Oposição, analistas políticos e académicos defendem reformas profundas e a extinção do STAE. Dizem que essa seria a melhor forma de credibilizar os órgãos, depois das denúncias de irregularidades no recenseamento.
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O recenseamento eleitoral em Moçambique, que terminou a 30 de maio, continua a gerar críticas. As queixas constantes de irregularidades durante o processo descredibilizaram as instituições eleitorais moçambicanas, nomeadamente o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) e a Comissão Nacional de Eleições (CNE), dizem especialistas e partidos.
Sebastião da Costa, da RENAMO, o principal partido da oposição, considera que é preciso criar órgãos eleitorais mais credíveis e, para tal, é preciso unificar o STAE e a CNE.
"O STAE, sendo um órgão do apoio da CNE, a partir do STAE central até ao STAE distrital tem de estar juntos na Comissão de Eleições, para a Comissão Nacional de Eleições ter o poder pleno do controle da organização do processo. Mas como o STAE é um órgão que tem dupla subordinação, fica complicado", entende o membro da RENAMO.
Sebastião da Costa considera ainda que "o nível de preparação das eleições deste ano seria melhor do que as eleições anteriores, mas o que se verificou nessas eleições foi que o recenseamento foi pior em relação a todos tipos de recenseamento que tivemos no país."
"O STAE tem que ser desmantelado"
Tendo em conta o nível de queixas e denúncias de irregularidades, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a segunda maior força da oposição, já exigiu que o STAE seja extinguido. Seria uma forma de tornar mais credíveis os órgãos de administração eleitoral.
Como criar órgãos eleitorais credíveis em Moçambique?
José Lobo, deputado desta formação, diz que "o STAE tem que ser desmantelado, tem que ser incorporado na CNE. É um órgão totalmente independente, cometem desmandos e ninguém os sanciona. É lamentável porque a população na Zambézia cresceu e o STAE, ao serviço do partido no poder (FRELIMO), está a criar manobras para a redução do número de eleitores "
Para o académico Lourindo Verde, tornar mais credíveis os órgãos eleitorais em Moçambique significa a despartidarização dos mesmos.
"É um processo que carrega muitos defeitos, que estão a passar de um problema conjuntural para um problema estrutural. Digo isso porque os mesmos problemas de 1992 ainda continuam. Estamos a falar de problemas técnicos e de recursos humanos, encontramos pessoas que não sabem manipular os aparelhos usados.
Diminuir gastos
O especialista Lourindo Verde defende ainda que seria bom ter um único órgão para gerir todos os processos eleitorais: "Muitas vezes atribuímos a culpa à CNE ou ao STAE, não sabemos quem é o culpado do processo. Neste momento temos dois órgãos paralelos e não sabemos, de facto, de onde é que parte o problema da gestão do processo eleitoral."
Para Lourindo Verde "esta seria mais-valia económica, iríamos diminuir as pessoas que estão envolvidas no processo a receber salários, mas todos eles comprometidos ou a gerirem o mesmo processo. Estamos a gastar dinheiro a pagar pessoas da CNE e a pagar pessoas do STAE."
O analista e ativista Carlos Vitorino lembra ao diretor-geral do STAE, Felisberto Naife, que não há cargos vitalícios. E questiona: "Porque é que não pegamos nas várias experiências positivas dos outros países?"
E conta uma experiência: "Em Madagáscar houve uma posição boa nas eleições, foi credível, tudo apreciado. Porque é que não pegamos nisso como uma experiência, termos órgãos credíveis. Temos de aceitar uma reforma. O Felisberto Naife que está lá como diretor, há quanto tempo está lá? Aqui ninguém nasceu vitalício para as instituições."
Campanha eleitoral em Moçambique
A 15 de outubro de 2014, Moçambique realiza eleições gerais - presidenciais, legislativas e provinciais -, no território nacional e a 12 de outubro no estrangeiro. A campanha eleitoral teve início a 31 de agosto.
Foto: DW/J. Beck
Principais candidatos
A 15 de outubro próximo, Moçambique realiza eleições gerais no território nacional e a 12 de outubro no estrangeiro. A campanha eleitoral teve início a 31 de agosto. Os principais candidatos à presidência são Filipe Nyusi (foto), indicado à sucessão de Armando Guebuza pelo partido no poder, a FRELIMO; Afonso Dhlakama, líder do maior partido da oposição, a RENAMO; e Daviz Simango, do MDM.
Foto: picture-alliance/dpa
RENAMO entra com atraso
A campanha eleitoral teve início a 31 de agosto. Mas Afonso Dhlakama, o candidato e líder do principal partido da oposição moçambicana, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), entrou em campanha com um atraso de cinco dias, a 4 de setembro, quando fez o primeiro comício na cidade de Chimoio, capital da província central de Manica. Apoiantes acompanham a caravana no início da viagem a Maputo.
Foto: picture-alliance/dpa
Acordo de paz: condição para a RENAMO
Antes de iniciar a viagem a Maputo para assinar o acordo de paz entre o seu partido e o Governo da FRELIMO, a 5 de setembro, Afonso Dhlakama falou à imprensa (foto). Dhlakama estava refugiado na Gorongosa desde outubro de 2013, depois do seu acampamento em Satunjira, província de Sofala, na região centro, ter sido tomado pelo exército moçambicano.
Foto: picture-alliance/dpa
Dhlakama ovacionado em Maputo
Apoiantes do partido da oposição a caminho do aeroporto da capital, Maputo, para receber Afonso Dlakhama, candidato do maior partido da oposição, RENAMO, à presidência da República. O período tem sido marcado pela violência, mas alguns analistas dizem que em comparação com processos eleitorais anteriores esta campanha decorre melhor.
Foto: DW/L. Matias
Maior aposta é nos cartazes
Uma das maiores apostas de divulgação dos candidatos às eleições de outubro é a propaganda em cartazes. Esta já é uma tradição no país. No entanto, o tamanho dos mesmos varia, de acordo com o orçamento de campanha de cada partido. A propaganda de Daviz Simango, candidato do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a terceira maior força politica do país, pode ser vista na Ilha de Moçambique.
Foto: DW/J. Beck
Tamanho e poder
Outdoor anunciando a candidatura de Filipe Nyusi, candidato do partido no poder, FRELIMO, à sucessão do atual Presidente, Armando Guebuza, em Namialo, no norte de Moçambique. A aldeia fica numa encruzilhada estratégica entre as cidades de Nacala, Pemba e Nampula, o maior círculo eleitoral do país. Os altos investimentos em propaganda refletem a força da FRELIMO na campanha eleitoral.
Foto: DW/J. Beck
Ponto estratégico
Os partidos menores investem nos cartazes, apesar de consideravelmente menores e mais difíceis de serem encontrados. O Partido Independente de Moçambique (PIMO), da oposição, que até 2014 não tinha assentos no Parlamento, escolheu um ponto estratégico para se divulgar: a Avenida Eduardo Mondlane, centro de Nampula, a terceira maior cidade do país. Yaqub Sibind é o candidato do PIMO à presidência.
Foto: DW/J. Beck
Nampula, o maior círculo eleitoral do país
Com mais de dois milhões de potenciais eleitores, a província de Nampula, o maior círculo eleitoral do país, espera eleger 47 deputados e 92 membros para a Assembleia Provincial. Para os candidatos das três maiores forças políticas que concorrem às presidenciais, a região é estratégica para vencer as eleições. Na foto, apoiantes da RENAMO a caminho de um comício de Afonso Dhlakama em Lumbo.
Foto: DW/J. Beck
Comité da FRELIMO em Nampula
Também a FRELIMO investe no maior círculo eleitoral do país. O edifício da sede regional da campanha do partido no poder, localizado no centro de Nampula, tem a fachada coberta por cartazes publicitários do partido no poder e do seu candidato à sucessão presidencial, Filipe Nyusi.
Foto: DW/J. Beck
A propaganda móvel da RENAMO
Outra aposta da RENAMO é na propaganda móvel. Motociclistas com bandeiras do maior partido de oposição de Moçambique circulam pelas principais cidades dos país. Este locomoveu-se no centro de Nampula – um dia antes de o líder e candidato à presidência da RENAMO, Afonso Dhlakama, voltar à terceira maior cidade de Moçambique, após mais de dois anos de ausência.
Foto: DW/J. Beck
Apoiantes da FRELIMO nas ruas
Pelas ruas de todo o país, podem ser vistos também os apoiantes da FRELIMO, o partido no poder. Vendedores ambulantes, no cais do barco que faz a travessia ligando Maputo a Catembe, mostram cartazes e faixas com propaganda do partido e do seu candidato à sucessão de Armando Guebuza, Filipe Nyusi. É notável a supremacia da FRELIMO na propaganda eleitoral em Moçambique.
Foto: DW/J. Beck
Amplo alcance da FRELIMO
As bandeiras da FRELIMO espalham-se até mesmo nos locais mais remotos do país, como neste mercado em Namialo, Nampula, no norte. Onze candidatos presidenciais e 30 partidos, coligações e grupos de cidadãos concorrem às eleições gerais moçambicanas que serão realizadas a 15 de outubro no território nacional e a 12 de outubro no estrangeiro.
Foto: DW/J. Beck
Campanha não está a ser pacífica
Multiplicam-se as denúncias de ilícitos eleitorais, desde a destruição de panfletos a ameaças à população e ofensas aos partidos. O MDM acusou o partido no poder, a FRELIMO, de inviabilizar um comício do seu candidato, Daviz Simango, nos arredores de Maputo, em 24 de setembro. Já a RENAMO queixa-se de estar a ser atacada pelo facto de ter armas. A FRELIMO não respondeu às acusações.
Foto: DW/J. Beck
Denúncias de tortura e violações em Nampula
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) apelou à contenção da violência. No entanto, a 25 de setembro, após confrontos com apoiantes da FRELIMO, sete membros do MDM foram detidos. Dois dias depois, seis deles foram libertados e denunciaram terem sido torturados e violados sexualmente por outros prisioneiros, a mando dos agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM), que negou as acusações.