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Conflito Rússia-Ucrânia: O papel da China no acordo de paz

Nelson Camuto (São Paulo)
23 de março de 2022

Vários líderes ocidentais olham para a China como um possível mediador das negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia, mas especialistas consideram a hipótese improvável. E Pequim diz não ceder a pressões do Ocidente.

China Präsident Xi Jinping World Economic Forum
Foto: Huang Jingwen/XinHua/AP/picture alliance

A posição da China em relação ao conflito Rússia-Ucrânia continua incerta. Pequim reafirmou estar do lado "certo" da história, mas o líder chinês Xi Jinping continua sem classificar como invasão o ataque ordenado pelo Presidente russo, Vladimir Putin.

Durante a vídeochamada realizada este sábado (19.03) entre Xi Jinping e o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o líder da China defendeu a necessidade de se acabar o mais depressa possível com a guerra e apelou aos países da NATO que mantivessem o diálogo com a Rússia. Não atribuiu, contudo, a culpa ao país de Vladimir Putin, reforçando apenas a manutenção da paz mundial.

Apesar de os líderes ocidentais esperarem que a China desempenhe um papel mais ativo nas negociações, os especialistas dizem que é improvável que Pequim ponha em risco os laços com Moscovo.

"A China não aceitará qualquer coação ou pressão externa, e opõem-se a quaisquer acusações e suspeitas infundadas contra a China", disse o ministro das Relações Internacionais chinês, Wang YI, no sábado à noite (19.03), de acordo com uma declaração publicada pelo seu ministério no domingo (20.03).

Os comentários de Wang YI surgiram depois do Presidente dos EUA, Joe Biden, ter avisado Xi Jinping, na sexta-feira (18.03), sobre as "consequências" que Pequim poderá sofrer, caso decida apoiar a invasão da Ucrânia por parte da Rússia.

Xi Jinping diz a Joe Biden que não aceita qualquer pressão do Ocidente Foto: Susan Walsh/AP/picture alliance

China defende soberania ucraniana

A China defende que os princípios estabelecidos na Carta das Nações Unidas devem ser respeitados, de modo a manter a paz. Um dos princípios é que os Estados-membros devem respeitar a "igualdade soberana".

Zhao Lijian, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, sublinhou que o Governo chinês deplora a situação humanitária vivida na Ucrânia, onde milhares de pessoas morreram e milhões tiveram de fugir das suas casas.

"A vida humana é preciosa e as vítimas civis, independentemente das circunstâncias, são sempre tristes e lamentáveis. É fundamental que ambas as partes parem de lutar o mais rápido possível, que garantam a segurança e as necessidades básicas dos civis e que evitem uma crise humanitária maior", disse Zhao Lijian.

Alto Comissariado da ONU para os Refugiados indica que já 3,48 milhões de pessoas fugiram da guerra na UcrâniaFoto: Str/AA/picture alliance

Pequim não condena invasão russa

No entanto, Pequim continua a recusar condenar a invasão russa da Ucrânia. Na votação de uma resolução contra Moscovo nas Nações Unidas, a China absteve-se.

O governo de Xi Jinping opôs-se às sanções contra a Rússia, que diz serem unilaterais e não autorizadas pelo conselho de segurança.

A China e a Rússia são países vizinhos, cada vez mais próximos, com economias que se complementam. Moscovo envia para Pequim produtos agrícolas e energia, como petróleo, gás e carvão, e Pequim envia para Moscovo televisões, telemóveis, computadores e peças de carros.

Exportação de energia para a China é um dos pontos estratégicos da RússiaFoto: Alexei Druzhinin/Russian Presidential Press and Information Office/TASS/dpa/picture alliance

China poderá pender mais para a Rússia?

Christoph Heusgen, antigo consultor de política externa da chanceler alemã Angela Merkel, explicou em entrevista à DW que, caso a China decida apoiar Moscovo, arrisca-se a perder os laços económicos com outros parceiros importantes – a Europa e os Estados Unidos.

"A China sabe que ao apoiar a Rússia perde o estatuto de país que está a tentar conquistar o mundo e de país que representa um novo poder nas Nações Unidas – uma organização que respeita a soberania", disse Christoph Heusgen.

Outros especialistas apontam que a China tem agora uma oportunidade para investir em áreas estratégicas da Rússia, Pequim poderia reduzir a sua dependência do Ocidente. Mas o diplomata alemão Christoph Heusgen acredita que Pequim está na corda bamba.

"A China não quer dececionar a Rússia, mas sabe que Putin pode arrastá-la para algo que terá sérias repercussões. Os Estados Unidos estão a observar tudo com muito cuidado", afirma o diplomata alemão.

É também por isso que vários analistas consideram que dificilmente a China se irá voluntariar para mediar o conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

A neutralidade da China levou a Suíça a anunciar que está disposta a mediar o conflito e a acolher no seu país as negociações entre Kiev e Moscovo. O Presidente suíço, Ignazio Cassis, viajou esta segunda-feira (21.03) até à Polónia para avaliar a ajuda humanitária que poderá oferecer aos refugiados.

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