O MPLA reúne esta sexta-feira o Comité Central, na capital, numa altura em que o líder do partido no poder em Angola, José Eduardo dos Santos, ainda não disse se se vai recandidatar ao cargo de Presidente da República.
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A informação com a convocatória foi confirmada esta terça-feira (29.11.) à agência de notícias Lusa por fonte do MPLA, mas sem adiantar a ordem de trabalhos da reunião deste órgão, que conta com 363 membros.
As próximas eleições gerais em Angola estão previstas para agosto de 2017 e José Eduardo dos Santos anunciou em março, também no discurso de abertura de uma reunião ordinária do Comité Central do MPLA, a intenção de abandonar a vida política ativa.
"Em 2012, em eleições gerais, fui eleito Presidente da República e empossado para cumprir um mandato que nos termos da Constituição da República termina em 2017. Assim, eu tomei a decisão de deixar a vida política ativa em 2018", disse na altura José Eduardo dos Santos. Contudo, já em agosto, acabaria por ser reeleito presidente do partido, não sendo ainda conhecido em que moldes será feita a anunciada transição ou sequer se pretende concorrer às eleições de 2017.
"Devemos olhar para trás e analisar o que fizemos com o necessário sentido de crítica e autocrítica, para constatarmos o que não foi bem feito. Os erros deverão ficar no passado e servir de critério para corrigirmos o presente e projetarmos o futuro. Só não erra quem não trabalha, mas o MPLA trabalha e faz, e o povo sabe. E está sempre empenhado em fazer mais e melhor", afirmou José Eduardo dos Santos, na abertura do congresso do partido, a 17 de agosto.
João Lourenço potencial sucessor
Desde março que José Eduardo dos Santos não voltou ao assunto da sua sucessão, tendo apenas sido designado, ainda em agosto, o atual ministro da Defesa, general João Lourenço, para a vice-presidência do MPLA e potencial sucessor do líder.
Esta segunda reunião ordinária do Comité Central (eleito no congresso de agosto) está prevista para esta sexta-feira (02.12), no Complexo Turístico Futungo 2, em Luanda.
Este órgão máximo entre congressos integra, na nova composição, José Filomeno dos Santos e Welwistchea dos Santos, filhos do Presidente angolano.
A empresária Isabel dos Santos, militante e filha mais velha do chefe de Estado angolano, que a nomeou para o cargo de presidente do conselho de administração da petrolífera estatal Sonangol, ficou de fora desta lista de mais de 300 nomes, apesar de ter sido apontada como potencial candidata à sucessão de José Eduardo dos Santos.
O presidente do MPLA e chefe de Estado, de 74 anos, está no poder desde setembro de 1979, após a morte do primeiro Presidente angolano, António Agostinho Neto, tendo ocupado a pasta de ministro das Relações Exteriores de Angola logo após a proclamação da independência, a 11 de novembro de 1975.
Para quando a reforma?
São inúmeros os dirigentes africanos a multiplicar os mandatos na chefia do Estado, nalguns casos modificaram mesmo a Constituição para se manter no poder.
Foto: DW
Abdoulaye Wade
Presidente do Senegal desde 2000 e reeleito em 2007, Abdoulaye Wade encarnou durante algum tempo a mudança. O balanço dos seus 12 anos no poder é, no entanto, mitigado e muitos criticam o seu amor pela megalomania. A sua decisão de disputar uma vez mais , aos 85 anos, a corrida presidencial no Senegal foi muito contestada. Mas ele não é o único Chefe de Estado africano que não quer deixar o poder.
Foto: AP
Teodoro Obiang Nguema
Chegou ao poder em 1979 na sequência de um golpe de Estado. Venceu as eleições em 1989 e foi reeleito em 1996, 2002 e 2009. Uma reforma constitucional adotada em 2011 limitou o número de mandatos presidenciais a dois anos, mas o texto não diz a partir de quando se aplicará a regra. O mandato atual de Teodoro Obiang Nguema expira en 2016. O Presidente tem 69 anos.
Foto: AP
José Eduardo dos Santos
Aos 69 anos, José Eduardo dos Santos dirige Angola desde 1979, ou seja há quase 33 anos, sem nunca ter sido eleito. A nova Constituição de 2010 já não prevê a organização de eleições presidenciais. O presidente do partido com mais votos nas legislativas torna-se automaticamente presidente, o que significa que Eduardo dos Santos poderá manter-se no poder durante mais alguns anos.
Foto: dapd
Paul Biya
Aos 79 anos, Paul Biya lidera os Camarões há mais de 30 anos. Depois de escrutínios presidenciais criticados pela sua falta de transparência em 1997 e 2004, Paul Biya alterou a Constituição em 2007 para se poder manter no poder. Foi reeleito 2011 num sufrágio que a oposição considerou fraudulento.
Foto: AP
Yoweri Museveni
Chegou ao poder pela via das armas em 1986. O presidente ugandês pôs fim a uma ditadura. Aliado dos Estados Unidos, Yoweri Museveni dirige o país há 26 anos, graças a modificações sucessivas da Constituição. A última anula a limitação do número de mandatos, o que lhe permitiu ser reeleito em 2011, após um escrutínio fraudulento.
Foto: AP
Mswati III
O último monarca absoluto de África, Mswati III, sucedeu em 1986 ao seu pai Sobhuza II. Aos 43 anos, ele governa o seu país por decreto e recusa a democracia. A Suazilândia é um dos países mais pobres do mundo, onde cerca 26% da população está infetada com o vírus do HIV-SIDA.
Foto: picture-alliance/dpa
Blaise Compaoré
Aos 61 anos, Blaise Compaoré lidera o Burkina Faso há mais de 25 anos. Chegou ao poder através de um golpe de Estado em 1987 e foi eleito pela primeira vez em 1991, num sufrágio boicotado pela oposição. Uma emenda da Constituição permitiu-lhe ser reeleito em 2005 e em 2010, oficialmente para um último mandato. Contudo os seus adversários estão convictos que ele se irá candidatar de novo em 2014.
Foto: AP
Idriss Déby Itno
Idriss Déby Itno nasceu em 1952 e começou a sua carreira como rebelde. Em finais de 1990, afasta do poder o seu antigo companheiro de armas, Hissène Habré, antes de ser designado Presidente do Chade em 1991. Alterará a Constituição em 2004 para se manter no cargo. Os rebeldes derrubá-lo, em 2006 e 2008, em vão. Em 2011 foi reeleito à primeira volta para um quarto mandato.
Foto: picture-alliance/dpa
Denis Sassou Nguesso
Denis Sassou Nguesso é um caso particular: chegou ao poder em 1979 no Congo (Brazzaville) e foi derrotado em 1992 nas primeiras eleições multipartidárias do país. Quando regressou do exílio em 1997, retomou o poder pela força. A Constituição adotada em 2002 limita a 70 anos a idade de um candidato à presidência. Denis Sassou Nguesso, de 69 anos, deverá portanto ceder o lugar em 2016.
Foto: AP
Robert Mugabe
Quando se tornou primeiro ministro em1980, Robert Mugabe encarnava a esperança do Zimbabué. Eleito presidente sete anos mais tarde, o "pai da independência" impõe um regime ditatorial e mergulha o antigo celeiro de África numa crise alimentar e financeira. Desde 2008, que partilha o poder com o seu rival Morgan Tsvangirai. O Zimbabué ainda espera pela reformas prometidas.