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As relações entre Alemanha e África após a era Merkel

Daniel Pelz
27 de agosto de 2021

Encontro entre Angela Merkel e líderes africanos avalia o futuro das relações entre Alemanha e o continente africano. Houve evolução significativa em aspetos económicos nos últimos anos, mas há incertezas para o futuro.

Deutschland Compact with Africa Initiative in Berlin
Foto: Getty Images/AFP/J. Macdougall

Uma era está a chegar ao fim no âmbito das relações entre Alemanha e África esta sexta-feira (27.08). A chanceler alemã Angela Merkel encontra-se com chefes de Estado africanos na conferência "Compact with Africa" – que será parcialmente presencial.

A avaliação geral é que houve evolução no papel desempenhado por África na política alemã ao ponto de chegar a um nível nunca atingido.

O "Compact with Africa" é um projeto de prestígio na presidência alemã do G20, que resultou em investimentos privados de magnitude inédita a fluir para África. O Governo alemão estimulou empresas do país com um pacote de medidas de apoio a África.

A cimeira de Berlim deve, portanto, fazer um balanço. Do lado alemão, os resultados são positivos porque há mais empresas alemãs ativas em África, especialmente pequenas e médias.

"Assistimos a um crescimento significativo em 2018 e 2019, antes da pandemia de Covid-19", explica Christoph Kannengießer, diretor executivo da Associação Africana de Empresas Alemãs [Afrikaverein der deutschen Wirtschaft].

Ouattara definiu iniciativa como "Plano Merkel"Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler

Impressões africanas

Os chefes de Estado africanos são também susceptíveis de ter palavras amáveis ao despedirem-se. Contudo, não resta muito do entusiasmo sobre o "Plano Merkel" - como o Presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, o apelidou no início de 2017.

"Quando olho hoje para os países africanos em comparação com quando a chanceler fez estas declarações, não tenho a certeza de que a atividade económica alemã tenha aumentado significativamente", é a avaliação de Olumide Abimbola, director da think tank africana APRI, em Berlim.

Em certo sentido, ambos os lados têm razão. De 2017 a 2019, os investimentos alemães em África aumentaram em cerca de 1,57 mil milhões de euros. Um aumento bastante moderado. O continente continua a receber apenas 1% de todos os investimentos alemães em todo o mundo.

Ainda não há números disponíveis para 2020, mas devido à pandemia é provável uma estagnação ou, na melhor das hipóteses, que cresça ligeiramente. A maioria das empresas alemãs ainda não acha África atraente, há 884 empresas a investirem no continente em 2019 - 42 a mais do que em 2017.

Os resultados não são tão entusiasmantes, apesar dos numerosos programas de apoio lançados pelo Governo de Merkel – como o fundo de investimento, mais serviços de consultoria para empresas e melhores seguros e garantias.

Kannengießer: "Houve crescimento significativo em 2018 e 2019"Foto: picture-alliance/dpa/Afrika-Verein/A. Koroll

Medidas para melhorar

A Africa Association of German Business acredita que os instrumentos precisam de ser ainda mais alargados: "Trata-se particularmente de reduzir os riscos e facilitar o financiamento. Mas trata-se também, mais uma vez, de reforçar significativamente a presença da política alemã no continente africano", diz Kannengießer.

Do lado africano, há outras opiniões que nem sempre são lisonjeiras. Atrás de portas fechadas, os diplomatas africanos queixam-se de que as empresas alemãs são demasiado tímidas, embora os seus concorrentes estejam a fazer bons negócios em África.

A verdade é que, em muitos países, não há clientes suficientes para os produtos alemães de alta qualidade. Cerca de dois terços de todas as vendas alemãs e uma grande parte dos investimentos são feitos na África do Sul, que é comparativamente rica.

Encontro de Merkel com o Presidente senegalês Macky Sall, em BerlimFoto: picture-alliance/dpa/Bernd von Jutrczenka

E depois das eleições?

Também não é claro quem irá beneficiar com os investimentos. "Temos de garantir que os investimentos em África também cumpram a sua promessa: que sejam criados empregos, que a economia cresça, que haja desenvolvimento sustentável", diz Abimbola. O Governo alemão também está a prometer isto.

Críticos, contudo, dizem que muitos programas de apoio não obrigam as empresas participantes a ter padrões sociais mínimos. A seleção dos países que fazem parte do programa "Compact with Africa" também é controversa: embora apenas os chamados países orientados para reformas devam aderir, Estados autoritários como o Ruanda e o Egipto também estão incluídos. A Etiópia é também ainda membro, apesar do conflito sangrento na região do Tigray.

Na reunião desta sexta-feira, os chefes de Estado africanos irão provavelmente fazer uma pergunta importante à ainda chanceler: O que vai acontecer depois das eleições alemãs? Para além de Angela Merkel, já se sabe que o ministro do Desenvolvimento Gerd Müller também sairá do novo Governo. Isto significa que os dois arquitetos mais importantes da nova política alemã para África estarão fora do jogo.

Merkel tem estado muito empenhada em África, segundo o representante empresarial Kannengießer: "Esperamos que os futuros ministros da Economia e dos Negócios Estrangeiros se desloquem cada vez mais a África com delegações empresariais, mas também apoiem projetos concretos com uma assessorai política adequada".

Não há definições sobre quem assumirá os cargos governamentais em Berlim no segundo semestre e quanta atenção o novo Governo alemão prestará a África em tempos de alterações climáticas e da pandemia de Corona.

Alemães interessados em negócios com África

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