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Cafunfo: Onde estão os resultados do inquérito prometido?

10 de agosto de 2021

Organização angolana diz que 100 pessoas morreram nos confrontos em Cafunfo, no final de janeiro. Versão oficial continua a reportar seis mortes. Analistas duvidam que haja um inquérito independente sobre o caso.

Protesto em fevereiro de 2021, em Luanda, contra a violência policialFoto: Borralho Ndomba/DW

Oficialmente, a polícia continua a afirmar que houve seis mortos nos confrontos entre as forças de segurança e pessoas ligadas ao Movimento do Protetorado Português Lunda Tchokwe, a 30 de janeiro. Mas a Associação Juvenil para o Desenvolvimento Comunitário de Angola (AJUDECA) apresentou esta terça-feira (10.08) um relatório em que fala em 100 mortes.

"Há necessidade cada vez mais de um trabalho mais profundo" para apurar o que passou em Cafunfo, afirma Manuel Pembele, membro da AJUDECA. "Este relatório é um impulso nesse sentido."

Questionada pela DW África, a Procuradoria-Geral da República refere que não tem conhecimento destes números. O jornalista Salgueiro Vicente não se surpreende.  

"Nem vou dizer se acredito no número de mortes avançado no relatório porque, na verdade, os números podem ser superiores", diz Vicente.

À espera do inquérito

Vários deputados da oposição foram até à província da Lunda Norte para investigar os acontecimentos de 30 de janeiro, descritos como um "massacre". Na altura, houve até quem lembrasse as mortes no monte Sumi, em 2015, após confrontos entre a polícia e membros da seita  "A Luz do Mundo", de José Julino Kalupeteka.

Em fevereiro, num relatório conjunto da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) e Partido de Renovação Social (PRS) sobre os incidentes em Cafunfo, os partidos falaram em pelo menos 23 mortos, 21 feridos e 10 desaparecidos.

A ativista angolana Laura Macedo continua à espera do inquérito final das autoridades governamentais.

"Até hoje não conseguiram apresentar. Mas não espero muito do Governo. Nunca vamos conseguir saber quem é que começou as mortes no monte Sumi nem quem é que matou em Cafunfo", afirma Macedo.

O jornalista Salgueiro Vicente também não acredita num relatório final: "Naquele que foi feito logo depois das manifestações, o que ficou claro é que o Governo tinha chegado à conclusão de que seis pessoas haviam morrido, o que não é verdade, de acordo com várias organizações da sociedade civil."

Detenções

Após os confrontos em Cafunfo, José Mateus Zecamutchima, líder do Movimento do Protetorado Português Lunda Tchokwe (MPPLT), foi detido, indiciado dos crimes de rebelião e associação de malfeitores. Zecamutchima rejeita as acusações.

A ativista Laura Macedo lembra que, como ele, há várias pessoas que estão detidas, embora sobre isso "ninguém fale".

"Continuamos todos a falar sobre Zecamutchima. Mas, como ele, há presos no Dundo e em Saurimo. Algumas pessoas [foram detidas] porque são membros do protetorado, outras porque são familiares de membros do protetorado."

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