Seis meses depois da primeira-ministra britânica começar oficialmente as negociações sobre o Brexit, o mundo está mais perto de saber como serão as relações afro-britânicas.
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A saída do Reino Unido da União Europeia (UE) está marcada para 29 de março de 2019, dois anos após o início do processo chamado Brexit. Há cerca de 15 meses, a Grã-Betanha vem negociando os detalhes de sua saída do bloco.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, fez um grande discurso em Florença, na Itália, a 22 de setembro, em que reafirmou sua crença de que a Grã-Bretanha pode atingir um acordo que conceda às empresas britânicas acesso especial aos mercados europeus, ao mesmo tempo em que oferece ao Reino Unido flexibilidade suficiente para moldar seu próprio futuro, independente da UE. Empresas e líderes africanos também já se preparam para a eventual saída do Reino Unido da UE.
O diretor-gerente da FTI Consulting, empresa de consultoria de negócios com sede em Londres, Joel Kibazo, afirma que alguns governos africanos estão a começar a observar como suas relações irão funcionar com o Reino Unido.
"Vi alguns representantes de governos africanos em Londres, nas últimas duas semanas, a conversar com o Departamento de Comércio do Reino Unido para ver em que ponto se encontram".Um aspecto do acordo final do Brexit que é de particular interesse para África é se a Grã-Bretanha sairá ou nao da união aduaneira da União Europeia.
Brexit - MP3-Stereo
Isso se tornaria inevitável se a UE não conceder flexibilidade suficiente ao Reino Unido, sugere Emma Wade-Smith, comissária Comercial do Reino Unido para África. "O Governo do Reino Unido deixou claro que quer ter a capacidade de fazer seus próprios acordos comerciais e, se isso significa deixar a união aduaneira, então é isso que terá que acontecer", completou.
Realidade para a África
Do ponto de vista africano, a retórica dos políticos britânicos de um Reino Unido global, que estabelece novas relações com o resto do mundo, incluindo África, só é significativa se a Grã-Bretanha sair da união aduaneira e se livrar da dependência da Comissão Europeia, defende Max Jarrett, diretor-chefe do Secretariado do Painel de Progresso de África, uma fundação que advoga pelo desenvolvimento sustentável e equitativo para África.
"Os únicos benefícios económicos do Brexit que posso ver para os Estados Africanos seriam se a Grã-Bretanha dissesse que iria rever os Acordos de Parceria Económica. Pelo contrário, não faz diferença se eles estão dentro ou fora da UE”.Para Jarrett, se os países africanos trabalharem coletivamente, eles têm a oportunidade de chegar a um acordo futuro com o Reino Unido que evite que os dois lados sejam prejudicados, ao contrário dos acordos de comércio existentes entre África e a União Europeia, o que seria injusto de acordo com o especialista.
"As políticas da UE têm sido prejudiciais a África e suas tentativas de alcançar um comércio livre pan-africano, quando a UE tenta assinar acordos económicos país por país, ao invés de envolver a União Africana na EU”.
Países africanos fortalecidos?
Max Jarrett ainda acredita que o Brexit poderia permitir que os países africanos negociassem com um Reino Unido enfraquecido e, portanto, em condições equitativas.
"A Grã-Bretanha tem que ser muito construtiva em criar novas relações comerciais com África, enviando sinais de que está disposta a entrar em discussões que deixam os Acordos de Parceria Económica e passam para o ganha-ganha”.
O executivo do Painel de Progresso de África acredita que o Reino Unido deve comprometer-se a reescrever os Acordos de Parceria Económica (APE), que considera como a fonte da exploração económica africana.
2016 em imagens: O que moveu África?
Entre o terror, a democracia e a imprevisibilidade, o ano no continente africano fica marcado por momentos de viragem. Acompanhe a DW África nesta viagem pelos acontecimentos mais marcantes de 2016.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Terror imprevisível
A África Ocidental ainda recuperava de um ataque a um hotel em Bamako, no Mali, quando os extremistas islâmicos voltaram a atacar: a 15 de janeiro, dezenas de pessoas morreram num atentado da Al Qaida no Magrebe Islâmico num hotel em Ouagadougou, no Burkina Faso. O cenário repete-se em março, com cerca de 20 mortos num ataque à estância balnear de Grand Bassam, na Costa do Marfim (na foto).
Foto: Getty Images/AFP/S. Kambou
Reconhecimento do genocídio
Depois de vários anos de indefinição e após a resolução sobre a Arménia no Parlamento alemão, Berlim classifica também como genocídio a morte de dezenas de milhares de pessoas Nama e Herero na Namíbia, no período colonial. Mantêm-se as divergências entre os dois países sobre reparações. As negociações são adiadas para 2017. Na foto: manifestantes na Namíbia lembram os crimes do passado colonial.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Gebert
Todos contra o TPI
Depois do julgamento do Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, o Tribunal Penal Internacional chega a um impasse também no processo contra o seu vice, por falta de provas. Na União Africana, Kenyatta relança a campanha anti-TPI. Com sucesso: o Burundi, a Gâmbia e a África do Sul anunciam que vão abandonar o TPI. No entanto, enquanto forem membros, têm de continuar a cooperar com Haia.
Foto: Getty Images/AFP/M. Beekman
Ex-ditadores não são intocáveis
De Kenyatta, no Quénia, a Al-Bashir, no Sudão: os chefes de Estado são os pesos pesados na mira do TPI. A condenação do ex-ditador do Chade, Hissène Habré (na foto), em maio, lança um aviso a outros ditadores da região. Habré é condenado a prisão perpétua e a decisão parte de um tribunal especial no Senegal, criando-se a estrutura para julgar outros ditadores no futuro, sem depender do TPI.
Foto: picture-alliance/dpa
Herança cultural não deve ser subestimada
Em 2012, extremistas islâmicos destruíram a mesquita de Sidi Yahya, em Tombuctu. Só a restauração da porta demorou cinco meses. Em setembro de 2016, a mesquita é reaberta - um sinal de esperança para o Mali. O julgamento no Tribunal Penal Internacional também serve de aviso: Ahmad Al Mahdi é condenado em outubro a nove anos de prisão pela destruição de património mundial.
Foto: Getty Images/AFP/S. Rieussec
Braços cruzados podem custar vidas na Etiópia
No Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, após cruzar a meta da maratona, o etíope Feyisa Lilesa protesta com os braços cruzados. Na Etiópia, o gesto de oposição ao regime é perigoso. Em outubro, em Bishoftu, a polícia dispersa um protesto e dezenas de pessoas morrem num tumulto. O grupo étnico Oromo diz-se marginalizado pelo Governo da Frente Democrática Revolucionária Popular da Etiópia (EPRDF).
Foto: picture-alliance/AP Photo
"Meninas de Chibok": a persistência compensa
Depois de dois anos e meio de incerteza, os pais de 21 alunas sequestradas em Chibok recebem as suas filhas de volta, em outubro. É o resultado das negociações do Governo da Nigéria com os extremistas islâmicos do Boko Haram. No entanto, quase 200 meninas continuam detidas. O Executivo de Muhammadu Buhari garante que vai libertar as estudantes que permanecem em cativeiro.
Foto: Picture-Alliance/dpa/EPA/STR
#ThisFlag: desafiar o poder
Com o seu movimento #ThisFlag ("Esta Bandeira"), o pastor Evan Mawarire torna-se a cara da contestação popular no Zimbabué. Mas Robert Mugabe anuncia que pretende recandidatar-se à Presidência em 2018 e continua a reprimir protestos. Na República Democrática do Congo, as eleições são adiadas e Joseph Kabila tenta manter-se no poder até 2018, contra a Constituição.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T.Mukwazhi
Polémicas não demovem chefes de Estado
É "o Presidente dos escândalos" na África do Sul: acusações de violação e negação do HIV marcam os mandatos de Jacob Zuma, no poder desde 2009, juntamente com a restauração milionária da sua residência com fundos públicos. Mas Zuma mantém-se no poder, mesmo depois da divulgação de um relatório que levanta uma série de suspeitas de ligações entre a Presidência e a influente família indiana Gupta.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Presidenciais surpreendentes
Em Cabo Verde e no Benim, os cidadãos apostam na continuidade. Mas em outros países, como no Gana, vence a oposição: John Mahama aceita a vitória de Nana Akufo-Addo e promete uma transição pacífica. Na Gâmbia, o cenário parece, à partida, semelhante: Adama Barrow (na foto) vence as eleições. Após 22 anos no poder, Yahya Jammeh admite a derrota. Mais tarde, Jammeh recua e rejeita os resultados.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Adeus a Papa Wemba
Com 66 anos, "o rei da rumba congolesa" morre em abril,depois de perder os sentidos num concerto em Abidjan, na Costa do Marfim, tal como Miriam Makeba, oito anos antes. O mundo despede-se de um músico que dizia que não fazia música congolesa ou africana, "apenas música".