são afectadas pela seca, estando as crianças particularmente vulneráveis. O Governo enviou nos últimos meses rações de emergência para a região, entre arroz, farinha, massas, feijão e óleo de cozinha, e poderá vir a abrir novos poços de água.

A ajuda governamental é dificultada pela crise económica que se vive no país devido à queda acentuada dos preços do petróleo. Dos milhares de milhões de receitas do ano passado pouco resta. Para além de alguns grandes projetos, como uma fábrica de biocombustíveis, pouco dinheiro fluiu para a modernização da agricultura.

Enquanto a elite angolana acumula riqueza, a pobreza continua a prevalecer no país. As Nações Unidas e a União Europeia disponibilizaram mais de 12 milhões de euros para apoiar o Governo angolano no combate à seca.

Ervas consumidas por populares no sul de Angola para enfrentar a fomeFoto: DW/A.Vieira

Malawi

2,8 milhões de pessoas estão gravemente ameaçadas pela fome no Malawi. O país perdeu grande parte das colheitas do ano passado devido a fortes inundações. De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Governo é incapaz de lidar com a gestão de crises.

Opinião diferente tem Claire Seaward, da Oxfam. "O Executivo está a levar a crise muito a sério e começou desde cedo a planear, lançar alertas e a preparar uma resposta", ainda que não consiga responder à crise pelos seus próprios meios. No entanto, diz a investigadora, "tem um plano, o que representa uma melhoria em relação a anos anteriores", no que diz respeito à coordenação do trabalho das instituições de caridade.

Moçambique

O país vive há meses em dois extremos climáticos opostos: enquanto cerca de meio milhão de pessoas no sul de Moçambique sofre com a seca extrema, o norte é assolado por fortes chuvas. Até agora, 45 pessoas morreram em inundações e tempestades. Por todo o país, estima-se que 77 mil pessoas vivam em insegurança alimentar.

Cheias em Nicoadala, província da Zambézia, Moçambique, enquanto o sul do país está a braços com a secaFoto: DW/M. Mueia

A 17 de fevereiro, o primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, anunciou que todos os membros do Governo de Moçambique vão contribuir com um dia do seu salário para apoiar as vítimas das calamidades que atingem o país. Até agora, o Governo conseguiu evitar mortes causadas pela fome, através da ajuda alimentar. Considera-se que o Instituto Nacional de Gestão de Catástrofes (INGC) está bem preparado para responder a estas crises e a presença de organizações humanitárias é muito significativa em Moçambique. Agora, o Reino Unido comprometeu-se a doar 14 milhões de euros para apoiar o Governo moçambicano na luta contra a seca.

Zimbabué

O país atravessa uma das piores crises de segurança alimentar dos últimos anos. Quase um em cada cinco dos 13 milhões de zimbabueanos vive em risco de subnutrição. O Governo do Presidente Robert Mugabe tem de importar centenas de milhares de toneladas de cereais e o ministro da Agricultura apelou a 1,5 mil milhões de dólares em ajuda internacional.

Oliver Kirui, investigador do Centro de Investigação para o Desenvolvimento, afirma que o Zimbabué não se preparou devidamente, uma vez que "há falta de especialistas e planos de emergência" e a coordenação da ajuda funciona de forma errada. A título de exemplo, a responsabilidade pelo combate à seca foi atribuída a dois ministérios, mas os seus papéis na luta contra a crise não foram claramente definidos.

O Governo declarou o estado de emergência no início de fevereiro. No entanto, Mugabe celebra no domingo (28.02) o seu 92º aniversário com uma festa que custará um milhão de dólares – em Masvingo, a província mais afetada pela seca.

Pais e crianças apanham grãos de milho caídos na estrada, em Harare, no Zimbabué, à passagem de veículos que transportam milho importado da África do SulFoto: picture alliance/dpa/T. Mukwazhi

África do Sul

De acordo com estimativas do Banco Mundial, a seca colocou cerca de 50 mil pessoas em situação de pobreza. O país tem sido abalado pela pior seca em mais de 100 anos. Recentemente, o Governo de Jacob Zuma aumentou o valor destinado ao combate à seca de 20 para mais de 60 milhões de euros.

A colheita de milho será 25% mais baixa do que em anos normais. Um dado que, segundo Claire Seward, da Oxfam, "poderá ter um impacto nos outros países da região", uma vez que os países vizinhos importam habitualmente este "alimento-base" da África do Sul. Agora, enfrentam o aumento dos preços e a escassez.

Oliver Kirui, do Centro de Investigação para o Desenvolvimento, elogia a criação, em 2003, do "Fórum Nacional da Seca", para discutir e adoptar estratégias de combate à calamidade. Mas os agricultores também têm de cumprir o seu papel e plantar variedades de milho mais resistentes à seca, diz Kirui. "Se não o fizerem e há uma quebra na colheita, é uma falha do Governo?", questiona o investigador.

Residentes fazem fila para recolher água num ponto de distribuição em Senekal, na África do SulFoto: picture-alliances/dpa//K. Ludbrock

Os críticos afirmam que a falta de água é, em grande parte, um problema "caseiro". O Ministério da Água, com mudanças de pessoal frequentes, desvalorizou os cenários reais, falhando no combate à seca. De acordo com a Comissão Nacional de Investigação sobre Água, metade da água destinada às cidades e vilas perde-se em fugas nos sistemas de canalização. 6.500 municípios enfrentam uma grave escassez de água.

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