Conflito "esquecido" continua na região sudanesa de Darfur
2 de agosto de 2012 Há cinco anos, a 31.07.2007, o Conselho de Segurança das Nações Unidas decidiu enviar forças de manutenção de paz para o Darfur. Na região ocidental sudanesa, estão estacionados 26 mil soldados da UNAMID (Missão das Nações Unidas e da União Africana no Darfur). Trata-se da maior força de paz em todo o mundo.
O envio de tropas da ONU – da primeira vez, foram 20 mil – para o Darfur aconteceu depois de um lento despertar do mundo para o conflito – passaram-se quatro anos desde o início dos confrontos, em 2003. Na altura do envio da missão da ONU, estimava-se que o conflito já tivesse feito 300 mil vítimas.
Até hoje, a situação não melhorou muito, diz Anne Bartlett, da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. "A missão de manutenção da paz fracassou no seu objectivo de proteger as pessoas", avalia a investigadora que acompanha o conflito há anos.
"As Nações Unidas devem ampliar a força de paz e a missão deve ser mais responsabilizada. Deve verificar o que está a ser feito, na realidade, para proteger as pessoas, pois a maior parte das organizações humanitárias saiu do Darfur por motivos de segurança", descreve Bartlett.
Várias frentes de conflito no Darfur
A situação no Darfur é particularmente complicada: no início, o conflito era sobretudo disputado entre os grupos rebeldes e o governo sudanês, apoiado pelas milícias que o Executivo financiava. Os rebeldes queriam uma maior participação no Estado.
Hoje em dia, há várias frentes: os grupos rebeldes continuam a lutar contra o Executivo, mas os rebeldes de diferentes etnias também lutam entre si para obter mais terras e uma maior influência política. Regularmente, há também conflitos entre agricultores e nómadas, que disputam os recursos naturais – para além dos grupos criminosos presentes no Darfur.
Observadores acusam o governo sudanês de sabotar o processo de paz, por não querer abdicar dos seus poderes. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de captura contra o presidente Omar al-Bashir, acusando-o de genocídio no Darfur.
Rahmat Allah Mohammad Othman, secretário de Estado do ministro sudanês dos Negócios Estrangeiros, afirma que o mandado tem motivos políticos. E diz não está a par de uma deterioração da situação humanitária. "Isso não se confirma. Eu próprio estive há duas semanas no Darfur. Ninguém se queixou da situação humanitária na região. Alguns parecem confundir o Darfur com outros países ou outras partes do Sudão."
O secretário de Estado nega também os rumores que sugerem que o Sudão – desde 2011, dividido entre Sudão e Sudão do Sul – continua a enviar armas para o Darfur, apesar do embargo das Nações Unidas. Sobre o tópico, o chefe da missão de paz no Darfur, Ibrahim Gambari, mede as palavras numa entrevista exclusiva à Deutsche Welle: "Obviamente, há armas em jogo enquanto o regime estiver a lutar contra grupos armados", diz, destacando que o primeiro passo a dar é cessar as hostilidades na região. "E a única forma de isso acontecer é através de um acordo de paz amplo e que englobe todos os partidos, que comprometa o governo e os grupos armados", acrescenta.
As negociações de paz têm sido extremamente complicadas. Do lado dos rebeldes, há vários grupos com diferentes interesses e ideologias. Em 2011 foi assinado um acordo de paz, mas apenas pelo governo e por um grupo rebelde.
Ibrahim Gambari está, no entanto, convencido de que as Nações Unidas irão continuar a mediar o processo e que o mandato do Conselho de Segurança será prolongado por mais um ano. No entanto, Gambari não pede mais soldados: "A segurança melhorou em muitas partes do Darfur. Isso permite à UNAMID (Missão das Nações Unidas e da União Africana no Darfur) reagrupar as suas forças. Podemos reduzir o efectivo militar, sem colocar em causa o nosso contributo para a segurança no Darfur", calcula.
Autores: Adrian Kriesch/Guilherme Correia da Silva
Edição: Renate Krieger/António Rocha