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Comité da FRELIMO: Cabo Delgado "ultrapassa" Filipe Nyusi

20 de maio de 2021

Para o coordenador do Centro de Jornalismo Investigativo Luís Nhanchote, terrorismo é o tema "mais importante para os moçambicanos" na reunião do partido no poder, este fim de semana. Mas falta "dimensão" ao Presidente.

Foto de arquivo: Filipe Nyusi na reunião do Comité Central da FRELIMO, em março de 2015.Foto: DW/Leonel Matias

A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, realiza, de 22 a 23 de maio, a sua IV sessão ordinária do Comité Central. Na agenda vão estar "a situação de segurança no norte e centro do país, o programa do partido para 2021 e o balanço das eleições gerais, legislativas e das assembleias provinciais", refere a FRELIMO em comunicado.

A segurança nacional, o terrorismo em Cabo Delgado e os ataques armados da Junta Militar da RENAMO no centro do país, serão os principais "cancros" nacionais com os quais o partido terá de lidar no encontro a ter lugar na Escola da FRELIMO, na Matola.

Para o coordenador do Centro de Jornalismo Investigativo de Moçambique, Luis Nhanchote, Cabo Delgado é a questão "mais importante para os moçambicanos", mas o líder do partido e Presidente da República, Filipe Nyusi, "está diante de um assunto que o ultrapassa" no que toca ao terrorismo no norte do país.

DW África: Como deverão ser tratados estes assuntos pelo maior partido do país?

Luís Nhanchote (LN): Os temas serão tratados de acordo com a demanda de quem manda no partido FRELIMO, que são os macondes. Eles fizeram uma lista de três temas e vão discutir aquilo que quiserem. O primeiro: eleições. Isso é público, mas discutir eleições neste tempo parece surrealismo, não houve mais debate por causa da pandemia. Mas não é o assunto mais importante para os moçambicanos. O assunto mais importante é a guerra em Cabo Delgado. Aquilo que está a acontecer, quais são as soluções, o que é que eles têm a dizer sobre isso.

Acho que a FRELIMO tem aqui um assunto muito grande para discutir, porque é um partido que sempre se definiu de multiplicidade nacional, norte, sul, centro. Não sei que entendimento vão ter, mas tem de ser rápido, porque têm de passar para o terceiro tema: Sofala, a Junta Militar [da RENAMO]. Isso não interessa a ninguém. O assunto mais importante para os moçambicanos que vai ser discutido no Comité Central da FRELIMO, na minha ótica, é a guerra em Cabo Delgado e o que é que a FRELIMO tem para oferecer. O nosso Presidente tem comunicado muito mal, desde que começou este conflito. Primeiro, ficou sete dias sem falar nada, depois dos ataques de Palma. Falou no sétimo dia e, simplesmente, no oitavo dia piorou.

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02:18

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DW África: A unidade nacional parece estar fragmentada e a situação em Cabo Delgado é um dos sinais. Haverá planos para recuperar esta unidade tão defendida pelo partido?

LN: O Presidente Nyusi está diante de um assunto que o ultrapassa. Eu acho que ele não tem a dimensão daquilo que se passa, porque um estadista não pode deixar fazer ataques e ficar sete dias calado.

DW África: Os membros da FRELIMO deverão avaliar os trabalhos da comissão política, do comité de verificação e do gabinete central do partido para a preparação das eleições de 2022. A sucessão deverá ser um dos temas em debate?

A sucessão nunca vai ser um tema em debate neste Comité Central. Isso que fique claro para toda a gente, dentro e fora de Moçambique. Por uma razão muito simples: a FRELIMO sempre foi estruturada em relação à discussão dos seus assuntos e sempre os arrumaram para discutir em função também do público internacional. Eu não acredito que eles vão mudar, desta vez, agendas em relação a um assunto interno. Isso permite a Nyusi ter tempo de olhar para a sua sucessão, porque o debate do seu sucessor é mais fora do que dentro da FRELIMO. Todas as frentes de fora, por exemplo, Chissano e Guebuza, têm sido abordadas por outras tendências. Isso que vai acontecer agora vai sair daquilo que é a lógica da FRELIMO.

DW África: Que relevância será dada às dívidas ocultas, que fragilizaram a imagem do partido e até do próprio Presidente da República?

LA: Não interessa ao Presidente abordar isso, mas interessa-lhe ter Manuel Chang perto de casa, perto da cadeia, o que permite que Filipe Nyusi discuta com ele, através dos seus emissários, o destino que ele deve dar na eventualidade de um julgamento. Se Chang vier para aqui [Moçambique], a sociedade civil vai pressionar para que ele seja julgado. Significa que o Presidente Nyusi, em função daquilo que tem sido dito aqui, sobre o seu envolvimento, vai poder conversar com o ex-ministro das Finanças de modo a não embaraçar o poder político.

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