Comores: Presidenciais com incidentes em várias zonas
AFP | Reuters | Lusa | tms
24 de março de 2019
Vários incidentes foram registados este domingo (24.03) durante a realização das eleições presidenciais nas Ilhas Comores. Presidente Azali Assoumani tenta reeleição, mas oposição ameaça não reconhecer o pleito.
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Pelo menos 300 mil eleitores foram chamados às urnas para votar este domingo nas presidenciais das Ilhas Comores. Na disputa, o atual Presidente Azali Assoumani procura a reeleição frente a onze candidatos opositores.
Durante a campanha eleitoral, Azali Assoumani repetiu várias vezes que planeava ser reeleito na primeira volta das eleições, o que levantou fortes suspeitas de fraude por parte da oposição.
Após a abertura das 731 assembleias de voto deste arquipélago, no norte do canal de Moçambique, às 08h locais a oposição relatou graves irregularidades nas Ilhas Anjouan, na sua maioria hostis ao Presidente, e Mohéli.
Um funcionário da Comissão Eleitoral confirmou à agência de notícias France Press que uma dúzia de assembleias de voto em Anjouan foram saqueadas.
Apoiantes dos partidos da oposição relatam que os incidentes estão relacionados com a proibição de entrada nas assembleias de voto dos delegados dos vários partidos.
"Golpe de Estado"
"Nunca vou reconhecer os resultados", disse aos jornalistas Mahamoudou Ahamada, candidato do partido Juwa. Outro candidato disse que está a acontecer "um verdadeiro golpe".
"Nós candidatos declaramos o atual Governo ilegítimo... Convocamos o povo a resistir e se mobilizar contra ele", disse à Reuters a chefe da União do grupo de oposição, ex-vice-Presidente Soihili Mohamed, na ilha de Moroni.
Presidente minimiza incidentes
Azali Assoumani confirmou, mas minimizou os incidentes registados nas assembleias de voto depois de votar em uma escola em Mitsoudje, na ilha principal. "Já me disseram que houve alguns problemas - não é uma surpresa", disse Azali.
"Estávamos conscientes durante a campanha de que algumas pessoas não estavam lá para ganhar, mas para evitar que a votação acontecesse. A situação está sob controlo", disse ele, acrescentando que está "confiante" em vencer.
Estas presidenciais constituem um teste aos novos moldes democráticos no arquipélago. As eleições são encaradas pela União Africana como "essenciais para a estabilidade e consolidação da democracia no arquipélago".
Desde a sua independência de França, em 1975, as Comores já experienciaram mais de 20 golpes de Estado ou tentativas de golpe de Estado.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.