Para o coordenador do Centro de Jornalismo Investigativo Luís Nhanchote, terrorismo é o tema "mais importante para os moçambicanos" na reunião do partido no poder, este fim de semana. Mas falta "dimensão" ao Presidente.
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A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, realiza, de 22 a 23 de maio, a sua IV sessão ordinária do Comité Central. Na agenda vão estar "a situação de segurança no norte e centro do país, o programa do partido para 2021 e o balanço das eleições gerais, legislativas e das assembleias provinciais", refere a FRELIMO em comunicado.
A segurança nacional, o terrorismo em Cabo Delgado e os ataques armados da Junta Militar da RENAMO no centro do país, serão os principais "cancros" nacionais com os quais o partido terá de lidar no encontro a ter lugar na Escola da FRELIMO, na Matola.
Para o coordenador do Centro de Jornalismo Investigativo de Moçambique, Luis Nhanchote, Cabo Delgado é a questão "mais importante para os moçambicanos", mas o líder do partido e Presidente da República, Filipe Nyusi, "está diante de um assunto que o ultrapassa" no que toca ao terrorismo no norte do país.
DW África: Como deverão ser tratados estes assuntos pelo maior partido do país?
Luís Nhanchote (LN): Os temas serão tratados de acordo com a demanda de quem manda no partido FRELIMO, que são os macondes. Eles fizeram uma lista de três temas e vão discutir aquilo que quiserem. O primeiro: eleições. Isso é público, mas discutir eleições neste tempo parece surrealismo, não houve mais debate por causa da pandemia. Mas não é o assunto mais importante para os moçambicanos. O assunto mais importante é a guerra em Cabo Delgado. Aquilo que está a acontecer, quais são as soluções, o que é que eles têm a dizer sobre isso.
Acho que a FRELIMO tem aqui um assunto muito grande para discutir, porque é um partido que sempre se definiu de multiplicidade nacional, norte, sul, centro. Não sei que entendimento vão ter, mas tem de ser rápido, porque têm de passar para o terceiro tema: Sofala, a Junta Militar [da RENAMO]. Isso não interessa a ninguém. O assunto mais importante para os moçambicanos que vai ser discutido no Comité Central da FRELIMO, na minha ótica, é a guerra em Cabo Delgado e o que é que a FRELIMO tem para oferecer. O nosso Presidente tem comunicado muito mal, desde que começou este conflito. Primeiro, ficou sete dias sem falar nada, depois dos ataques de Palma. Falou no sétimo dia e, simplesmente, no oitavo dia piorou.
Cabo Delgado: Pemba espera por mais deslocados de Palma
02:18
DW África: A unidade nacional parece estar fragmentada e a situação em Cabo Delgado é um dos sinais. Haverá planos para recuperar esta unidade tão defendida pelo partido?
LN: O Presidente Nyusi está diante de um assunto que o ultrapassa. Eu acho que ele não tem a dimensão daquilo que se passa, porque um estadista não pode deixar fazer ataques e ficar sete dias calado.
DW África: Os membros da FRELIMO deverão avaliar os trabalhos da comissão política, do comité de verificação e do gabinete central do partido para a preparação das eleições de 2022. A sucessão deverá ser um dos temas em debate?
A sucessão nunca vai ser um tema em debate neste Comité Central. Isso que fique claro para toda a gente, dentro e fora de Moçambique. Por uma razão muito simples: a FRELIMO sempre foi estruturada em relação à discussão dos seus assuntos e sempre os arrumaram para discutir em função também do público internacional. Eu não acredito que eles vão mudar, desta vez, agendas em relação a um assunto interno. Isso permite a Nyusi ter tempo de olhar para a sua sucessão, porque o debate do seu sucessor é mais fora do que dentro da FRELIMO. Todas as frentes de fora, por exemplo, Chissano e Guebuza, têm sido abordadas por outras tendências. Isso que vai acontecer agora vai sair daquilo que é a lógica da FRELIMO.
DW África: Que relevância será dada às dívidas ocultas, que fragilizaram a imagem do partido e até do próprio Presidente da República?
LA: Não interessa ao Presidente abordar isso, mas interessa-lhe ter Manuel Chang perto de casa, perto da cadeia, o que permite que Filipe Nyusi discuta com ele, através dos seus emissários, o destino que ele deve dar na eventualidade de um julgamento. Se Chang vier para aqui [Moçambique], a sociedade civil vai pressionar para que ele seja julgado. Significa que o Presidente Nyusi, em função daquilo que tem sido dito aqui, sobre o seu envolvimento, vai poder conversar com o ex-ministro das Finanças de modo a não embaraçar o poder político.
Dia de eleições em Moçambique em imagens
De norte a sul de Moçambique, grande afluência de eleitores marcou primeiras horas de votação. 13,1 milhões de moçambicanos foram chamados a escolher Presidente da República, 250 deputados e 10 governadores provinciais.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Filipe Nyusi abre votação em Maputo
As primeiras assembleias de voto abriram às 07:00 para as sextas eleições gerais. Filipe Nyusi, Presidente de Moçambique e candidato a um segundo mandato, abriu a votação em Maputo. Depois de votar na Secundária Josina Machel, em direto na televisão pública, pediu ao país para mostrar ao mundo que Moçambique "apoia a democracia". "Vamos acreditar e vamos confiar", sublinhou o candidato da FRELMO.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Ossufo Momade vota na Ilha de Moçambique
O candidato presidencial da RENAMO, Ossufo Momade, disse que "nunca" vai aceitar "resultados eleitorais manipulados", assinalando que a negação da vontade popular levou o país a hostilidades militares no passado. "Estamos determinados em fazer qualquer coisa que o povo nos indicar", declarou Momade. O candidato falava após votar na sua terra natal, na Ilha de Moçambique, província de Nampula.
Foto: Getty Images/A. Barbier
Daviz Simango apela ao voto de todos
Daviz Simango, candidato à presidência pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), votou no bairro de Macuti. "Aproveito esta oportunidade para lembrar a todos os moçambicanos que não votarem que vão ter a oportunidade de ser dirigidos por aqueles que não escolheram", advertiu. Pediu ainda às autoridades para "criarem condições para que estas eleições sejam transparentes livres e justas".
Foto: DW/A. Sebastião
Tentativas de fraude a favor da FRELIMO
Segundo o Centro de Integridade Pública (CIP), registaram-se já vários "casos de tentativas de enchimento de urnas" nos dois maiores círculos eleitorais do país. Os casos, a favor da FRELIMO, ocorreram nas assembleias de voto instaladas nas escolas primárias completas Eduardo Mondlane de Angoche, em Nampula, e 16 de Junho, em Mopeia, na Zambézia, precisou a ONG.
Foto: DW/L. da Conceição
UE: Observação eleitoral "em boas condições"
A Missão de Observação Eleitoral da União Europeia (UE) considera que a abertura das mesas de voto decorreu de modo ordeiro. "Havia muitas filas, mas os procedimentos foram seguidos em grande parte", disse Sànchez Amor. O chefe da missão da UE informou ainda que "a observação está a realizar-se em boas condições" e, por enquanto, "o processo desenrola-se conforme o previsto".
Foto: DW/L. Matias
Quelimane: Zambezianos em peso nas urnas
Assembleias de voto em Quelimane, província central da Zambézia, registam grande afluência de eleitores desde as primeiras horas. A DW encontrou vários cidadãos que não conseguiram votar por problemas com o cartão de eleitor. Luís Boavida, cabeça de lista do MDM, e Manuel de Araújo, da RENAMO, apelaram aos zambezianos para irem às urnas. Pio Matos, da FRELIMO, garantiu que está "tudo tranquilo".
Foto: DW/N. Issufo
Gaza: Ambiente calmo e ordeiro
A tranquilidade marcou a abertura das mesas de voto em Mandlakazi, na província de Gaza, no sul. Gaza foi notícia nos últimos meses porque foi aqui que os órgãos eleitorais moçambicanos recensearam cerca de 230 mil eleitores a mais do que o número da população em idade eleitoral anunciada pelo INE. Irregularidades muito contestadas por oposição e sociedade civil.
Foto: DW/C. Matsinhe
Nampula: Eleitores impedidos de votar
Em Mulila, no populoso bairro de Namicopo, na cidade de Nampula, pelo menos oito eleitores foram impedidos de votar, alegadamente porque os seus nomes não constavam dos cadernos eleitorais. O bairro de Namicopo é na sua maioria habitado por apoiantes da RENAMO. Já a Sala da Paz condenou a "falta de vontade dos órgãos eleitorais" em credenciar observadores na província de Nampula.
Foto: DW/S. Lutxeque
Tete: Balanço positivo da Sala da Paz
A Sala da Paz faz um balanço positivo das primeiras horas de votação em Tete, apesar de se verificaram longas filas de eleitores e de alguns membros desta plataforma eleitoral não terem sido credenciados pelos órgãos de administração eleitoral para a observação do pleito. Nestas eleições, Tete elege 21 deputados para a Assembleia da República e 82 membros para a Assembleia Provincial.
Foto: DW/A. Zacarias
Inhambane: Prioridade para eleitores idosos
Idosos em Inhambane estão a ter prioridade nas mesas das assembleias de voto. Nesta província, as mesas abriram à hora prevista, com milhares de eleitores nas filas para exercerem o seu direito cívico. A afluência às urnas diminuiu ao final da manhã. Os concorrentes ao cargo de governador votaram cedo e aguardam os resultados nas suas residências, sob fortes medidas de segurança.
Foto: DW/L. da Conceição
Pemba: Longa espera para votar
Ao contrário de Inhambane, em Pemba, província de Cabo Delgado, alguns idosos queixam-se da longa espera para votar e lamentam que não lhes seja concedida prioridade, como preconiza a lei. "Há lutas na fila e como nós somos mais velhas não conseguimos ficar paradas, por isso ficamos sentadas", disse à DW África a idosa Albertina Navaia, que vota na Escola Primária de Cariacó.
Foto: DW/D. A. Uatanle
Manica: Votação sem sobressaltos
Em Manica, a votação tem sido sobressaltos nem registo de ilícitos eleitorais. Apesar de, no geral, os partidos darem nota positiva ao arranque do processo na província, o delegado do MDM, Humberto Escova, lamentou a circulação de automóveis blindados, na zona de Pinanganga, no distrito de Gondola, e acusou o contingente policial de semear o medo entre os eleitores.