Confrontos e tensão marcam regresso de Mondlane a Moçambique
9 de janeiro de 2025Disparos foram ouvidos na manhã desta quinta-feira (09.01) nas redondezas do Aeroporto Internacional de Mavalane, em Maputo. No entanto, milhares de apoiantes de Venâncio Mondlane não se deixaram intimidar na tentativa de testemunhar a chegada do político.
A polícia bloqueou todos os acessos ao aereporto, deixando passar apenas jornalistas e viajantes.
Há quem tenha chegado atrasado ao trabalho.
"Sou funcionário daqui pertinho, mesmo ao lado do aeroporto, e não tenho nada a fazer. É o nosso país, é o nosso partido, a FRELIMO, a dar ordens erradas. E as Força de Intervenção Rápida só fazem o que a FRELIMO manda", lamenta o funcionário.
Na Avenida Acordos de Lusaka, que dá acesso direto ao aeroporto, havia uma multidão, muitos carros parados e muito fumo por causa dos disparos de gás lacrimogéneo.
Rui Carlos diz que não entende a ação da polícia: "Já estamos cansados de mortes. Não sabemos porque é que a polícia está a disparar contra nós. Não fizemos mal. Saímos das nossas casas para irmos ver o nosso presidente."
Venâncio chegou sem que os apoiantes estivessem no local para o receber. O candidato falou à imprensa e garantiu que o seu regresso não resulta de nenhum acordo político.
"O meu regresso é uma decisão unilateral. Como vocês sabem, já tinha feito um ofício ao Presidente da República a dizer que, para nós irmos ao diálogo, havia uma série de pré-condições. Ele nunca satisfez essas pré-condições. Independentemente da falta de resposta, eu disse: mesmo com todos os riscos, eu vou a Moçambique", sublinhou à chegada.
"Juro pela minha honra servir a pátria"
Em seguida, Mondlane surpreendeu ao prestar juramento de tomada de posse junto aos jornalistas.
"Eu, Venâncio Mondlane, presidente eleito pelo povo moçambicano, não pelo Conselho Constitucional, não pela CNE, mas eleito pela vontade genuína do povo, juro pela minha honra servir a pátria moçambicana e aos moçambicanos. Juro pela minha honra respeitar a Constituição e as leis, e usar todas as minhas energias físicas, psicológicas, intelectuais e emocionais em benefício desta terra, para que, em cinco anos ou em dez anos, se torne uma das maiores nações do mundo. Digo tudo isto na qualidade de presidente eleito pelo povo moçambicano."
Do lado de fora, nas ruas de Maputo, ouviam-se disparos.
Mondlane percorreu algumas artérias da capital com milhares de jovens a acompanharem a caravana.
Chegados ao mercado Estrela Vermelha, no centro de Maputo, houve confrontos entre a polícia e os apoiantes. Dois jovens foram baleados, sendo que um deles na cabeça.
"Ele perdeu a vida, levou um tiro. Será que estamos a morrer porque não votámos na FRELIMO? Não sei qual é o mal que fizemos", diz um morador que estava no local.
Por isso, Venâncio Mondlane voltou a destacar que uma das razões por que regressa a Moçambique são os assassinatos dos seus seguidores.
"Não posso estar ao fresco, bem protegido, enquanto o próprio povo, que suporta a minha candidatura e os meus valores, está a ser massacrado. Então eu estou aqui para testemunhar isso, justamente para monitorar esse processo, visitar as valas comuns, para gritar em favor desses moçambicanos que estão a ser assassinados."
Nesta quinta-feira (09.01), o presidente cessante, Filipe Nyusi, reuniu-se com três dos quatro candidatos que concorreram às eleições de 9 de outubro.