Comissão de Eleições confirma segunda volta em Nampula
Sitoi Lutxeque (Nampula) | Lusa
26 de janeiro de 2018
Resultados divulgados pela Comissão Distrital de Eleições (CDE) mostram que nenhum candidato obteve os mais de 50% dos votos necessários para vencer a eleição autárquica intercalar.
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A Comissão Distrital de Eleições (CDE) de Nampula anunciou esta sexta-feira (26.01) que nenhum dos candidatos à eleição autárquica intercalar naquela cidade moçambicana obteve mais de 50% dos votos, o que, segundo a lei, obriga a uma segunda volta.
Os resultados divulgados por Marcelino Martinho, presidente da CDE, vão no sentido das contagens já divulgadas desde quarta-feira (24.01) à noite por diversas organizações que acompanharam o ato eleitoral.
Apenas um quarto dos 296 mil eleitores foi às urnas e a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder a nível nacional, foi o mais votado, com 44,5%, seguido do maior partido da oposição, também a nível nacional, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), com 40,3%, anunciou o presidente da comissão.
A lei eleitoral moçambicana prevê que se nenhum candidato a uma autarquia obtiver maioria, se proceda "a um segundo escrutínio, ao qual concorrerão apenas os dois candidatos mais votados na primeira volta".
No segundo escrutínio, "considera-se eleito o candidato que obtiver o maior número de votos validamente expressos", refere a lei.
Cabe ao Conselho de Ministros marcar, sob proposta da Comissão Nacional de Eleições (CNE), o segundo sufrágio, "a ter lugar até trinta dias após a validação e proclamação dos resultados do primeiro sufrágio", conclui.
RENAMO e FRELIMO a postos para segunda ronda
A RENAMO, através do seu porta-voz José Manteigas, aponta graves irregularidades e continua a exigir a realização de uma segunda volta: "Estes resultados estão a dizer claramente que teremos uma segunda volta e estamos prontos para participar".
"Queremos dizer, também, que este processo foi manchado por alguma atitude [irregularidades] de algum partido político [FRELIMO]. Encontrámos pastas nas assembleias de voto, algo que não é permitido, e o STAE a sobrepor-se à Comissão Nacional de Eleições. É isso que a RENAMO condena", lamentou José Manteigas.
Comissão de Eleições confirma segunda volta em Nampula
Acusações que o porta-voz da FRELIMO, Caifadine Manasse, minimizou. Segundo Manasse, o partido de Afonso Dhlakama sempre protestou depois de qualquer eleição no país e, por isso, a FRELIMO já esta habituada a esse tipo de comportamento do seu adversário político.
A FRELIMO, disse ainda o porta-voz, prefere aguardar com serenidade os resultados definitivos dos órgãos eleitorais. Caso haja uma repetição da votação, afirma também que está preparada. "A Comissão de Eleições deu informações de que, perfilando os candidatos, o mais votado foi Amisse Cololo e, havendo este indicativo, de que é possível a realização de uma segunda volta, a FRELIMO estará preparada. Não há problemas", concluiu.
Observador defende permanência do MDM até às autárquicas
Entretanto, Eduardo Sitoe, da plataforma dos observadores, considera que existem condições legais para a realização de uma segunda volta, mas, pelo tempo que resta, o melhor seria ‘‘continuar com a governação do MDM enquanto se preparam as eleições autárquicas. Porque há tempos legais que estão em causa. Provavelmente a segunda volta iria coincidir com o recenseamento para os próximos pleitos, em março ou abril. A segunda volta dessas intercalares será marcada para esse período", sublinhou
Recorde-se que a eleição intercalar de quarta-feira foi marcada depois de o presidente da autarquia, Mahamudo Amurane, ter sido assassinado a tiro por um indivíduo, à porta de sua casa, a 04 de outubro de 2017, num crime que está sob investigação.
As riquezas minerais de Nampula
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo.
Foto: DW/Petra Aschoff
Cadeia de riquezas minerais
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo. As areias pesadas da região são parte de uma cadeia de dunas que se estendem desde o Quénia até Richards Bay, na África do Sul. Em Moma, exploram-se os bancos de areia de Namalote e as dunas de Topuito.
Foto: Petra Aschoff
Areias para diferentes indústrias
Unidade de lavagem de areias pesadas da mineradora irlandesa Kenmare, um dos chamados "megaprojetos" estrangeiros em Moçambique. A ilmenite, o zircão e o rutilo, extraídos das areias, são usados, respetivamente, na indústria de pigmentos, cerâmica e na produção de titânio. O rutilo, um óxido de titânio, é fundamental para a produção do titânio usado para a construção de aviões.
Foto: Petra Aschoff
Lucro após prejuízo
Os produtos são transportados através de um tapete rolante até um pontão no Oceano Índico. Segundo media moçambicanos, a extração de areias pesadas na mina de Topuito, em Moma, resultou num lucro de 39 milhões de dólares no primeiro semestre de 2012. No mesmo período de 2011, a empresa registou prejuízo de 14 milhões por causa da baixa dos preços devido à crise económica mundial.
Foto: Petra Aschoff
Problemas trabalhistas?
O semanário moçambicano Savana repercutiu, em outubro de 2011, a decisão do ministério do Trabalho de suspender 51 trabalhadores estrangeiros em situação ilegal na Kenmare. Segundo o Savana, na mesma altura, a Inspeção Geral do Trabalho descobriu que 120 trabalhadores indianos estavam para ser recrutados pela Kenmare. O recrutamento foi cancelado.
Foto: Petra Aschoff
Mudança de aldeia
Para poder explorar as areias pesadas em Nampula, entre 2007 e 2010 a mineradora irlandesa Kenmare transferiu as moradias de centenas de pessoas na localidade de Moma, no norte do país. A empresa prometeu acesso à água, casas melhores e postos de saúde. Na foto, nova escola primária para a população local.
Foto: Petra Aschoff
Acesso à água
Em 2011, o novo bairro de Mutittikoma, em Moma, ainda não tinha um poço d'água. Esta é transportada até o vilarejo com um camião cisterna. O acesso à água também é garantido com uma tubulação que a Kenmare instalou ali. Porém, como a mangueira só deixa correr um fio d'água, as mulheres que vêm buscá-la esperam no sol durante horas a fio para encher baldes e recipientes.
Foto: Petra Aschoff
Responsabilidade social
Uma casa construída pela Kenmare para a população desalojada por causa da exploração das areias pesadas em Moma. No início de setembro, Luísa Diogo, antiga primeira-ministra de Moçambique, disse que o país deve estar "muito atento" para que os grandes projetos de recursos naturais – como carvão e gás – beneficiem as populações. Ela também defende renegociação de contratos multinacionais.
Foto: Petra Aschoff
Em busca do brilho
Para além das areias pesadas, o solo da parte sul da província moçambicana de Nampula oferece mais riquezas. Na foto: garimpeiros à procura da pedra preciosa turmalina em Mogovolas. Os garimpeiros recebem cerca de um euro por dia para cavar buracos com vários metros de profundidade. As pedras são vendidas a um comerciante intermediário.
Foto: Petra Aschoff
Verde raro
As pedras de turmalina costumam ter várias cores. Uma das mais conhecidas é a verde. Mas existe outro verde precioso que se torna cada vez mais raro em Mogovolas: o da vegetação. Os buracos cavados pelos garimpeiros podem não ter pedras, mas permanecem após a escavação e sofrem erosão. As plantas não são plantadas novamente, apesar de a recomposição da vegetação ser prevista pela lei.