Conferência da DW: Como combater as desigualdades globais?
Matthias von Hein | tms
11 de junho de 2018
Começa esta segunda-feira uma conferência da DW sobre "desigualdades globais". É preciso saber "onde as injustiças são quase normais e como enfrentá-las", afirma diretor-geral da emissora. E há convidados de peso.
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O que fazem esta semana jornalistas, personalidades da política e dos negócios e representantes de organizações não-governamentais num centro de conferências em Bona, no oeste da Alemanha? Discutem as desigualdades globais.
"O Global Media Forum é uma plataforma única de troca de experiências entre jornalistas de muitos países e os nossos parceiros em todo o mundo, e com pessoas que defendem os média e a liberdade de imprensa", afirma o diretor-geral da DW, Peter Limbourg.
"A cada ano, a conferência mostra quão interligada a Deutsche Welle está. E podemos aprender muito através da troca de experiências e do diálogo".
Representações africanas
Na última década, o Global Media Forum, organizado pela Deutsche Welle, consagrou-se como o maior evento internacional dos média na Alemanha. Este ano, na 11ª edição da conferência, são esperados cerca de 2.000 convidados de mais de 120 países.
Graças à cooperação com o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, pelo menos cem jornalistas de países em desenvolvimento participarão na conferência deste ano.
"Até agora temos recebido muitas inscrições do Paquistão e Bangladesh, bem como de países africanos", diz a responsável pelo programa da conferência da DW, Veronika Spasovska.
Desigualdades globais
O tema central do Global Media Forum deste ano, a desigualdade, será discutido em várias ocasiões.
Do ponto de vista político, o evento contará com a participação da comissária da União Europeia para Economia e Sociedades Digitais, Mariya Gabriel, assim como do ex-Presidente do Afeganistão, Hamid Karzai. Do ponto de vista mais prático, um dos jornalistas mais esperados na conferência deste ano será Yusuf Omar, considerado como um pioneiro na produção de conteúdo para telemóveis. O jornalista explicará como os "smartphones" podem ser usados na luta contra a desigualdade.
Conferência da DW: Como combater as desigualdades globais?
Para o diretor-geral da DW, outro aspeto importante do Global Media Forum é a possibilidade de pensar a produção de conteúdo para minimizar as desigualdades no mundo.
"É importante percebermos onde há desequilíbrios, onde as injustiças são quase normais, e como enfrentá-las, e embora nunca haja igualdade total no mundo, ainda precisamos de lutar por direitos fundamentais iguais para todos. Em termos concretos, isso também nos força a refletir sobre como isso afeta as nossas reportagens", sublinha Peter Limbourg.
Como seguir em direto
A 11ª edição do Global Media Forum será muito mais interativa em comparação com as edições anteriores.
Uma equipa de social media garantirá que perguntas e ideias apresentadas durante o evento sejam rapidamente publicadas na conta da conferência no Twitter. Além disso, o fórum será transmitido em direto, garantindo que aqueles que não estão em Bona possam participar pela Internet.
Uma exposição de imagens do fotógrafo Johnny Miller, que mora na África do Sul, também abordará o tema das desigualdades globais. Segundo a organização do evento, o trabalho do fotógrafo sul-africano "retrata a coexistência de 'slums' e bairros nas maiores cidades do mundo".
O último dia da conferência da DW em Bona será dedicado aos "desafios e oportunidades que a digitalização representa para os produtores de média". O Global Media Forum será ainda acompanhado de música, com apresentações de artistas como o cantor de reggae alemão Patrice Bart-Williams e a cantora e poetisa britânica Anne Clark.
Pobreza no meio da riqueza no sul de Angola
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul do país. A região é assolada por uma seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser pobres neste ano. Muitos angolanos passam fome.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Sobras da guerra civil
A guerra civil (1976 -2002) grassou com particular violência no sul de Angola. Aqui, o Bloco do Leste socialista e o Ocidente da economia de mercado livre conduziram uma das suas guerras por procuração mais sangrentas em África. Ainda hoje se vêm com frequência destroços de tanques. A batalha de Cuito Cuanavale (novembro de 1987 a março de 1988) é considerada uma das maiores do continente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Feridas abertas
O movimento de libertação UNITA tinha o seu baluarte no sul do país, e contava com a assistência do exército da República da África do Sul através do Sudoeste Africano, que é hoje a Namíbia. Muitas aldeias da região foram destruídas. Mais de dez anos após o fim da guerra civil ainda há populares que habitam as ruínas na cidade de Quibala, no sul de Angola.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Subnutrição apesar do crescimento económico
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul. A região sofre de seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser más no ano 2013. Muitos angolanos não têm o suficiente para comer. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) diz que nos últimos anos pelo menos um quarto da população passou fome durante algum tempo ou permanentemente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
O sustento em risco
Dado o longo período de seca, a subnutrição é particularmente acentuada nas províncias do sul de Angola, diz a FAO. As colheitas falham e a sobrevivência do gado está em risco. Uma média de trinta cabeças perece por dia, calcula António Didalelwa, governador da província de Cunene, a mais fortemente afetada. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) também acha que a situação é crítica.
Foto: DW/A. Vieira
Semear esperança
A organização de assistência da Igreja Evangélica Alemã “Pão para o Mundo” lançou um apelo para donativos para Angola na sua ação de Advento 2013. Uma parte dos donativos deve ser reencaminhada para a organização parceira local Associação Cristã da Mocidade Regional do Kwanza Sul (ACM-KS). O objetivo é apoiar a agricultura em Pambangala na província de Kwanza Sul.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Rotação de culturas para assegurar mais receitas
Ernesto Cassinda (à esquerda na foto), da organização cristã de assistência ACM-KS, informa um agricultor num campo da comunidade de Pambangala, no sul de Angola sobre novos métodos de cultivo. A ACM-KS aposta sobretudo na rotação de culturas: para além das plantas alimentícias tradicionais como a mandioca e o milho deverão ser cultivados legumes para aumentar a produção e garantir mais receitas.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Receitas adicionais
Para além de uma melhora nas técnicas de cultivo, os agricultores da região também são encorajados a explorar novas fontes de rendimentos. A pequena agricultora Delfina Bento vendeu o excedente da sua colheita e investiu os lucros numa pequena padaria. O pão cozido no forno a lenha é vendido no mercado.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Escolas sem bancos
Formação de adultos na comunidade de Pambangala: geralmente os alunos têm que trazer as cadeiras de plástico de casa. Não é só em Kwanza Sul que as escolas carecem de equipamento. Enquanto isso, a elite de Angola vive no luxo. A revista norte-americana “Forbes” calcula o património da filha do Presidente, Isabel dos Santos, em mais de mil milhões de dólares. Ela é a mulher mais rica de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Investimentos em estádios de luxo
Enquanto em muitas escolas e centros de saúde falta equipamento básico, o Governo investiu mais de dez milhões de euros no estádio "Welvitschia Mirabilis", para o Campeonato Mundial de Hóquei em Patins 2013, na cidade de Namibe, no sul de Angola. Numa altura em que, segundo a organização católica de assistência “Caritas Angola” dois milhões de pessoas passaram fome no sul do país.
Foto: DW/A. Vieira
Novas estradas para o sul
Apesar dos destroços de tanques ainda visíveis, algo melhorou desde o fim da guerra civil em 2002: as estradas. O que dá a muitos agricultores a oportunidade de venderem os seus produtos noutras regiões. Durante a era colonial portuguesa, o sul de Angola era tido pelo “celeiro” do país e um dos maiores produtores de café de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Um futuro sem sombras da guerra civil
Em Angola, a papa de farinha de milho e mandioca, rica em fécula, chama-se “funje” e é a base da alimentação. As crianças preparam o funje peneirando o milho. Com a ação de donativos de 2013 para a ACM-KS, a “Pão para o Mundo” pretende assegurar que, de futuro, os angolanos no sul tenham sempre o suficiente para comer e não tenham que continuar a viver ensombrados pela guerra civil do passado.