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ConflitosAlemanha

Conferência de Segurança de Munique à sombra de Donald Trump

Nina Werkhäuser
11 de fevereiro de 2025

Começa na sexta-feira (14.02) a Conferência de Segurança de Munique, considerada o fórum mais importante do mundo em políticas de segurança. Evento ocorre num momento de tensões entre os EUA e os seus aliados europeus.

Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos da América
Foto: Andrew Harnik/GDA/La Nacion/IMAGO

Os laços tradicionalmente estreitos entre os Estados Unidos e a Europa caracterizaram a Conferência de Segurança de Munique (MSC) durante décadas. Apesar de algumas divergências, trabalhavam bem em conjunto e apreciavam-se mutuamente. Mas desde que Donald Trump tomou posse como Presidente dos EUA isto tem sido posto em causa.

A Conferência de Segurança de Munique (MSC), que começa na sexta-feira (14.02), é, portanto, também um indicador do estado das relações transatlânticas.

Novas tensões entre os EUA e os seus aliados?

Uma coisa é certa: um vento diferente já sopra a partir de Washington nas primeiras semanas do segundo mandato de Trump: "A América em primeiro" é o lema incondicional do republicano, mesmo que as suas políticas sejam feitas à custa dos seus aliados. Estas tensões são susceptíveis de moldar alguns dos debates no tradicional hotel onde decorre a conferências de Munique, o "Bayerischer Hof", onde políticos, líderes militares e peritos se reunirão de 14 a 16 de fevereiro.

Espera-se que cerca de 60 chefes de Estado e de Governo participem na conferência de Munique, que é considerada o fórum mais importante do mundo em matéria de política de segurança.

Vão participar na MSC, o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, e secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio.

Além disso, o presidente da conferência, Christoph Heusgen, anunciou que é esperada uma das maiores delegações do Congresso dos EUA de sempre a participar no encontro de alto nível em Munique. Entre os convidados encontra-se também o novo Secretário-Geral da NATO, Mark Rutte.

O relatório intitulado "Multipolarização", publicado por ocasião da Conferência de de Segurança de MuniqueFoto: Jörg Carstensen/picture alliance

"Enganados" pela Europa

A conferência de segurança é uma reunião informal, na qual não são tomadas decisões. É precisamente por isso que se cultiva um intercâmbio aberto e os conflitos não são varridos para debaixo do tapete. Donald Trump já definiu o novo tom, mais duro, das relações transatlânticas. "Temos sido enganados pelas nações europeias, tanto no comércio como na NATO", declarou durante a campanha eleitoral, cita o relatório intitulado "Multipolarização", publicado por ocasião da Conferência de Segurança de Munique. E ainda para os europeus, disparou: "Se não pagarem, não vos protegeremos".

A seu ver, o subinvestimento de alguns parceiros europeus da NATO nos seus exércitos é um problema. Também criticou repetidamente a Alemanha por este facto. Até agora, Washington pagou a maior parte dos custos da NATO e ofereceu à Europa uma proteção militar fiável. Agora, isso está sujeito a condições: Trump exige que os aliados gastem 5% do seu produto interno bruto (PIB) na defesa. A Alemanha tem dificuldade em cumprir os 2% que são agora considerados o padrão mínimo na NATO.

Potência mundial com "recursos escassos"

O republicano Trump já provou que pode retirar rigorosamente os fundos americanos de organizações ativas a nível internacional. Também de acordo com o Relatório de Segurança de Munique, Trump justifica este facto argumentando que mesmo a potência mundial EUA só tem recursos limitados e deve usá-los para o bem do seu próprio país. "De facto, o conceito de 'escassez de recursos' tornou-se uma premissa central do pensamento da política externa republicana", afirma o relatório.

O vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance (foto), e secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, participam na conferência em MuniqueFoto: Leah Millis/REUTERS

Plano para a paz na Ucrânia?

Isto também pode ter um impacto negativo na ajuda à Ucrânia, a qual os EUA têm liderado até à data. Em todo o caso, o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e o enviado de Trump para a Ucrânia, Keith Kellogg, são esperados em Munique.

No período que antecedeu a conferência, circularam rumores de que Kellogg poderia apresentar o plano da administração Trump para acabar com a guerra na Ucrânia no evento. Quando questionado sobre este assunto, o presidente da conferência, Christoph Heusgen, disse esperar que a cimeira, que acontece entre sexta-feira e domingo, seja uma ponte para "o progresso em direção à paz na Ucrânia":

"Esperamos que a cimeira de Munique seja útil. E também temos os sinais correspondentes para fazer progressos no sentido da paz na Ucrânia", disse.

O diplomata sublinhou que a integridade territorial e a soberania da Ucrânia devem ser preservadas.Heusgen foi anteriormente conselheiro de política externa da chanceler alemã Angela Merkel e embaixador alemão nas Nações Unidas em Nova Iorque.

No entanto, a Rússia e a Ucrânia continuam distantes nas suas posições, embora tenham assumido uma inédita postura de diálogo desde que Donald Trump regressou à Casa Branca.

Durante a campanha eleitoral, o Presidente norte-americano prometeu pôr fim ao conflito no prazo de 24 horas, revendo esta promessa para seis meses após a sua tomada de posse, em 20 de janeiro.

Os representantes do Governo russo não foram convidados para a MSC. A base para um convite é "a vontade de dialogar", sublinhou Heusgen, "e enquanto o Presidente Putin não reconhecer o Governo de Kiev, Zelenskyi, não vejo qualquer condição prévia para esse diálogo".

Para a cimeira em Munique foram convidadas organizações não-governamentais (ONG) da oposição, ativas na Rússia ou exiladas no estrangeiro.

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A pretensão de Trump, Groelândia

As ameaças de Trump de anexar territórios pela força, se necessário, incluindo a Groelândia, que pertence à Dinamarca, causaram agitação e horror na Europa. O vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, está por detrás dos planos de expansão de Trump. Se ele reafirmar estes planos em Munique, é provável que encontre uma oposição feroz, nomeadamente por parte dos representantes da União Europeia e dos Estados europeus.

Estes reagiram à ameaça de Trump com o aviso de que os EUA devem respeitar o direito internacional. "A inviolabilidade das fronteiras é um princípio fundamental do direito internacional. Este princípio deve ser aplicado a todos", comentou o chanceler alemão Olaf Scholz.

Não foi sem razão que o presidente da conferência, Heusgen, sublinhou várias vezes a importância do direito internacional antes do enevto. "Na minha opinião, não há melhor alternativa do que a ordem refletida na Carta das Nações Unidas".

Eleições para o Bundestag

A política interna alemã desempenhará um papel especial na conferência deste ano: O encontro realiza-se apenas uma semana antes das eleições federais antecipadas de 23 de fevereiro e, por conseguinte, em plena fase final da campanha eleitoral. Vários candidatos a chanceler e a líderes confirmaram a sua presença, incluindo o líder da Uniao Democrata Cristã (CDU) e o seu candidato a chanceler, Friedrich Merz, que, segundo as sondagens, deverá ganhar as eleições.

É provável que as suas intervenções também se centrem na questão de saber quanto dinheiro a Alemanha irá investir nas suas Forças Armadas alemãs no futuro e de onde deverá vir, tendo em conta os orçamentos apertados. A questão não é se, mas como a Alemanha e a Europa podem fazer mais pela sua própria segurança. Agora que Donald Trump retornou à Casa Branca, é provável que este tópico seja discutido na Conferência de Segurança de Munique com maior urgência do que nunca. 

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