Confrontos em protesto pela demissão do Presidente em Bissau
Lusa | mjp
27 de maio de 2017
Polícia usou gás lacrimogéneo em confrontos com os manifestantes. Várias pessoas ficaram feridas. Manifestação começou por não ser autorizada mas acabou por receber “luz verde” das autoridades.
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Uma manifestação do Movimento Jovens Inconformados da Guiné-Bissau resultou em vários feridos, este sábado, depois de a polícia reagir às provocações de manifestantes que insistiam em chegar à Praça dos Heróis Nacionais, onde está situada a Presidência da Republica. Segundo a agência Lusa, os polícias entraram em confronto com os manifestantes, depois de estes terem atirado água, pneus e pedras aos agentes.
Pelo menos 12 manifestantes do Movimento Jovens Inconformados da Guiné-Bissau deram entrada no Hospital Nacional Simão Mendes, em Bissau, com ferimentos, revelou fonte hospitalar. A organização dá conta de 21 pessoas feridas. Do lado da polícia, dois agentes terão ficado feridos.
Durante a manifestação deste sábado, a polícia tentou impedir a passagem dos jovens para a Praça dos Heróis Nacionais, mas os participantes no protesto continuaram a tentar avançar para a zona da Presidência, o que levou a polícia de intervenção rápida e a Guarda Nacional a disparar gás lacrimogéneo e a usar a força física. No local encontravam-se também presentes muitas crianças.
A agência Lusa contatou o comando da policia de Bissau, mas ainda não obteve resposta, tendo apenas a informação de que há, pelo menos, dois agentes de autoridade feridos, para além de 12 manifestantes que foram encaminhados para o Hospital Nacional Simão Mendes, em Bissau.
Os Inconformados exigem a renúncia do Presidente, José Mário Vaz, que acusam de ser o principal responsável pela crise no país. O movimento, constituído essencialmente por associações de jovens e de mulheres, tem promovido manifestações de rua para exigir ao chefe do Estado guineense que abandone o poder.
Protestos vão continuar
O presidente do Movimento de Cidadãos Inconformados com a situação política na Guiné-Bissau, Sana Canté, disse que os protestos vão persistir e pediu à comunidade internacional para não facilitar na resolução da crise: "Vamos persistir. Não podem impedir as nossas manifestações porque o nosso Estado é soberano e ninguém pode impedir a nossa liberdade de expressão".
Para Sana Canté, o "principal responsável pela crise está identificado [referindo-se ao Presidente do país, José Mário Vaz] e a comunidade internacional não pode facilitar". Segundo Sana Canté, os ânimos na manifestação exaltaram-se porque a polícia espancou um grupo de jovens que tentou chegar ao edifício da UDIB, também junto à Presidência guineense.
"Há 21 pessoas feridas e há detidos, que ainda não consigo precisar", disse Sana Canté, sublinhando que foram detidas em casa pessoas que não participaram na manifestação, mas que apoiam o movimento
PAIGC aponta o dedo ao Presidente
O Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo (PAIGC) acusou entretanto o Presidente guineense, José Mário Vaz, de ter ordenado o "uso desenfreado de força e repressão" sobre os manifestantes que protestaram em Bissau.
"Gorada a tentativa de impedir a realização da marcha, esgotados todos os argumentos legais e inconstitucionais para o efeito, José Mário Vaz ordenou ao seu Governo, a mobilização de uma carga mista, policial e militar, e o uso desenfreado da força e da repressão, tendo resultado no ferimento grave de várias dezenas de manifestantes e ainda prisão de outros tantos", afirmou o presidente do partido, Domingos Simões Pereira.
Domingos Simões Pereira falava aos jornalistas em conferência de imprensa convocada após os confrontos registados entre a polícia e os manifestantes que participaram no protesto contra o Presidente guineense.
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.