A construção da ponte Maputo-Katembe está praticamente no fim. Mas poderá haver alguns atrasos por causa do braço-de-ferro entre o município e vendedores de um mercado por onde passará uma rampa que dá acesso à ponte.
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O braço-de-ferro já dura há um ano. Os vendedores do mercado "Nwankakana", por onde deve passar a rampa que dá acesso à ponte Maputo-Katembe, garantem que só arrendam pé quando forem compensados.
"Sem indemnizações, as coisas vão continuar a ferver, porque tivemos promessas sérias", afirma o representante dos vendedores, Ilídio Vilanculos. "A única saída é darem a indemnização. Depois, organizamo-nos e saímos."
Mas o Conselho Municipal de Maputo nega avançar com indemnizações, alegando que o mercado "Nwankakana" pertence à edilidade.
Os vendedores acusam, no entanto, o município de ter abandonado o local. "Nada neste mercado pertence ao município a não ser o próprio terreno. Nem os escritórios, nem as casas-de-banho, nem mesmo as infraestruturas existentes pertencem ao município", diz Vilanculos.
"O que existe aqui é apenas o pessoal do município que cobra as taxas", sublinha.
O Conselho Municipal disponibilizou outro mercado, mas os vendedores alegam que não há condições para albergar todo o tipo de comerciantes: "Não há bancas suficientes para que todos comerciantes possam exercer a sua atividade. Não há espaço para colocar vendedores de roupa, não há espaço para as cozinhas, não há nenhuma barraca, apenas bancas pequenas", afirma o representante dos vendedores.
Conclusão da ponte Maputo-Katembe pode atrasar
Possíveis atrasos
O vereador para a área dos mercados no município de Maputo, Belmiro Baptista, lamenta o comportamento dos vendedores, mas acredita que se irá chegar a um acordo. "Estamos numa situação em que os vendedores estão a cobrar dinheiro ao município num processo de transferência que é meramente administrativo", diz.
Os trabalhos de construção da ponte estão parados do lado de Maputo. Mas o ministro das Obras Públicas, Habitação e Recurso Hídricos, Carlos Bonete, garante que tudo está a ser feito para respeitar, quanto possível, os prazos.
"De alguma maneira, já estão comprometidos por causa daquela rampa de acesso na Malanga [do lado de Maputo], mas estamos desejosos que este problema se resolva o mais depressa possível e de uma maneira que satisfaça todas as partes", afirma o governante.
A conclusão das obras está prevista para dezembro.
Um mundo à parte: a lixeira de Hulene
Em Moçambique, os resíduos sólidos urbanos são depositados em lixeiras a céu aberto, tal como acontece em Hulene, nas proximidades do Aeroporto de Maputo. Isto causa diversos problemas ambientais e sociais.
Foto: DW/Marta Barroso
Resíduos sólidos sem tratamento adequado
Em Moçambique, os resíduos sólidos urbanos são depositados em lixeiras a céu aberto, tal como acontece em Hulene, nas proximidades do Aeroporto de Maputo. Este modelo de gestão do lixo traz consigo graves problemas de diversa ordem. Entre outros a possível poluição do ar, da terra e da água. A queima descontrolada dos resíduos também causa maus cheiros e problemas respiratórios na vizinhança.
Foto: DW/Marta Barroso
Cidades cheias
Desde a independência, a urbanização em Moçambique tem sido rápida e desordenada. Em meados dos anos 1970, nem 10% da população residia em zonas urbanas. A guerra civil empurrou comunidades inteiras para os centros urbanos. Hoje, o número de citadinos é quatro vezes mais alto e em 2025, calcula-se, mais de metade dos moçambicanos viverá em zonas urbanas. Aumentam os problemas com o lixo.
Foto: DW/Marta Barroso
Crescimento desordenado
Em Maputo, o custo de vida aumentou de tal forma que muitos se viram empurrados para a periferia e a cidade foi-se espalhando de forma desordenada. Tal como noutras zonas urbanas, o crescimento da capital não foi acompanhado por serviços públicos. Uma das áreas com graves deficiências é o tratamento dos resíduos sólidos urbanos.
Foto: DW/Marta Barroso
Invisíveis perante a lei
Mais de metade da população ativa de Moçambique trabalha no sector informal. Também em Hulene, a lixeira é, para muitos residentes do bairro, a única fonte de rendimento. Lá dentro, os catadores são tolerados, mas para lá dos muros, permanecem à margem da sociedade que os vê como gente falhada. Excluídos das políticas e estratégias nacionais, os catadores permanecem invisíveis aos olhos da lei.
Foto: DW/Marta Barroso
Poucos avanços na separação do lixo
A Política Nacional do Ambiente, de 1995, define a gestão do ambiente urbano e a gestão de resíduos domésticos e hospitalares como prioridade de intervenção, visando melhorar o sistema de coleta, tratamento e deposição de lixo. Mas apesar de esta legislação ter sido adotada há quase vinte anos, poucos avanços se fizeram na separação do lixo.
Foto: DW/Marta Barroso
Lugar de tudo
De tudo um pouco se procura, se reforma e se vende em Hulene: restos de comida, alimentos enlatados fora do prazo, retirados dos supermercados da cidade, objetos de ferro, alumínio, latão e estanho, fio de cobre de eletrodomésticos avariados, garrafas de vidro e plástico, madeira, cartão, papel, pedras, filtros de cigarro, mobília danificada, algodão, borracha, lixo hospitalar e informático.
Foto: DW/Marta Barroso
Sem espaço para reciclagem
Em Moçambique, a reciclagem é feita de forma muito limitada, normalmente no âmbito de projetos ou iniciativas individuais. Um entrave à promoção da reciclagem no país prende-se com a escassez de indústrias que usem material reciclado e, consequentemente, a escassez de mercados para a sua compra. Muitos materiais têm de ser exportados, daí que este ainda não seja um negócio sustentável.
Foto: DW/Marta Barroso
Recicla, Fertiliza e Amor
Apesar disso, há alguns projetos de reciclagem no país. Recicla, Fertiliza e Amor são alguns exemplos. O primeiro produz paletes de plástico para venda em fábricas locais de utensílios domésticos, o segundo faz adubo a partir de lixo orgânico e o último compra lixo reciclável em ecopontos na capital, Maputo.
Foto: DW/Marta Barroso
Encerramento adiado
A última previsão de encerramento da lixeira marcava o ano de 2014 como prazo para transformar Hulene em espaço verde. Agora diz-se que a lixeira só será encerrada depois de construído um aterro sanitário que deverá ser partilhado tanto pela cidade de Maputo como pela vizinha Matola e custará aos dois municípios, ao Governo e a doadores mais de 20 milhões de dólares.
Foto: DW/Marta Barroso
E o lixo aqui continuará
Até a lixeira de Hulene ser encerrada, o lixo continuará a acumular-se aos montes. Montes que, segundo o Conselho Municipal de Maputo, chegaram já a atingir os 15 metros de altura. Mesmo depois de fechada, a decomposição dos resíduos aqui depositados ao longo de tantas décadas irá levar muitos anos.