Presidente moçambicano pede apoio para combate ao terrorismo
Lusa
25 de março de 2022
As operações militares para eliminar a ameaça terrorista em Cabo Delgado estão orçadas em 275 milhões de euros por ano, anunciou o Presidente Filipe Nyusi, após um encontro internacional em que pediu mais apoios.
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"Pedimos para que os nossos amigos nos possam ajudar, porque as operações que agora estão em curso [em Cabo Delgado] são muito, muito caras, são aproximadamente 275 milhões de euros por ano", referiu Filipe Nyusi, na quinta-feira (24.03).
"Então precisamos de apoios de todos aqueles que puderem, na dimensão que possam", acrescentou. Além do combate em curso, há outros investimentos necessários, sublinhou.
Noutro pilar da estratégia, são necessários até "320 milhões de dólares (290 milhões de euros) para criar capacidade real de defesa de Moçambique", com capacitação e reequipamento das tropas, por forma a que o país seja autónomo "para manter a paz", quando as forças estrangeiras saírem.
Nyusi na Jordânia
Filipe Nyusi falava numa declaração gravada em Aqaba, na Jordânia, e distribuída pela Presidência moçambicana. O chefe de Estado interveio nos encontros do Processo de Aqaba, iniciativa lançada em 2015 pelo rei Abdullah da Jordânia para debater a cooperação internacional nas áreas militar e de segurança.
Cabo Delgado: Famílias deslocadas começam a retornar
02:04
Nas sessões participaram representantes militares e de segurança dos Estados Unidos, de países europeus, asiáticos e africanos, assim como representantes de empresas internacionais e instituições acadêmicas.
Paralelamente, Nyusi foi recebido na quarta-feira (23.03) pelo rei Abdullah, que manteve igualmente encontros separados com o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, e com o chefe de Estado da República Democrática do Congo (RDC), Félix Tshisekedi.
As sessões de quinta-feira (24.03) debruçaram-se sobre as questões de segurança no leste de África. No que respeita a Moçambique, Nyusi fez um balanço positivo dos encontros na busca por apoios.
"Ficou claro" para os participantes que quiserem apoiar Moçambique, que devem "interagir diretamente com o Governo ou com organizações visíveis" que atuam com "transparência e de forma efetiva", referiu.
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"Muitos moçambicanos a negociar apoios"
"Andamos a descobrir que há muitos moçambicanos que estão a negociar apoios lá fora para as suas organizações e depois não sabemos o que é", explicou.
Alguns desses apoios por via de "intermediários", "não chegam" à frente de combate e outros apenas servem para "instigações" e outros fins, referiu, sem mais detalhes.
O conflito em Cabo Delgado já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 859 mil deslocados, de acordo com as autoridades moçambicanas.
Desde julho, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de rebeldes, mas a fuga destes tem provocado novos ataques nalguns distritos.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.