Comunidade internacional critica EUA por rutura com OMS
mjp | com agências
30 de maio de 2020
"Um sério revés para a saúde mundial", "um golpe no cimento da interação na saúde", "reviravolta infeliz": comunidade internacional reage à decisão do Presidente Donald Trump de abandonar Organização Mundial de Saúde.
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A rutura de Washington com a Organização Mundial da Saúde (OMS) é um "sério revés para a saúde mundial", alertou este sábado (30.05) o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn. Na África do Sul, o seu homólogo Zweli Mkhize fala numa "reviravolta infeliz". Na Rússia, o Ministério das Relações Exteriores acusa Washington de desferir "um golpe no cimento da interação na esfera da saúde".
A OMS ainda não se pronunciou, mas multiplicam-se as críticas da comunidade internacional após a decisão do Presidente dos EUA, Donald Trump, de cortar laços com a agência da Organização das Nações Unidas, que acusou de ser inapta na gestão da pandemia de Covid-19.
Na sexta-feira, Donald Trump alegou que a OMS não soube responder de forma eficaz ao seu apelo para introduzir alterações no modelo de financiamento, depois de já ter ameaçado cortar o financiamento à organização da ONU, acusando-a de ser demasiado benevolente com o Governo chinês.
Pequim tem negado de forma veemente as alegações norte-americanas de que a China minimizou ou mesmo encobriu a ameaça do vírus depois de esta ter sido detectada na cidade de Wuhan, em dezembro, garantindo que tem sido transparente.
União Europeia pede recuo
Entretanto, a União Europeia instou este sábado os Estados Unidos a recuarem na decisão, para evitar um "enfraquecimento dos resultados internacionais" no combate à Covid-19, anunciando a mobilização de verbas adicionais.
"Face a esta ameaça global [que é a Covid-19], chegou o momento de reforçar a cooperação e de encontrar soluções comuns. Devem ser evitadas ações que enfraqueçam os resultados internacionais e, neste contexto, instamos os Estados Unidos a reconsiderarem a sua anunciada decisão", frisam a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o Alto Repres.
Para estes responsáveis, "a cooperação e a solidariedade globais através de esforços multilaterais são as únicas vias eficazes e viáveis para vencer esta batalha que o mundo enfrenta", razão pela qual sustentam que "a OMS precisa de continuar a ser capaz de liderar a resposta internacional às pandemias, atuas e futuras".
"Para tal, a participação e o apoio de todos é necessária e muito necessária", vincam.
Na declaração, Ursula von der Leyen e Josep Borrell assinalam ainda que, "enquanto o mundo continua a combater a pandemia de Covid-19, a principal tarefa de todos é salvar vidas e conter e mitigar esta pandemia".
"A UE continua a apoiar a OMS nesta questão e já disponibilizou financiamento adicional", anunciam. Ainda assim, os altos responsáveis da UE consideram ser necessária uma "avaliação da resposta global", uma vez que "há ensinamentos a retirar desta pandemia, do seu surto e da resposta que lhe é dada".
Redirecionar fundos em tempos de pandemia
No início deste mês, o Presidente norte-americano já tinha feito um ultimato à OMS, ameaçando cortar a ligação à organização se não fossem feitas reformas profundas na sua estrutura e no seu 'modus operandi'. Nessa altura, Trump suspendeu temporariamente o financiamento à OMS, no valor que está estimado em cerca de 400 milhões de euros anuais, o que corresponde a 15% do orçamento da organização.
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02:19
Esta sexta-feira, Trump tornou a decisão permanente: "Porque eles falharam em fazer as reformas necessárias e requeridas, terminamos o nosso relacionamento com a Organização Mundial de Saúde e iremos redirecionar os fundos para outras necessidades urgentes e globais de saúde pública que possam surgir", disse aos jornalistas.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 362 mil mortos e infetou mais de 5,8 milhões de pessoas em 196 países e territórios. Os Estados Unidos são o país com mais mortos - mais de 102.201 - e mais casos de infeção confirmados (mais de 1,7 milhões).
"Certamente, quando confrontados com uma pandemia grave, queremos que todas as nações do mundo estejam particularmente focadas num inimigo comum", disse aos jornalistas o ministro sul-africano da Saúde Zweli Mkhize, este sábado, lamentando a decisão do Presidente norte-americano.
O Ministério das Relações Exteriores russo reagiu na mesma linha: "Quando o mundo precisa de consolidar esforços na luta contra a pandemia, Washington desfere um golpe no cimento da interação na esfera da saúde", afirmou a porta-voz Maria Zajárova, citada pela agência Interfax. A representante da diplomacia russa questionou ainda o que vão os Estados Unidos da América dar em troca desta decisão de saída da OMS.
Também este sábado, numa mensagem divulgada no Twitter, o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, descreveu a rutura de Washington com a Organização Mundial da Saúde como um "sério revés para a saúde mundial", defendendo que agora a União Europeia precisa "comprometer-se mais" financeiramente. O governante alemão aproveitou ainda para salientar a necessidade de reformar a instituição das Nações Unidas.
Donald Trump: Populista, empreendedor, Presidente
Donald Trump é empreendedor imobiliário e estrela de televisão. Muitos não o levavam a sério. Mas ele venceu as eleições e, a partir de 20 de janeiro de 2017, será o 45º Presidente dos Estados Unidos da América (EUA).
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A família, o seu império
Trump com a sua família: a esposa, Melania (de branco), as filhas Ivanka e Tiffany, os filhos Eric e Donald Junior, e os netos Kai e Donald Junior 3º. Os filhos são "vice-presidentes seniores" do conglomerado Trump.
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Frederick Junior, o pai
Donald Trump herdou o dinheiro para os seus investimentos do pai, Frederick, que lhe deu um capital inicial de um milhão de dólares. Após a sua morte, em 1999, Donald e os seus três irmãos herdaram uma fortuna de 400 milhões de dólares.
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Capitão Trump
Quando tinha 13 anos, o seu pai enviou Trump para um internato militar em Cornwall-on-Hudson, onde deveria aprender a ser disciplinado. No último ano, ele obteve inclusive uma patente militar. Ele diz que, ali, recebeu mais treinamento militar do que nas Forças Armadas americanas.
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"Very good, very smart"
"Muito bom, muito inteligente", é o que Trump diz de si mesmo. E acrescenta que cursou a escola de elite Wharton (foto), da Universidade de Pensilvânia, na Filadélfia, onde se formou em 1968. É uma das oito universidades integrantes da Ivy League, as universidades mais prestigiadas dos EUA. Mesmo assim, sabe-se pouco sobre o percurso de Trump na faculdade.
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Dispensado da Guerra do Vietname
Devido a um problema no calcanhar, Trump foi dispensado e não lutou na Guerra do Vietname. Na guerra, morreram cerca de 58 mil soldados dos Estados Unidos e aproximadamente três a quatro milhões de vietnamitas dos dois lados, além de outros dois milhões de cambojanos e laocianos.
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Ivana, a primeira esposa
Em 1977, Trump casou-se com a modelo tcheca Ivana Zelníčková, com quem teve três filhos. O relacionamento foi acompanhado de rumores sobre relacionamentos extraconjugais. Foi Ivana quem apelidou Trump de "The Donald".
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Anos 80: Abertura do Harrah's at Trump Plaza
Esta foto, tirada em 1984, marca a abertura do Harrah's at Trump Plaza, um complexo envolvendo hotel, restaurante e casino em Atlantic City (Nova Jérsia). Este foi um dos primeiros investimentos que tornaram Trump bilionário.
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Família número 2
Em 1990, Trump divorciou-se de Ivana e casou-se com Marla, 17 anos mais jovem que ele. A filha do casal se chama Tiffany.
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As meninas de Trump
Em público, Trump não aparece só ao lado de sua esposa. Ele costuma acompanhar concursos de beleza ao lado de jovens modelos. De 1996 a 2015, ele foi o responsável pelo concurso de Miss Universo ("Miss Universe") nos EUA.
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Livro muito lido e vendido
Como fazer milhões de forma rápida? O best-seller de Trump "A arte da negociação" é um exemplo. O livro é em parte autobiográfico, em parte um livro de dicas para empresários ambiciosos. A publicação não foi somente uma das mais vendidas nos EUA, como também colocou Trump no centro das atenções no país.
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O nome é a marca
Trump investe de forma agressiva, mas também sofre fracassos. Numa perspectiva de longo prazo, no entanto, obtém sucesso, como por exemplo com a Trump Tower em Nova York. Ele calcula a sua fortuna hoje em 10 bilhões de dólares. Especialistas, entretanto, consideram um terço desse valor mais realista. Portanto, cerca de 3 bilhões de dólares.
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"The Donald" no ringue
Como poucos, Trump consegue chamar a atenção dos mídia. Seu campo de ação inclui até um ringue de luta livre. No seu programa de TV "O Aprendiz" ("The Apprentice"), os candidatos eram contratados ou demitidos. A primeira edição foi ao ar durante o ano de 2004 na cadeia televisiva NBC. A frase favorita de Trump no programa era "Você está demitido!"
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Ascenção rápida de Trump na política
Em 16 de junho de 2015, Trump anunciou a candidatura para a corrida presidencial pelo Partido Republicano. O seu slogan foi: "Faça a América grande outra vez" ("Make America great again"). A campanha foi feita ao lado da família e com slogans contra imigrantes, muçulmanos, mulheres e adversários políticos. Investiu muito nos mídia sociais como o Twitter onde tem 13,8 milhões de seguidores.
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45º presidente dos Estados Unidos da América
A partir do dia 20 de janeiro de 2017, o populista e showman será o novo Presidente dos Estados Unidos. No início da campanha, poucos pensavam que poderia vencer as eleições do dia 8 de novembro de 2016 contra a candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton. Mas a história de Donald J. Trump também mostra que este homem tem a capacidade de se transformar como um camaleão.