Comité da ONU elogia conduta "exemplar" dos militares
Braima Darame (Bissau) | Lusa
16 de junho de 2017
Trabalhos do Comité de Sanções da ONU na Guiné-Bissau terminaram quinta-feira. Autoridades frisam que a missão serviu apenas para analisar a aplicação das sanções impostas aos militares em 2012, após o golpe de Estado.
Publicidade
Ao prestar declarações aos jornalistas no final da sua missão, o presidente do Comité de Sanções das Nações Unidas, Elbio Roselli, destacou a conduta "exemplar" dos militares que foram sancionados em 2012 por envolvimento na alteração da ordem Constitucional.
"Tivemos uma conversa muito sincera e muito direta. Os militares têm tido um comportamento exemplar, perfeito, é uma questão para se ter em atenção", disse Roselli na quinta-feira (15.06).
O Conselho de Segurança da ONU aplicou sanções aos generais António Indjai, Mamadu Turé, Estevão Na Mena e Ibraima Camará e ao tenente-coronel Daba Naualma.
Questionado sobre um eventual levantamento das sanções, o responsável do Comité das Nações Unidas explicou que não podia fazer declarações a esse respeito. Aos jornalistas, referiu apenas que vai transmitir as informações recolhidas durante a visita a Bissau ao seu Comité e ao Conselho de Segurança da ONU para avaliação.
Comité da ONU elogia conduta "exemplar" dos militares
Especulação desmentida
Elbio Roselli chegou à Guiné-Bissau na terça-feira (13.06) e reuniu-se com representantes do Governo, do Supremo Tribunal de Justiça e do Parlamento, além de membros da comunidade internacional no país, sociedade civil guineense e partidos políticos. Mas o responsável frisou que a visita não está relacionada com a atual crise política.
A especulação de que o Comité de Sanções das Nações Unidas estaria na Guiné-Bissau para sancionar os políticos responsáveis pelo impasse no Acordo de Conacri causou desconforto junto do Governo de Umaro Sissoco Embaló. O primeiro-ministro disse, entretanto, que a visita do Comité era "normal".
"Quando as pessoas estão sob sanções, de vez em quando, é preciso visitá-las e contactá-las. É como um médico que visita um doente para ver se está melhor ou não, para receber alta", afirmou Embaló.
O primeiro-ministro guineense entende que a ONU deve levantar as sanções que recaem sobre os militares do país, autores do golpe de Estado de 2012. À semelhança de Roselli, o governante também considera que o comportamento daqueles militares tem sido exemplar desde o golpe - por esse motivo, as sanções da ONU já não farão sentido.
"Penso que as sanções são extemporâneas", disse. "Os militares compreenderam a mensagem da comunidade internacional, que não há espaço para golpes de Estado. A minha opinião é de que as sanções deviam acabar, porque os militares deram um bom exemplo."
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.