Ativista sueca de 16 anos diz que líderes mundiais só falam de dinheiro e contos de fadas enquanto ecossistemas inteiros entram em colapso. Greta Thunberg e outros 15 jovens vão processar cinco países por inação.
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Dezasseis jovens, incluindo a ativista sueca Greta Thunberg, vão processar cinco países signatários da Convenção dos Direitos das Crianças pelo fracasso na luta contra as alterações climáticas. O anúncio foi feito esta segunda-feira (23.09) em Nova Iorque à margem da Cimeira da Ação Climática das Nações Unidas. A ação judicial tem como alvos a Alemanha, França, Argentina, Brasil e Turquia.
Num discurso emocionado durante a cimeira, Thunberg criticou os "contos de fadas" dos líderes mundiais, acusando-os de inação na defesa do meio ambiente.
"Eu não deveria estar aqui", afirmou Thunberg. "Eu deveria estar na escola do outro lado do oceano. No entanto, todos vocês vêm ter connosco, jovens, em busca de esperança. Como se atrevem a fazê-lo?"
"Vocês roubaram os meus sonhos e a minha infância com as vossas palavras vazias e, mesmo assim, eu estou entre os sortudos. Há pessoas em sofrimento. Há pessoas a morrer, ecossistemas inteiros estão a entrar em colapso. Estamos no início de uma extinção em massa e tudo o que vocês falam é sobre dinheiro e contos de fadas do eterno crescimento económico. Como é que se atrevem a fazê-lo?", questionou a ativista.
"O tempo está a esgotar-se"
Enquanto decorria a cimeira em Nova Iorque, ativistas bloqueavam vários pontos da capital Washington para denunciar a crise climática.
Num discurso durante a Cimeira da Ação Climática, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou os líderes mundiais para um planeta em fúria: "A natureza está chateada. E enganamo-nos se pensamos que podemos enganar a natureza."
"É minha obrigação, e nossa obrigação, fazer tudo para parar a crise climática antes que ela nos pare a nós. O tempo está a esgotar-se, mas ainda não é tarde", disse Guterres.
Pensada para dar fôlego ao Acordo de Paris, a cimeira convocada pelo secretário-geral da ONU já deu frutos: pelo menos 77 países subscreveram o princípio da neutralidade carbónica até 2050.
Alemanha, França e Rússia
A chanceler alemã Angela Merkel foi uma das figuras presentes na reunião e prometeu encetar novos esforços no combate ao aquecimento global.
"Internacionalmente, aumentaremos o nosso financiamento para a proteção climática global de dois para quatro mil milhões de euros. Em particular, atribuiremos 1,5 mil milhões de euros ao Fundo Verde para o Clima", anunciou Merkel. "Estamos a trabalhar em políticas seguras para o clima. Estamos ativos nessa matéria há vários anos e continuaremos a fazê-lo pela proteção das florestas."
A Rússia assinou entretanto uma resolução governamental que consagra a adesão definitiva ao Acordo de Paris. O feito mereceu a reação do Presidente francês Emmanuel Macron, que anunciou novos programas de proteção das florestas tropicais e o fim das centrais a carvão em França até 2022.
Greta Thunberg: "Como é que se atrevem?"
"Estou muito satisfeito por termos recebido as boas notícias sobre a ratificação do Acordo de Paris pela Rússia. Essa é uma notícia maravilhosa. Acho que isto é digno de aplausos", disse Macron.
Nas Nações Unidas, mas por videoconferência, o Papa Francisco pediu uma "verdadeira vontade política" para enfrentar as alterações climáticas.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez uma aparição surpresa durante alguns minutos, mas não interveio.
A Assembleia Geral das Nações Unidas reúne a partir desta terça-feira (24.09) em Nova Iorque. O mundo permanece de olhos postos no combate às alterações climáticas, com o Presidente do Brasil a levar a Amazónia na agenda. Jair Bolsonaro abre o debate geral.
África exige justiça ambiental
Cientistas dizem que a Terra poderá aquecer até quatro graus até ao fim do século. A África já sofre com o aquecimento global. Caso não se combata a alteração do clima, as consequências serão desastrosas.
Foto: Getty Images/AFP/S. Maina
Há cada vez menos água em África
Segundo o Banco Mundial, basta um aquecimento do clima de dois graus centígrados para que caia menos um terço de chuva em África. O que terá como consequência um aumento das secas. Na seca extrema de meados de 1990, os pastores etíopes perderam cerca de metade do seu gado.
Foto: Getty Images/AFP/S. Maina
Chuva a mais
Futuramente as chuvas poderão aumentar no leste da África. Mas serão chuvas torrenciais concentradas em poucos dias e não regulares e distribuídas pelo ano. Em 2011, a cidade portuária tanzaniana Dar-es-Salam foi surpreendida por fortes quedas de chuva, que submergiram bairros inteiros. Pelo menos 23 pessoas morreram, outras 10 000 tiveram que abandonar as suas casas.
Foto: cc-by-sa-Muddyb Blast Producer
Colheitas falhadas
Em África cerca de 90% dos produtos agrários são cultivados por pequenos agricultores. Caso não se reforce marcadamente a sua resistência contra o aumento de secas e enchentes, mais 20% pessoas do que hoje vão passar fome, alerta a Organização das Nações Unidas.
Foto: Getty Images/AFP/A. Joe
Riscos para a saúde
Já hoje a alimentação deficiente por causa de colheitas fracas representa um problema em muitos países. Muitas pessoas mudam-se para os bairros de lata das grandes cidades, onde doenças como a cólera se espalham rapidamente. Um aumento da temperatura poderá fazer disparar a incidência de doenças como a malária, inclusive nos planaltos africanos, onde, até agora, a maleita não existe.
Foto: Getty Images/S. Maina
Extinção das espécies
O aumento da temperatura influencia eco sistemas completos. Muitos animais e plantas não se conseguem adaptar suficientemente depressa. Segundo um relatório do Conselho Mundial do Clima, entre 20% a 30% de todas as espécies estão ameaçadas de extinção por causa da mudança do clima.
Foto: CC/by-sa-sentouno
O Kilimanjaro sem neve
A manta de neve do monte Kilimanjaro tem 12 000 anos. Nos últimos 100 anos derreteu mais de 80% do seu gelo. Caso prevaleçam as condições atuais, o gelo no Kilimanjaro desaparecerá entre 2022 e 2033, calcula uma equipa de cientistas do Estado federado do Ohio, nos Estados Unidos da América. A seca e a falta de chuva levam a que o gelo derreta rapidamente.
Foto: Jim Williams, NASA GSFC Scientific Visualization Studio, and the Landsat 7 Science Team
Só quando a última árvore for abatida ...
A mudança do clima deve-se, sobretudo, aos carros, centrais de energia e fábricas na Europa, América e Ásia. Mas o abate de árvores em muitas florestas africanas, por exemplo, para produzir carvão vegetal, aumenta o CO2 na atmosfera e contribui para o esgotamento dos solos. Em tempos, um terço da superfície do Quénia era floresta, hoje são apenas 2%.
Foto: Getty Images/AFP/T. Karumba
Muda a muda cresce a floresta
Hoje, muitas pessoas já se aperceberam da necessidade de medidas para contrariar este desenvolvimento nefasto. Há algumas décadas, cidadãos empenhados no Quénia começaram a plantar novas árvores, contribuindo para que a superfície florestal crescesse para 7%. As árvores impedem que a chuva leve a preciosa terra arável e retiram os gases de efeito de estufa da natureza.
Foto: DW/H. Fischer
Proteção através da diversidade
As monoculturas são vulneráveis a secas e animais daninhos. Se forem plantadas diversas frutas lado a lado, a colheita fica assegurada, mesmo que uma espécie falhe. Segundo o Programa Ambiental das Nações Unidas, a agricultura ecológica aumenta também bastante mais a resistência às consequências da mudança do clima do que a agricultura convencional.
Foto: Imago
Menos palavras, mais ação
Reservas subterrâneas de água da chuva, seguros contra o risco de colheitas falhadas: há muitas maneiras de, pelo menos, amenizar as consequências do aquecimento global. A assistência ao desenvolvimento e a protecção do clima não podem ser separadas, exigiram, recentemente, os delegados numa conferência das Nações Unidas. Mas não houve promessas concretas de assistência.
Foto: picture alliance/Philipp Ziser
Paris desperta expectativas
“Justiça ambiental, já!” exigiram os manifestantes na Conferência do Clima das Nações Unidas em Durban, na África do Sul, em 2011. Agora o mundo aguarda a conferência que se realiza em Paris no fim de 2015. Está planeada a assinatura de um acordo global sobre o clima, com o objetivo de limitar o aquecimento global a dois graus centígrados e reduzir as consequências nefastas da mudança do clima.