1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Como reintegrar atingidos pelo conflito em Cabo Delgado?

10 de fevereiro de 2023

Novo estudo alerta para os perigos da ausência do Estado nas áreas onde as populações começaram a regressar em Cabo Delgado. Analistas pedem mais intervenção e aposta em infraestruturas básicas.

Foto: Camille Laffont/AFP/Getty Images

Segundo o estudo, lançado na última quinta-feira (08.02), em Maputo, o Estado está ausente nos locais de retorno das populações vítimas da violência armada em alguns distritos das províncias de Cabo Delgado, Niassa e Nampula, no norte de Moçambique. 

A investigação indica ainda que nessas zonas, onde as populações estão agora a regressar, há sérios riscos de os terroristas se aproveitarem desta ausência do Estado.

Segundo o diretor executivo do Instituto de Desenvolvimento Social e Económico (IDES) Fidel Terenciano, os terroristas desenvolvem campanhas de desinformação para granjear simpatias das populações.

O conflito no norte de Moçambique já deslocou cerca de um milhão de pessoasFoto: DW

Contranarrativa

"Há uma contranarrativa que se constrói diariamente nos centros de deslocados. Depois do discurso público que o Presidente da República ou ministros trazem, há, no mesmo dia, uma reunião nessas bases para fazer uma contranarrativa", explica o analista.

"Essa contranarrativa cria dificuldades e faz com que as pessoas que retornam às suas zonas de origem comecem a olhar para o Estado como 'padrasto'", diz.

Além disso, a propaganda terrorista alimenta-se da falta de condições básicas nos locais de retorno, acrescenta o presidente da Associação dos Juízes de Moçambique, Carlos Mondlane.

"É importante que o Estado afirme o seu papel, que esteja presente e que, acima de tudo, controle as narrativas", diz.

Segundo o analista, se narrativas não são acertadas, há o risco de o próprio Estado não ser compreendido e, com isso, dar-se mais créditos aos insurgentes.

Forças militares do Ruanda e de outros países africanos destacadas em julho de 2021, após anos de ataques jihadistas, ajudaram Moçambique a retomar o controlo de grande parte da provínciaFoto: Camille Laffont/AFP/Getty Images

Estado mais presente?

Por outro lado, explica Mondlane, a presença do Estado constrói-se com o fornecimento de alimentos e infraestruturas básicas, pois, de contrário, "os próprios terroristas fazem uso da sua condição para se afirmarem no lugar do Estado, quando esse último não é capaz de prover", acrescenta.

Um outro problema é que as pessoas que regressam às suas zonas de origem sentem-se inseguras, lembra o diretor executivo do IDES, Fidel Terenciano.

"Ao mesmo tempo em que as pessoas pensam em retornar, entendem que ainda não há segurança. Por outro lado, [também] entendem que, quando retornarem, não estarão em condições de encontrar nesse local de origem o essencial para a vida - a habitação, a água, a alimentação e tudo isso", conclui.

Nesta quinta-feira (09.02), a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou um relatório que descreve vários exemplos de violência perpetrada por grupos ligados ao Estados Islâmico em África, incluindo uma série de ataques em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, que provocaram a deslocação de mais de 160 mil pessoas em junho e julho de 2022.