Comunidade internacional reage à ofensiva turca na Síria
tms | com agências | Sandrine Blanchard
10 de outubro de 2019
O Conselho de Segurança da ONU reúne-se esta quinta-feira para discutir a ofensiva turca na Síria. A Turquia começou a atingir na quarta-feira alvos no norte e nordeste da Síria, controlados por forças curdas.
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Devido à ofensiva da Turquia, o Conselho de Segurança reúne-se esta quinta-feira para debater a situação. A reunião foi convocada pela Alemanha, França, Reino Unido, Bélgica e Polónia, os cinco países europeus atualmente representados no Conselho de Segurança.
A União Europeia (UE) exortou a Turquia a parar o ataque na Síria. Entretanto, soldados turcos continuaram a atravessar a fronteira síria durante a noite. Da mesma forma, as forças de segurança seguiram com bombardeamentos aéreos sobre alvos sírios.
Ancara diz que os ataques fazem parte da sua "Operação Primavera da Paz" contra os curdos. Aliados da Turquia condenam os ataques, advertindo que a ofensiva pode desestabilizar a região. As forças armadas turcas dizem que os ataques não visam áreas civis. Apesar das garantias, muitos moradores fugiram das suas casas à procura de uma zona segura.
Comunidade internacional reage à ofensiva turca na Síria
No entanto, o Observatório Sírio para os Direitos Humanos e as Força da Síria Democrática, liderada por curdos, alertaram que as tropas da Turquia estão a atacar alvos civis. Dos 15 mortos, até à noite de quarta-feira (09.10), pelo menos oito eram civis.
O ataque foi anunciado pelo Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, através de uma publicação na sua página no Twitter. Erdogan disse que suas forças armadas pretendem "neutralizar as ameaças terroristas contra a Turquia e criar uma zona segura, permitindo o retorno de refugiados sírios para as suas casas".
Saída dos EUA deixa norte da Síria desprotegido
O pontapé para este conflito foi o anúncio do Presidente norte-americano, Donald Trump, no domingo, de que as tropas dos Estados Unidos iam abandonar o norte da Síria, na fronteira com a Turquia. Nessa região, os Estados Unidos lutavam há anos junto com os curdos contra o Estado Islâmico.
Porém, com a retirada das tropas, Ancara diz que a zona ficou desprotegida. "Para a Turquia, as milícias em questão, as Unidades de Proteção Curdas, são consideradas uma ramificação do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que a Turquia considera ser uma organização terrorista. O PKK está a travar uma guerra de guerrilha armada há mais de 30 anos. Portanto, para a Turquia, a versão oficial é que as milícias são fruto de uma organização terrorista e, portanto, a sua instalação ao longo da fronteira entre a Turquia e a Síria é uma ameaça à segurança nacional", explica em entrevista à DW o cientista político turco Ahmet Insel.
Um porta-voz curdo pediu à comunidade internacional que pressionasse a Turquia a suspender o ataque, afirmando que as forças democráticas sírias seriam forçadas a interromper o seu campo de batalha contra o Estado Islâmico para lidar com a ameaça turca.
Muitos aliados da Turquia também alertaram que os ataques poderiam reacender a guerra civil na Síria. "É importante evitar ações que possam desestabilizar ainda mais a região, aumentar as tensões e causar mais sofrimento humano. Não devemos comprometer os ganhos que fizemos juntos contra o Estado Islâmico", alertou o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg.
O Presidente Donald Trump ameaçou impor sanções económicas contra a Turquia caso o país siga com os ataques.
Cronologia da Guerra na Síria
Começou com protestos pacíficos em 2011, mas tornou-se numa guerra civil que já matou 350 000 pessoas e fez milhões de refugiados. Um conflito complexo com vários atores e repercussões à escala internacional.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2011: O início e uma Primavera que não foi
A “Primavera Árabe” estende-se à Síria e começam a emergir protestos contra a família Assad, que lidera o país há mais de quarenta anos. O movimento contra o Governo ganhou amplitude na cidade de Deraa, no sul, alargando-se a todo o país. Ao contrário de outros países, onde as manifestações resultaram em mudanças quase imediatas, na Síria marcavam o início de um conflito sem fim à vista.
Foto: picture-alliance/dpa
2012: Escalada de violência e formação da oposição
A violenta repressão por parte de milícias do Governo de al-Assad contra manifestantes desarmados fez escalar a onda de violência. Grupos da oposição, representativos das diferentes ideologias e fações religiosas, começam a organizar-se a partir de 2011, como o Conselho Nacional Sírio, o Comité de Coordenação Nacional, o Exército Livre da Síria (foto) e o Conselho Nacional Curdo.
Foto: AP
2013: Desmantelamento de arsenal químico
Um ataque químico em dois setores rebeldes perto de Damasco, atribuído ao regime de al-Assad, faz mais de 1400 mortos, de acordo com os Estados Unidos. O regime sírio desmente. O então Presidente dos EUA, Barack Obama, estabelece com a Rússia um acordo de desmantelamento de armas químicas da Síria. Em outubro, Damasco inicia a destruição do seu arsenal declarado de armas químicas.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2014: A ameaça do "Estado Islâmico"
Apoiada por Washington, uma coligação de mais de 60 países realiza ataques aéreos contra as posições do autointitulado “Estado Islâmico” (EI) na Síria. Cerca de 2000 militares norte-americanos são colocados no norte da Síria, para combater o EI e treinar as forças locais. Em junho, o EI proclama "um califado", e torna a cidade síria de Raqa na sua capital.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2015: Rússia entra abertamente no conflito
Em setembro, a Rússia, que desde o início fornecera ajuda militar ao Governo sírio, entra ativa e abertamente no conflito. Inicia uma campanha de bombardeamentos aéreos em apoio às forças de Bashar al-Assad, que leva o Governo sírio a recuperar território perdido para os rebeldes.
Foto: Reuters/Rurtr
2016: Governo controla Aleppo
Em setembro, num único fim de semana, a cidade de Aleppo é alvo de 200 ataques aéreos pelas forças pró-Assad. Em dezembro, após quatro anos de controlo desta cidade, a segunda maior da Síria, as milícias rebeldes acabam por perder Aleppo para as forças governamentais.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2017: Ataque químico em Idleb
Um ataque de gás sarin mata mais de 80 civis em Khan Cheikhoun, localidade da província de Idleb, controlada pelos rebeldes e por 'jihadistas'. O regime de Bashar al-Assad é, uma vez mais, acusado de uso de armas químicas. O Presidente dos EUA, Donald Trump, ordena ataques à base aérea Síria de Al-Chaayrate, no centro do país.
Foto: picture alliance/AA/A.Dagul
2017 : Retoma de Raqa
Em outubro, depois de meses de luta, as forças democráticas sírias, dominadas por curdos e apoiadas pela coligação internacional, tomam o controlo de Raqa. A cidade esteve três anos sob o domínio do autointitulado “Estado Islâmico”.
Foto: DW/F. Warwick
2018: Turquia invade Síria e controla Afrin
Em janeiro, a Turquia, que mantinha um dispositivo militar no norte da Síria, lança uma grande ofensiva contra a milícia curda, as Unidades de Proteção do Povo (YPG), em Afrine. Em março, a Turquia acaba por tomar controlo desta cidade. As milícia curda YPG é considerada um grupo terrorista pelo Governo turco, pois é o braço sírio da organização curda da Turquia, o PKK.
Foto: picture alliance/AA/E. Sansar
2018: Forças pró-Assad bombardeiam e retomam Ghouta Oriental
O regime sírio lança uma ofensiva aérea e terrestre, de intensidade inédita, sobre o enclave rebelde de Ghouta Oriental, perto de Damasco. A ação resulta em mais de 1700 mortos, entre os quais crianças. Em abril, depois de bombardeamentos devastadores, mas também de acordos de evacuação patrocinados pela Rússia, o regime assume o controlo de Ghouta Oriental, último bastião dos insurgentes.
Foto: Getty Images/AFP/A. Almohibany
14 de abril de 2018: A resposta do Ocidente
EUA, França e Reino Unido realizam uma série de ataques contra alvos associados à produção de armamento químico na Síria, em resposta a um alegado ataque com armas químicas em Douma, Ghouta Oriental, por parte do Governo sírio. Trump justifica os ataques como uma resposta à "ação monstruosa" do regime de Assad contra a oposição e prometeu que a operação durará "o tempo que for necessário".