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Como políticos afro-alemães lidam com o racismo quotidiano?

Daniel Pelz | kg
12 de maio de 2020

Um ataque a tiros contra o escritório do político de origem senegalesa Karamba Diaby, membro do Parlamento, chocou a Alemanha. Mas raramente os políticos afro-alemães estão em foco. O racismo faz parte do quotidiano.

A chanceler Angela Merkel e Sylvie Nantcha, presidente da Rede Africana da AlemanhaFoto: picture-alliance/AP Photo/M. Schreiber

Pierrette Herzberger-Fofana coleciona pioneirismos. Foi a primeira vereadora afro-alemã e a primeira deputada afro-alemã no Parlamento Europeu. Nascida no Mali, cresceu no Senegal e mudou-se para a Alemanha para fazer o seu doutoramento. Em Erlangen, trabalhou como professora em escolas e na universidade. Entrou para a política há 20 anos.

"Naquela época, havia pessoas entusiasmadas, mas a maioria era muito cética", disse em entrevista à DW. Foi eleita membro do Parlamento Europeu em 2019, aos 70 anos de idade. Pierrette Herzberger-Fofana está engajada em questões que a movem a lutar: educação, desenvolvimento e o fim da mutilação genital feminina.

A deputada afro-alemã é bem vista, sobretudo, entre os eleitores mais jovens. "A geração atual é diferente da de 20 anos atrás. Esta geração aceita muitas coisas que eram estranhas no passado. Uma mulher negra como política não se encaixava na imagem que muitas pessoas tinham noutras épocas", afirma.

Entretanto, os políticos afro-alemães ainda não são tratados com normalidade. "É quando alguém vem e pergunta três vezes: 'Você é um político alemão?'. E a pessoa insiste. É quando alguém pergunta três vezes de onde viemos e quanto tempo vamos ficar aqui. São experiências que nós, políticos, temos e também cidadãos de outras origens", sublinha. No Parlamento Europeu, há apenas cinco mulheres negras. "Cinco mulheres para 500 milhões de cidadãos europeus", lamenta diz Pierrette Herzberger-Fofana.

Pierrette Herzberger-FofanaFoto: European Union 2019/F. Marvaux

Pouco espaço na política

Mais de um milhão de pessoas de origem africana vivem na Alemanha, mas muito poucas estão em cargos políticos. Um nome bem conhecido é da jovem política Aminata Touré, do partido Aliança 90/Os Verdes. É deputada no Parlamento do estado de Schleswig-Holstein e foi eleita em 2019 aos 26 anos de idade como a vice-presidente estadual mais jovem da história alemã. 

No Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão, Karamba Diaby, do Partido Social-Democrata alemão (SPD), é o único deputado afro-alemão entre 709 parlamentares. "Não quero ser famoso por ser negro", disse o deputado de origem senegalesa ao jornal alemão Die Zeit. Raramente, é questionado sobre políticas educacionais, a sua área de especialização.

Racismo diário

Em janeiro, o escritório do deputado Karamba Diaby, na cidade alemã de Halle, foi atacado a tiros. A chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, além de outros políticos alemães, condenaram o ataque.

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Insultos e ameaças vindos da extrema-direita fazem parte da vida quotidiana de Karamba Diaby, de 58 anos, que chegou à antiga República Democrática Alemã (RDA) comunista, como estudante. "Não estamos a viver uma era de raiva, mas de solidariedade e compaixão", declarou o deputado num discurso no Bundestag.

Sylvie Nantcha também teve que lidar com ameaças e hostilidades na sua carreira política. Em 2009, foi eleita para o conselho da cidade de Friburgo, sendo a primeira conselheira da União Democrata-Cristã (CDU) nascida em África. "Decidi que a nossa sociedade é diversa, mas que essa diversidade não se reflete em nossos parlamentos e comités", disse em entrevista à DW. "Sou uma pessoa que gosta de mudar as coisas e vejo esse compromisso político como uma oportunidade para moldar o nosso futuro".

Aos 17 anos, a camaronesa mudou-se para a Alemanha e estudou alemão. Depois, trabalhou na universidade, casou-se e, com o marido, abriu uma empresa de consultoria. Em 2009, tornou-se membro do conselho estadual da CDU em Baden-Württemberg - novamente, a primeira de origem africana. "A reação do público foi absolutamente incrível", lembra. "Um amigo me disse para inserir o meu nome no Google: havia 89 mil entradas".

Sylvie NantchaFoto: picture-alliance/dpa/M. Murat

Persistência

Após dez anos no conselho municipal de Friburgo, Sylvie Nantcha passou a lutar pelas suas crenças políticas como presidente da Rede Africana da Alemanha (TANG), que reúne cerca de 800 associações afro-alemãs. Hoje, assessora o Governo alemão em questões de migração e trabalha em prol da comunidade afro-alemã.

"Estou muito feliz e orgulhosa no meu país natal, a Alemanha, por ter a oportunidade de usar a minha história, a minha experiência e o meu conhecimento para promover esses assuntos", diz.

Mas pondera: "A nossa sociedade tem um problema: o racismo", disse na cimeira sobre integração do Governo alemão, em março. A chanceler Angela Merkel sentou-se ao lado dela. Isto também se aplica à política? A onda racista a atingiu com força total quando foi eleita para o conselho estadual em 2009: cartas ameaçadoras, cartas de ódio e até ameaças de morte. 

"Eu temia muito, especialmente pelos meus filhos", diz Sylvie Nantcha. Eles não estavam mais autorizados a brincar fora de casa, a família mudou-se e o novo endereço residencial permaneceu em segredo.

Njeri Kiyanjui, vereadora da cidade de ReutlingenFoto: Njeri Kinyanjui

Dificuldades

Njeri Kiyanjui é provavelmente a única vereadora alemã que foi entrevistada na televisão queniana durante o horário nobre. Kiyanjui mudou-se para a Alemanha em 1983. Aos 20 anos, estudou economia em Berlim e Tübingen. Apesar da formação universitária, a queniana não conseguiu encontrar um emprego, então passou a trabalhar como freelancer. Com a sua empresa Hottpott-Saucesmanufaktur, vende chutney, pastas e compotas caseiras.

Em 2014, entrou para o conselho da cidade de Reutlingen, pelo partido Aliança 90/Os Verdes, como a primeira conselheira a nascer fora da Europa. Agora, faz parte do Conselho de Integração e da Comissão de Assuntos Económicos e Financeiros. "Tenho muitas habilidades. Sou percebida como alguém que não está lá apenas para promover a integração, mas que pode atuar em várias áreas. Afinal, sou empreendedora e vejo muitas coisas de maneira diferente", afirmou à DW.

Como afro-alemã, Njeri Kiyanjui tem uma visão diferente da política local? Quando perguntada, riu: "Eu moro aqui há muito tempo. Não levanto de manhã e penso: 'Eu sou africana, como vão me levar a sério?'. Tenho a minha agenda na cabeça, o que eu quero mudar". O seu desejo para o futuro: "Muitos migrantes têm medo de entrar para a política. Eu espero que eles se envolvam mais nos assuntos políticos. A política na Alemanha afeta todas as fases da vida de todos que moram aqui. Do berço ao túmulo".

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