Clima: Angola e Moçambique preocupados com o futuro
Rodrigo Vaz Pinto
27 de junho de 2019
As alterações climáticas são o grande desafio mundial, todos os países são afetados. Angola e Moçambique estiveram em Bona a debater este problema e também sentem que estas dificuldades podem prejudicar o seu futuro.
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Entre os dias 17 e 27 de junho as Nações Unidas organizaram em Bona na Alemanha mais uma Conferência do Clima. Delegações de todos os países dos PALOP estiveram presentes neste evento que serviu para dar os próximos passos na implementação do Acordo de Paris.
Consequências
África é das zonas do globo mais afetadas pelas alterações climáticas, ainda recentemente o Ciclone Idai devastou a Cidade da Beira em Moçambique. Também Angola começa a sentir o impacto deste problema a nível global como explica Giza Martins, Director do Gabinete de Alterações Climáticas do Ministério do Ambiente de Angola.
"Em Angola em particular o efeito mais visível é um ciclo de secas e inundações, que te vindo a tornar-se mais severo no sul de Angola. Um dos outros efeitos das alterações climáticas é acidificação do oceano”.
Paula Panguene é técnica da Direcção Nacional do Ambiente em Moçambique e vê a vulnerabilidade do seu país como algo preocupante para fazer face aos futuros problemas ambientais.
"Nós partimos do princípio que a vulnerabilidade está relacionada com a capacidade de fazer face ao impacto das mudanças climáticas. Não só moçambique tem problemas, mas porque Moçambique tem menor possibilidade de fazer face a estes impactos, então torna-se mais vulnerável”.
UN Conferência do Clima: Angola e Moçambique
Desenvolvimento
Apesar de considerar que os países ocidentais têm uma responsabilidade histórica na emissão de gases com efeito de estufa, Giza Martins levanta algumas preocupações relacionadas também com futuro do desenvolvimento de Angola.
"Nós estamos particularmente preocupados com problemas relacionados com a adaptação aos efeitos das alterações climáticas. Angola é um país que está engajado numa transição de país menos avançado para país de renda média. Esta transição tem algumas implicações do ponto de vista de algum maior rigor e frequência no atraso de ações a nível nacional, logo aqui estamos preocupados com as questões relacionadas com a capacitação e flexibilidade que pode ser dada a esses países”.
Equilíbrios
Esta conferência em Bona serviu não só para operacionalizar o Acordo de Paris mas também para preparar a conferência principal, o COP 25, que se vai realizar no Chile em dezembro. Paula Panguene reforça que Moçambique está do lado dos países menos desenvolvidos”.
"Apoiamos as posições dos países africanos, nós apoiamos a posição dos países menos desenvolvidos e apoiamos a posição do G77 + China. Obviamente que nós queremos adaptar, mas queremos ser menos vulneráveis e queremos ter uma economia que possa fazer face a essas mudanças”.
Paula também fala sobre os objectivos de Moçambique nestas conferências sobre as alterações climáticas.
"As mudanças climáticas é um assunto global mas deve haver ação localmente, este é motivo pelo estamos aqui nestas negociações exactamente que beneficie mutuamente os país ocidentais e os país em desenvolvimento”.
Há um esforço enorme por parte de todos os países para se mudar este panorama, mas Giza Martins relembra faltam dados concretos que ajudem as nações africanas nesta luta global.
"Uma das debilidades que o continente africano tem e Angola não está distante disto é a disponibilidade de evidências científicas sobre estes efeitos. Nós temos estado a constatar alguma tendência. Precisamos também de aperfeiçoar a nossa capacidade com maior profundidade entender a forma como as alterações climáticas estão afectar o nosso desenvolvimento”.
A desertificação causada pelo homem
Um terço da massa terrestre está coberto de desertos. As paisagens áridas não param de crescer em todo o mundo devido ao uso excessivo dos solos e a desflorestação. E a culpa é do ser humano.
Foto: picture-alliance/dpa
Desertos por toda a parte
Houve um tempo em que hipopótamos e elefantes ainda viviam no Saara. Hoje, o Saara é uma paisagem árida. Este pequeno lago é uma reminiscência dos tempos passados. O lago é alimentado por águas subterrâneas provenientes de chuvas absorvidas pelo solo há milhares de anos. Infelizmente, o clima mudou e criou uma enorme paisagem árida. Os desertos continuam a se formar e a culpa é humana.
Foto: Imago Images/robertharding
A ação humana destroi a natureza
A formação de desertos causada pela ação humana é chamada de desertificação. Quando humanos destroem os recursos naturais em áreas com clima seco, as plantas desaparecem e o solo se torna infértil. Estes fenómenos de desertificação são vistos em 70% das áreas áridas da Terra, como esta zona na Índia.
Foto: picture-alliance/dpa
Ameaça global
A cada ano, formam-se 70.000 quilómetros quadrados de desertos, o que corresponde à área da Irlanda. Segundo a Agência Alemã para Cooperação Internacional (GIZ), 40% da população de África está ameaçada pela desertificação. Na Ásia, são 39% e, na América do Sul, 30% da população. Algumas zonas dos Estados Unidos e da Espanha também estão ameaçadas.
Foto: picture-alliance/F. Duenzl
Excessos
Uma das razões para a expansão dos desertos é a explosão populacional em alguns países. Na China, por exemplo, o solo já seco tem que alimentar mais e mais pessoas. Os agricultores mantêm muitos animais em suas pastagens, que devoram até mesmo as últimas plantas. Assim, o solo é erodido pelo vento e pela chuva. Na China, cerca de 2.500 quilómetros quadrados de deserto formam-se a cada ano.
Foto: Imago/Xinhua
Um mar sem água
O Mar de Aral, na fronteira entre o Cazaquistão e o Uzbequistão, é um símbolo da política agrícola fracassada que levou à desertificação. Anteriormente, o Mar de Aral era o quarto maior lago do mundo. Hoje, pouco disso restou. Desde a era soviética, os dois países exploram o lago para irrigar os campos de algodão. Consequentemente, os navios dos pescadores foram deixados em terra firme.
Foto: picture-alliance/dpa
Desflorestação
Não só os países emergentes sofrem com o solo seco. Na Espanha, a desertificação está a progredir cada vez mais rápido. O motivo é o grande número de turistas. Florestas inteiras são derrubadas para dar lugar à construção de hotéis. Assim, o solo perde a sua sustentação e fica desgastado. A região de Guadalajara, perto de Madrid, também está a ser afetada.
Foto: picture-alliance/ ZUMAPRESS/M. Reino
Deslocamentos
Além da destruição dos ecossistemas, a desertificação gera muitos outros problemas. Empobrecidas e desnutridas, muitas pessoas são forçadas a deixar a sua terra natal. Em África, a desertificação afeta 485 milhões de pessoas, segundo dados da GIZ. As Nações Unidas estimam que mais de 60 milhões de pessoas deixarão as zonas desertificadas de África até 2020.
Foto: Reuters/Murad Sezer
Luta contra a desertificação
Alguns países declararam guerra à desertificação. Há décadas, a China tem tentado neutralizar o fenómeno através do reflorestamento. O projeto "Green Wall" (Muro Verde) tem um objetivo ambicioso: replantar uma área do tamanho da Alemanha até 2050. As Nações Unidas também chamam a atenção para o problema do Dia Mundial de Combate à Desertificação, celebrado a 17 de junho.