Comunidade internacional aprova apoio financeiro e militar à RCA
20 de janeiro de 2014 A comunidade internacional decidiu desbloquear 496 milhões de dólares (cerca de 365 milhões de euros) para ajudar a República Centro-Africana (RCA) em 2014. O anúncio foi feito por representantes da União Europeia (UE) e Nações Unidas (ONU) nesta segunda-feira (20/01).
Bruxelas também liberou o envio de um contingente de mil homens para a RCA a fim de apoiar o contingente francês e das Nações Unidas, que já estão no território. O país vive um conflito étnico e religioso que está fora de controle.
O Parlamento centro-africano elegeu também nesta segunda-feira Catherine Samba-Panza para o cargo de Presidente do país. Trata-se da primeira mulher a ocupar o cargo. Na sua primeira manifestação como autoridade máxima da República Centro-Africana, Panza lançou um vibrante apelo para o cessar-fogo.
"A partir de hoje, sou a Presidente de todos os centro-africanos sem excepção e, por isso, lanço um apelo para que apoiem a reconstrução da nossa querida pátria", disse,
Samba-Panza sucede a Michel Djotodia, forçado a demitir-se a 10 de Janeiro pela sua incapacidade em por fim à violência religiosa depois de ter derrubado, em Março de 2013, o regime de François Bozizé. Segundo o calendário de transição, as eleições gerais na RCA deverão ser organizadas no primeiro semestre do próximo ano.
Mobilização internacional
Os países doadores reunidos em Bruxelas decidiram iniciar uma mobilização para acabar com a crise humanitária na RCA. Conforme Kristalina Georgieva, comissária europeia para ajuda humanitária, trata-se de uma crise que "foi, durante muito tempo, esquecida".
O montante de 365 milhões de euros irá cobrir cerca de 90% das necessidades humanitárias para 2014 e 100% do plano de urgência dos três primeiros meses.
A tónica será posta imediatamente no apoio a mais de 900 mil pessoas deslocadas dentro do próprio país – o que representa 20% da população. A ONU considera que mais da metade dos 4,6 milhões de centro-africanos necessitam urgentemente de ajuda concreta.
No âmbito do apoio militar, a UE definiu o início de uma operação militar do bloco na RCA em apoio às forças africana e francesa. O estado-maior da UE deve agora elaborar uma lista de necessidades e definir com os Estados membros como contribuir para essa missão.
O efetivo militar deve ajudar as forças africana e francesa a manter a segurança na capital, Bangui, nomeadamente na região do aeroporto. Trata-se da primeira operação militar de importância da UE nos últimos seis anos.
"Os ministros, os governos e também as instituições europeias compreenderam o drama que acontece naquele país africano. Se é muito tarde, isso é discutível, mas deve-se ter em consideração a realidade vivida", disse o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, ao serviço francês da DW.
Para Schulz, ao agirem em conjunto no quadro deste drama, os interesses heterogéneos dos Estados membros europeus vão permanecer. "É preciso que se ponha fim à ideia de que a UE é incapaz de agir e, ao mesmo tempo, negligenciar que a razão para isso são interesses particulares dos Estados membros. Caso contrário, isso pode descredibilizar o projecto europeu.
Apoio alemão
As modalidades da instalação do plano ainda estão em discussão. Os dirigentes europeus esperam obter esta semana um mandato do Conselho de Segurança da ONU a fim de enviar os primeiros soldados até finais de fevereiro.
A força europeia será estacionada nas imediações de Bangui e deverá permanecer no terreno durante seis meses antes de passar o controle para a União Africana.
Somente a Estónia já anunciou a disponibilidade para enviar tropas, enquanto a Lituánia, Eslovénia, Finlândia, Bélgica, Polónia e Suécia fazem parte dos outros países que analisam a ideia de fornecer soldados.
Alemanha, Grã Bretanha e Itália anunciaram que não enviarão tropas, mas Berlim enviará aviões de transporte e de abastecimento. "Demos o nosso apoio no Mali, onde a situação na verdade é menos tensa, mas ainda não solucionada. Penso que, do ponto de vista alemão, poderemos ser ali mais úteis do que na RCA", explicou o chefe da diplomacia alemã, Frank-Walter Steinmeier.
A força africana mandatada pela ONU (Misca) conta com 4.500 homens. O efetivo deve atingir os 6 mil, com militares oriundos de outros países da África central.