A Missão das Nações Unidas no Mali conta com participação alemã. O objetivo é estabilizar o país na África Ocidental, que mergulhou numa profunda crise após um golpe militar na Primavera de 2012.
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Desde abril de 2013, já morreram 100 membros da Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas no Mali (MINUSMA) tornando essa missão internacional uma dasmais perigosas do mundo. A crise continua a fazer vítimas entre a população civil, mas os perpetradores são criminosos comuns, e não mais islamistas.
A população não compreende porque os capacetes azuis não intervêm. Ayouba Touré vende bananas, batata doce e mandioca no mercado de Gao e diz que ali "ganha-se o suficiente para sobreviver porque a situação melhorou, embora ainda continue pior do que antes da crise".
Em 2012, diversos grupos extremistas islamitas ocuparam o norte do país, incluindo Gao. No ano seguinte, tropas francesas e malianas reconquistaram a região. Mas os islamitas continuaram a cometer atentados. Um dos seus alvos são os cerca de 11.000 soldados da missão de paz das Nações Unidas, a MINUSMA, que se encontra no Mali para ajudar a estabilizar o país, por exemplo, através de patrulhas regulares.
Esforços insuficientes
Mas para o comerciante Ayouba Touré esses esforços não bastam. Mesmo que as pessoas em Gao se sintam mais seguras, para além dos limites da cidade, a situação é outra. "Para nós comerciantes, a situação é impossível. Somos constantemente assaltados nas estradas. Os atacantes ameaçam-nos e roubam todo o nosso dinheiro. Sofremos muito", diz.
Touré compra frutas e legumes no sul, em Sikasso e, para isso, tem de percorrer mil quilómetros de estradas, consideradas muito perigosas. Muitas pessoas nem se atrevem a levar o telemóvel e o dinheiro, com medo dos assaltos.
De jeans e chinelos, jovens no local buscam garantir mais segurança. E executam exercícios na poeira vermelha do pátio de uma casa, numa aldeia perto de Gao. Entre eles está uma mulher. Ali, quase ninguém possui arma; mas havendo necessidade, diz Mohamed Younessa Touré, arranjam Kalaschnikows. "Quando alguém pega em armas para nos atacar, somos forçados a procurar armas para nos defendermos. Não há outra solução", diz Touré.
Proteção
Touré é o líder político da milícia de Gao de nome "Compus 15". Ele relata que os seus membros, e aqueles de outras milícias, preferiam entregar imediatamente as armas ao Governo e voltar a ser apenas pastores ou comerciantes. Mas não podem; pois ali, nem o exército maliano, nem as tropas internacionais, os protegem.
E essa crítica é comum no Mali. Os capacetes azuis têm um mandado para proteger os civis que estão em perigo direto. Mas a luta contra a criminalidade é do âmbito estatal e não cabe à missão. Younessa Touré e muitos outros malianos não compreendem tal distinção.
Malianos criticam MUNISMA - MP3-Mono
De fato, as pessoas em Gao ainda assim sentem-se abandonadas pelo seu Governo e pelas Nações Unidas e criticam a proliferação de armas no seio da população. "Um civil não tem que ter armas. Se um militar vê um civil com uma arma na mão e não o desarma, então torna-se cúmplice. E, se os soldados não são cúmplices, os seus chefes e o Governo certamente serão", desabafa Touré.
Dakar-Níger: a lenta morte de uma via-férrea
A tradicional ferrovia Dakar-Níger já foi a mais importante artéria de ligação entre os países do Oeste Africano, Senegal e Mali. Mas há décadas, a rota vem sendo ignorada.
Foto: DW/S.Martineau
Todas as rodas paradas
Muitas estações da ferrovia Dakar-Níger, de 90 anos de idade, estão negligenciadas. Esta já foi a mais importante ligação entre as capitais do Senegal e do Mali: Dakar e Bamako. Recentemente, os presidentes dos dois países, Macky Sall e Ibrahim Boubacar Keita, concordaram em reativar a rota. Uma tarefa gigantesca.
Foto: DW/S.Martineau
Grama no lugar de plataformas
A Estação Central de Dakar está localizada no extremo oeste da ferrovia de quase 1.300 quilómetros. Mas há muito tempo, os trens já não transitam aqui. Depois de um grave acidente, o transporte de passageiros foi interrompido em grande parte em 2009. Além disso, o plano de transformar a estação num museu, ainda não foi realizado.
Foto: DW/S.Martineau
Pouco espaço, muita poeira
Todas as noites o Petit Train de Banlieu (ou Pequeno Trem de Subúrbio) percorre um pequeno trecho de 60 quilómetros que separa Dakar de Thiès. Na manhã seguinte, o trem retorna. A viagem pelos subúrbios pobres de Dakar é lenta e tão empoeirada que alguns passageiros usam máscaras de proteção.
Foto: DW/S.Martineau
Kayes vive da ferrovia
Após da fronteira do Mali, fica a cidade de Kayes. No passado, a localidade viveu da ferrovia. Naquela época, dizia-se que cada segundo filho de Kayes trabalhava para a empresa ferroviária. Atualmente, a maioria dos habitantes vai de táxi coletivo, quando quer ir à capital Bamako, a 500 quilómetros de distância.
Foto: DW/S.Martineau
Duração imprevisível
Apenas duas vezes por semana, um trem ainda vai de Kayes a Bamako. De acordo com o plano, a viagem dura 15 horas. Frequentemente, no entanto, há atrasos ou descarrilamento do trem. O fim da antigamente importante via-férrea começou anos atrás.
Foto: DW/S.Martineau
Falta tudo
Sob pressão do Banco Mundial, os governos do Senegal e do Mali tiveram que privatizar a companhia ferroviária, em 2003. Desde a sua fundação, a empresa Transrail mudou várias vezes de proprietário. A condição da linha férrea foi só piorando. De trilhos a plataformas, tudo teria de ser substituído urgentemente, dizem os funcionários.
Foto: DW/S.Martineau
Pouco cliente-amigável
O serviço na bilheteria em Bamako não é uma prioridade da Transrail. Recentemente, a empresa transportou equipamentos do porto de Dakar até o Mali para a Operação Serval, a intervenção militar francesa no norte do Mali. Semelhante ao que aconteceu no início do século XX, quando o poder colonial transportava matérias-primas pelo rio Níger até o porto de Dakar. Por isso, o nome Dakar-Níger.
Foto: DW/S.Martineau
Demora na operacionalização
Frequentemente, os governos do Mali e do Senegal falam do potencial económico da ferrovia. Com investimentos, o comércio entre os países poderia se intensificar significativamente e aliviaria também a rede rodoviária, desgastada pelo trânsito de caminhões. Até agora, esses planos não foram implementados. Segundo novos rumores, investidores chineses estariam interessados na tradicional ferrovia.