Comunidade internacional hesita em intervir no Mali
27 de setembro de 2012 O Xeque Modibo Diarra estava visivemente nervoso quando subiu ao pódio para discursar perante a Assembleia Geral das Nações Unidas. Foi com um tremor na voz que o primeiro-ministro do Mali declarou que o seu país precisa de ajuda internacional. Diarra pediu a autorização de uma intervenção de tropas estrangeiras para, como afirmou, libertar o norte do Mali dos grupos radicais islâmicos: "Requeremos uma resolução do Conselho de Segurança para o envio de uma tropa de intervenção internacional. Queremos que participe quem quiser e puder ajudar a restabelecer a integridade territorial do Mali".
Mas Diarra vai ter que pacientar. É certo que o seu governo já chegou a um acordo com a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) sobre um envio de mais de 3 mil soldados para Bamako, de modo a assistir as tropas malianas a reconquistar o norte.
Mas o Conselho de Segurança da ONU hesita em autorizar a intervenção. O secretário geral das Nações Unidas, Ban Ki Moon, explica: "Uma intervenção militar tem que ser cuidadosamente preparada. Senão pode ter consequências graves para a situação humanitária e desencadear novos fluxos de refugiados".
Por seu lado, segundo a agência noticiosa AFP, uma fonte próxima do presidente Dioncounda Traoré teria dito esta quinta-feira (27.09) que o Mali "sentiu um empenho da comunidade internacional para com o nosso lado, uma solidariedade com o Mali" durante uma reunião centrada sobre a região do Sahel, em Nova Iorque, à margem da Assembléia Geral da ONU.
A mesma fonte terá dito que "sabemos que a Argélia está a criar uma frente de resistência, sem dúvida juntamente com a Mauritânia e o Níger. Mas Paris vai fazer de tudo para obter a convocação do Conselho de Segurança e uma resolução autorizando a intervenção. Não nos perguntamos quando a guerra vai começar, mas 'como reunir todas as condições para realizá-la?'. Para nós, a intervenção não vai demorar, ela está a ser preparada", afirmou esta fonte oficial.
Vácuo no poder
A situação no norte do Mali é complicada. Há cerca de meio ano que grupos fundamentalistas islâmicos controlam dois terços do país. O que foi possível graças ao vácuo no poder após o golpe de Estado militar em março deste ano e à desestabilização causada pela revolta dos tuaregues.
Os grupos Mujao e Ansar Dine instalaram um regime de terror, decepando as mãos de alegados ladrões, lapidando alegados casais adúlteros, e recrutando crianças e jovens como combatentes. Ambos mantêm ligações estreitas com a rede terrorista Al-Qaida do Magreb Islâmico, AQMI, que agrupa todos os movimentos radicais da região.
Wolfram Lacher, especialista para a zona do Sahel da Fundação Ciências e Política em Berlim diz que os grupos não têm grande força militar, mas que estão bem coordenados: "Não se trata apenas de terroristas internacionais, também estão representados grupos de interesses locais muito fortes. Travar a guerra contra estes grupos pode vir a ser um desastre para a CEDEAO", avalia.
Os benefícios da instabilidade no Mali
Isto porque também os líderes dos clãs locais beneficiam da instabilidade no Mali. Muitos estão envolvidos no contrabando de armas e drogas entre o Mali e o norte de África. Por isso Lacher não acredita no êxito de uma intervenção da CEDEAO. "Sobretudo porque a CEDEAO não inclui os dois Estados mais influentes a norte do Mali, a Argélia e a Mauritânia. E estes dois países são contra uma intervenção. O que significa que a CEDEAO não tem do seu lado as duas mais importantes potências regionais", explica o especialista.
Caso a ONU acabe por autorizar a internvenção, as tropas da CEDEAO ficarão dependentes da ajuda da Europa e dos Estados Unidos da América. O presidente francês, François Hollande, já prometeu apoio pelo menos na forma de dinheiro e material.
Autores: Peter Hille/Cristina Krippahl/RK/AFP
Edição: António Rocha