Comunidade internacional promete voltar a apoiar financeiramente o Mali
5 de fevereiro de 2013Altos responsáveis africanos, europeus e de organizações internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU), a União Europeia (UE), a União Africana (UA) e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e o Banco Mundial, reuniram-se em Bruxelas com uma delegação maliana, dirigida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros do país africano, Tiéman Coulibaly.
No encontro, a comunidade internacional reafirmou a sua solidariedade para com o Mali e discutiu os meios que visam a estabilidade e a segurança, a longo prazo, daquele país da África ocidental.
No que se refere à retoma da ajuda pública ao Mali, a UE anunciou o desbloqueamento de 250 milhões de euros, enquanto a comunidade internacional decidiu propor a sua ajuda para a organização de eleições.
O Presidente maliano interino, Dioncounda Traoré, prometeu realizar eleições até 31 de julho de 2013, um calendário considerado contudo ambicioso por várias fontes diplomáticas.
Mas para Badié Hima, especialista em direitos humanos e democratização na África Ocidental, "a realização de eleições no Mali foi sempre considerada como uma verdadeira saída para a crise. Eleições credíveis e transparentes é também um mecanismo de reconciliação nacional."
Eleições devem ser acompanhadas de mudanças
Nessa tentativa de reconciliação, analistas destacam que deveria haver uma nova composição do Parlamento maliano. Defendem, sobretudo, um Governo com uma certa representatividade das minorias políticas do norte, incluindo até os nómadas tuaregues e mais deputadas mulheres do que as que existem atualmente: dos 147 deputados somente 15 são mulheres.
Badié Hima explica que, no plano de trabalho que foi debatido recentemente na Assembleia Nacional, "parece ter sido aceite que os responsáveis encarregues da transição não poderão apresentar-se como candidatos às próximas eleições presidenciais." Esperançoso, o especialista diz que "isso já é um passo importante".
Nomes como o presidente de transição, Dioncounda Traoré, ou o primeiro-ministro, Diango Cissoko, poderão ser relegados para segundo plano, enquanto Ibrahim Boubakar Keita ou Modibo Sidibé poderiam ser as personalidades para conduzir o Mali na próxima etapa pós-conflito.
Eleições serão viáveis ainda em 2013?
Mas se 31 de julho de 2013 for aceite como a data para a realização do escrutínio presidencial, muito trabalho resta ainda por fazer. Por exemplo, milhares de malianos tiveram que abandonar os seus locais de residência devido ao conflito e muitos refugiaram-se nos países vizinhos.
Por outro lado, falta realizar o registo biométrico dos seis milhões de eleitores, o que torna a organização da logística e financeira do pleito eleitoral, um autêntico pesadelo para Bamaco.
Em Bruxelas, as promessas de ajuda não faltaram esta terça-feira. Para além da UE, a França anunciou a retoma progressiva da ajuda ao desenvolvimento, que está congelada desde o golpe de Estado militar de 22 de março do ano transato que precipitou a tomada do Norte pelos islamistas armados.
O Programa Alimentar Mundial (PAM) também anunciou esta terça-feira a retomada da distribuição de rações alimentares no norte do país, depois de a ter cessado, a fim de levar assistência alimentar por um mês a cerca de 35 mil pessoas, entre as quais crianças com menos de cinco anos de idade e mulheres grávidas ou latantes.
O chefe da diplomacia maliana está satisfeito com toda esta solidariedade internacional para com o seu país.
Desafios e Receios do Governo
Tiéman Colibaly lembra há uma grande desafio humanitário e finalmente também há aplicação do roteiro, ou seja, o plano de ação. Por outro lado, o ministro dos negócios estrangeiros lembra: "Não se deve esquecer que a segurança e a estabilidade têm um preço. São esses e muitas outras questões que nos preocupam hoje."
Em Bruxelas, a possibilidade da força africana no Mali ser transformada numa missão de manutenção da paz da ONU também foi evocada.
Mas as autoridades de Bamaco não parecem totalmente convencidas. O ministro dos Negócios Estrangeiros concorda: "Compreendemos bem que existem imperativos de perenização e de eficácia desta força. E é verdade que necessitamos de meios."
Entretanto, argumenta que "ir mais à frente e colocar esta força sob orientação da ONU permite ter acesso a outros meios. Mas o mandato tem que ser bem definido bem como a sua agenda."
Esta foi a terceira vez que os amigos do Mali se reuniram nas últimas semanas.
Autor: Frejus Quenum/António Rocha
Edição: Nádia Issufo/Madalena Sampaio