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Conflito no Médio Oriente: Os impactos em África

Martina Schwikowski
27 de junho de 2025

Segundo especialistas, os efeitos do conflito no Médio Oriente estão a atingir África de forma bastante indireta: o maior perigo ameaça o Corno de África se o Irão e os rebeldes Houthi unirem-se ainda mais.

Egito Cairo 2025 | Refugiados sudaneses aguardam pelo regresso a casa
Refugiados sudaneses no Egipto aguardam pelo regresso a casaFoto: Mohamed Elshahed/Anadolu/picture alliance

O conflito entre Israel e o Irão ameaça aumentar a instabilidade no Médio Oriente e pode ter consequências para os países do continente africano.

Hendrik Maihack, chefe do Departamento de África da Fundação Friedrich Ebert, vê o maior perigo para o Corno de África: "Se a guerra com o Irão continuar a escalar, existe o perigo de as várias guerras inter-relacionadas em torno do Mar Vermelho também se expandirem como resultado".

"Isto porque o Irão coopera com os rebeldes Houthi no Iémen, que, por sua vez, também cooperam com a milícia Al-Shabab na Somália. Isto poderia representar uma ameaça adicional para o Corno de África - uma região que se encontra na crise mais profunda dos últimos 30 anos, com guerras na Somália, Sudão e Sudão do Sul, sem solução à vista", explica. 

Segundo Maihack, isto torna ainda mais importante que a Alemanha e a Europa se envolvam mais não só no Médio Oriente, mas também na região do Corno de África. O foco não deve ser apenas as guerras no Médio Oriente e na Ucrânia, mas também no continente vizinho a sul, onde a guerra e os conflitos da África Ocidental à África Oriental estão atualmente a "aumentar em vez de diminuir" - com impacto na Europa.

Refugiados do Campo de Zamzam, um acampamento improvisadoFoto: AFP

Crise no Corno de África pode agravar-se

Guido Lanfranchi, do Instituto Clingendael de Relações Internacionais, nos Países Baixos, afirma que a cooperação entre o grupo militar Huthi, apoiado pelo Irão, e as milícias terroristas Al-Shabab, na Somália, intensificou-se.

Tanto o Irão como Israel têm cultivado as suas relações na região do Corno de África e do Mar Vermelho, que é de importância geoestratégica para ambos os atores. Por exemplo, o Irão forneceu recentemente armas às Forças Armadas Sudanesas (SAF). Por outro lado, Israel mantém relações estreitas com a Etiópia e, só nos últimos meses, houve várias reuniões a nível ministerial entre as duas partes.

Os especialistas alertam para o facto de os efeitos da guerra no Médio Oriente se poderem fazer sentir em todo o continente, prevendo potenciais perturbações no comércio, maior instabilidade dos mercados e uma pressão económica crescente.

De acordo com Romane Dideberg, investigadora do programa para África do grupo de reflexão Chatham House, com sede em Londres, a "turbulência que se vive atualmente no Médio Oriente terá efeitos geopolíticos indiretos em África”.

O Irão e Israel têm ambos uma influência económica, diplomática e estratégica limitada em África. Ambos os países investiram muito pouco em África e não têm realmente uma estratégia para África, como outros atores semelhantes na região.

O conflito armado na RDC mostra-se longe do fim Foto: Jonas Gerding/DW

O papel de mediação do Qatar no Congo enfraqueceu

O Qatar tem desempenhado um papel muito ativo na mediação em vários países africanos nos últimos anos e, mais recentemente, desempenhou um papel de liderança nos esforços de mediação regional entre o Ruanda e a República Democrática do Congo (RDC).

No que diz respeito ao jihadismo na África Ocidental, Dideberg não vê ligações diretas aos representantes do Irão, uma vez que não estão alinhados ideologicamente. Mas poderiam ser encorajados nos seus esforços de recrutamento, uma vez que os acontecimentos na Palestina e em Gaza lhes deram argumentos e legitimidade, o que poderia apoiar os seus objetivos de contrariar o imperialismo ocidental.

No entanto, Ulf Lessing, responsável pelo programa Sahel da Fundação Konrad Adenauer, diz que o Irão tem sido visto na África Ocidental como um apoiante noutros aspetos: "O Irão não apoia grupos jihadistas, pelo que não creio que haja grande diferença. A única coisa é que os países do Sahel, governados por militares, podem receber menos apoio do que esperavam, por exemplo, com a compra de drones".

E Lessing acrescenta: "O Irão também queria desenvolver isto primeiro, por isso, provavelmente, não haverá muita influência nas questões de segurança a curto prazo".

De acordo com os especialistas, existe também uma grande preocupação com o aumento dos preços do petróleo nos países da África Ocidental. Isto deve-se ao facto de muitos destes países estarem dependentes das importações. Como resultado, e esperado que os preços dos alimentos subam e que a pobreza aumente.

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