Como a IA está a transformar a educação em África
19 de novembro de 2025
No bairro de Chorkor, em Acra, jovens ganeses estão a utilizar computadores pela primeira vez. Num modesto laboratório digital, os formadores recorrem a ferramentas inteligentes para ensinar literacia digital, competências que podem transformar vidas.
Alguns estudantes já sonham alto. "Aprendi muito. Adoro tecnologia e tudo o que a envolve, mas, ao frequentar estas aulas, consegui adquirir conhecimentos. Tem sido inspirador", conta Emmanuel Dwamena Tenkorang, aluno de Informática.
A empreendedora social americana Patricia Wilkins é uma das pessoas que investem na educação em inteligência artificial para jovens desfavorecidos no Gana. A sua organização, Basics International, gere o Chorkor Digital Lab, que ensina competências digitais a jovens.
"Lançámos o programa há apenas alguns meses e já tivemos uma primeira turma de estudantes. Estamos agora na segunda e temos quase 100 alunos, distribuídos por três turmas", disse Wilkins à DW. "A tecnologia é o futuro. É aqui que estão os empregos. É aqui que as pessoas podem trabalhar remotamente", acrescenta.
Impulso continental para a IA na educação
Por toda a África, iniciativas semelhantes estão a ganhar força. A 5 de novembro, mais de 1.500 especialistas em educação e tecnologia reuniram-se em Acra para uma conferência sobre IA e o seu impacto na educação. O tema central: integrar a IA nos sistemas educativos para impulsionar a transformação e criar oportunidades para os jovens em matéria de inovação e desenvolvimento sustentável.
"[Quando falamos de IA na educação] estamos a olhar para ferramentas tecnológicas que utilizamos para resolver problemas no ambiente educativo, ou tecnologias que podemos usar dentro dos sistemas educativos para melhorar o ensino e a aprendizagem", explica Gideon Owusu Agyemang, do Centro de Excelência em TIC Gana-Índia Kofi Annan.
"Agora temos máquinas de tutoria inteligente a apoiar os alunos na sua aprendizagem", sublinha, acrescentando "a IA também vai melhorar o ensino e a aprendizagem, o uso da IA será dominante em todos os contextos educativos que temos."
Receios e oportunidades da IA na educação africana
Apesar do otimismo, alguns educadores, sobretudo no ensino superior, continuam cautelosos quanto ao potencial disruptivo da IA.
Ekwow Spio-Garbrah, fundador do Fundo Fiduciário para a Educação do Gana e antigo ministro da Educação, afirmou à DW que, apesar dos muitos benefícios da tecnologia e da IA, África e as suas instituições educativas ainda estão a dar os primeiros passos e devem estar atentas aos seus potenciais e perigos.
"Estou a lançar um alerta", disse Spio-Garbrah. "O Gana deve despertar, África deve despertar. O mundo terá de despertar porque muitos de nós estamos a dormir", afirmou. "Muitas instituições de ensino estão adormecidas. Estamos num admirável mundo novo em que aqueles que constroem as máquinas se preparam para controlar o mundo", acrescentou.
Spio-Garbrah afirmou ainda que as instituições de ensino africanas devem envolver-se ativamente na formação e capacitação do continente para que este também possa possuir e controlar as suas próprias tecnologias de IA.
Políticas que moldam a educação em IA em África
Para responder às preocupações e orientar a implementação, especialistas defendem a criação de políticas claras.
"Precisamos de uma política de IA na educação… se houver uma política deliberada e específica sobre IA e educação, isso orienta a conversa e permite passar da discussão à concretização", refere Deborah Asmah, CEO da Npontu Technologies, especializada em IA.
O Gana já está a dar passos nessa direção, desenvolvendo políticas para orientar o ensino de IA e criar oportunidades para os jovens.
IA com valores africanos
O ministro da Comunicação do Gana, Sam George, destaca a importância de uma IA culturalmente relevante.
"A inteligência artificial deve servir o nosso povo, refletir os nossos valores e acelerar os nossos objetivos de desenvolvimento. Recebemos de braços abertos colaborações, investimentos e inovação, mas insistimos também na equidade, na inclusão e no respeito pela nossa soberania digital", destaca.
O ministro alerta ainda para o risco de dominação externa: "As soluções de IA não devem ser desenvolvidas para África por não africanos, sob pena de voltarmos a um colonialismo digital".
IA para o desenvolvimento sustentável
Phoebe Koundouri, professora de Economia na Universidade de Economia e Negócios de Atenas, considera a IA um catalisador para o desenvolvimento sustentável.
"A inteligência artificial tem um enorme potencial para acelerar o progresso rumo aos objetivos de desenvolvimento sustentável, permitindo decisões baseadas em dados, otimizando o uso de recursos e criando soluções inovadoras", considerou, deixando um aviso: "A chave é garantir uma IA responsável e inclusiva, guiada por princípios éticos, valores humanos e acesso equitativo".
Instituições de ensino por toda a África estão agora a oferecer cursos de IA, e os sistemas de aprendizagem estão a evoluir para integrar tecnologias inteligentes.
Amir Dossal, ex-secretário-geral adjunto das Nações Unidas, acredita que África está pronta para liderar. "Nesta corrida global, África não é espectadora; são os disruptores… África tem o poder de alterar dinâmicas ao dar um salto tecnológico sobre modelos ultrapassados e pode reescrever as regras da IA global", afirma. "Não são apenas sonhos. Esta é a próxima realidade de África. Podem oferecer um modelo que inspire outros", conclui.