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Comemorações de Cabral: Os governantes "não têm noção"

Djariatú Baldé (Bissau)
13 de agosto de 2024

Governo da Guiné-Bissau proibiu a realização de atividades relacionadas com a celebração do centenário de Amílcar Cabral que não sejam da sua iniciativa. A decisão está a merecer várias críticas.

Foto de arquivo: Amílcar Cabral
Foto: AFP/Getty Images

O Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) considera a proibição uma "vergonha para o Estado". Na mesma linha, o Partido da Renovação Social (PRS) diz que a decisão desrespeita o legado de Amílcar Cabral, que sempre defendeu a liberdade.

Em declarações à DW, o porta-voz da juventude dos renovadores, Emanuel Correia Na Walna, é perentório: "Amílcar Cabral ultrapassou o estatuto de exclusividade. Portanto, ninguém pode dizer que só uma parte tem o poder ou a autoridade de fazer determinadas atividades e bloquear outras."

"Este ato do Governo é mais um ato de demonstração de força", acrescentou Na Walna.

"Sem noção da dimensão de Cabral"

O Ministério da Administração Territorial da Guiné-Bissau interditou "a colocação de placas e outros materiais de propaganda relacionadas ao centenário" do pai fundador das nacionalidades guineense e cabo-verdiana nos lugares públicos, sem consentimento prévio.

Uma iniciativa denominada "Sumbia di Abel Djassi", liderada pelo jurista e professor Fodé Mané, tinha a intenção de realizar durante todo o mês de agosto uma exposição de pintura plástica alusiva ao centenário. Mas o evento foi cancelado devido a esta decisão do Governo. 

Gueri Gomes: "Para nós, esta decisão do Governo é lamentável"Foto: Dansó Iancuba/DW

Em nome do Espaço de Concertação das Organizações da Sociedade Civil, Gueri Gomes Lopes afirma que limitar os cidadãos à comemoração "oficial" do centenário de Amílcar Cabral mostra a falta de perceção dos atuais governantes guineenses sobre a figura do líder histórico.

"Cabral representa os valores e os ideais da fundação do Estado da Guiné-Bissau. Por isso, para nós, esta decisão do Governo é lamentável. Parece que vem clarear que os governantes que temos neste momento não têm noção da dimensão do Cabral."

Gueri Gomes refere que governo ainda vai a tempo de reconsiderar a decisão, permitindo que todos possam celebrar o centenário do nascimento de Amílcar Cabral.

À revelia da decisão governamental

Ussumane Camará, líder da Juventude Africana Amílcar Cabral (JAAC), o braço juvenil do PAIGC, garante que o partido vai continuar com as atividades alusivas ao centenário, ignorando a decisão.

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"Temos a nossa agenda, e o PAIGC vai continuar a celebrar Cabral para a eternidade por ser a primeira pessoa que deu a sua vida para a nossa libertação", insiste Camará. O mundo "está a celebrar Cabral. Mas quero perguntar a este ministério: o que fez desde janeiro para celebrar Cabral?"

No último fim de semana, a juventude do partido promoveu uma jornada de reflexão alusiva ao centenário do nascimento de Cabral.

Desde janeiro, várias organizações da sociedade civil e instituições académicas do país estão a promover atividades para marcar os 100 anos do nascimento de Amílcar Cabral, que se celebram no próximo dia 12 de setembro.

Para o sociólogo Tamilton Teixeira, a proibição do governo não passa de uma "expressão máxima" da situação política atual na Guiné-Bissau. "Isto demostra apenas que Cabral, lamentavelmente, no contexto da Guiné-Bissau, é mais um produto de 'marketing' político", comenta.

"Neste ano do centenário, há reflexões em Cabo Verde, independentes das iniciativas do governo; há reflexões em Portugal... O que nós estamos a fazer é uma vergonha." 

Até ao momento não foram anunciadas quaisquer atividades do governo de iniciativa presidencial sobre o centenário de Amílcar Cabral.

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