1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Confrontos interreligiosos podem levar à guerra na Nigéria

12 de janeiro de 2012

Os sindicatos do petróleo da Nigéria anunciaram adesão à greve geral contra o aumento dos preços de combustíveis que agita o país já desestabilizado por confrontos interreligiosos, que preocupam agora a ONU.

A greve geral na Nigéria já dura quatro diasFoto: dapd

Os sindicatos do petróleo da Nigéria anunciaram esta quinta-feira (12/01) que vão interromper a produção, a partir de domingo, em apoio à greve geral contra o aumento dos preços de combustíveis que agita o país.

A greve e as manifestações que paralisam a Nigéria, o maior produtor africano de petróleo, com cerca de 2,4 milhões de barris por dia, colocaram o governo sob uma crescente pressão numa altura em que as autoridades procuram acabar com os ataques do grupo radical islâmica Boko Haram.

Em Genebra, na Suíça, a Alta Comissária da ONU para os direitos do homem, Navi Pillay, indicou esta quinta-feira que o Boko Haram e outros grupos poderão ser acusados de crimes contra a humanidade se a justiça comprovar que a seita e outros cometeram ataques sistemáticos contra a população.

Os últimos ataques do Boko Haram mataram cristãos e as violências que visaram os muçulmanos no sul do país fazem temer a expansão do conflito, chegando ao ponto de alguns nigerianos evocarem o perigo de uma guerra civil no país mais populoso de África, com seus 160 milhões de habitantes.

Na última quarta-feira, dez mil pessoas estiveram reunidas na maior cidade da Nigéria, Lagos. Porém a manifestação foi marcada por incêndios provocados por jovens e ataques com pedras a carros de polícia.

Boko Haram tem simpatizantes no Estado, no Parlamento e nos serviços de segurança, segundo o presidente nigerianoFoto: dapd

Guerra declarada

Ao mesmo tempo, a seita radical islâmica Boko Haram divulgou um vídeo na internet no qual o líder, o Imam Abubakar Shekau, assume autoria dos confrontos com o poder nigeriano.

Além disso, ele anunca novos ataques, numa reação aos recentes discursos do presidente Goodluck Jonathan e do presidente da Associação Cristã da Nigéria: "Temos sido descritos como um cancro para a sociedade nigeriana e gostaria de desmentir isso.Todos sabem do processo em que o nosso líder foi morto e todos sabem que os nossos membros foram torturados como também as comunidades muçulmanas durante muito tempo."

Abubakar Shekau diz que o seu grupo está a registar algum sucesso e é por isso que o mundo está a reagir, entretanto lamenta: "Mas durante mais de dez anos, apesar de tudo que foi feito por nós, ninguém disse nada."

O vídeo mostra por 15 minutos o Imam Abubakar Shekau a evocar as violências enfrentadas pelos muçulmanos em diferentes regiões da Nigéria e a reafirmar a sua legitimidade em defendê-los.

A atual violência contra os cristãos é pior que a guerra civil dos anos de 1960, acredita o presidente Goodluck JonathanFoto: AP

Islão na base do diálogo

Quanto ao diálogo proposto pelo presidente Goodluck Jonathan, Abubakar Shekau afirma: "Sim, estamos prontos para dialogar, mas esse diálogo deve basear-se nos princípios do Corão e não em outra coisa qualquer. Allah fala do princípio do diálogo no Corão.Também quero esclarecer que seguimos a via salafita do Islão."

Entretanto, os analistas sublinham que as violências religiosas e étnicas crescentes em diferentes regiões da Nigéria fizeram com que a população tema o caos no país dividido entre um norte essencialmente muçulmanos e um sul maioritáriamente cristão.

Recorda-se que desde os sangrentos atentados no dia do Natal que mataram 49 pessoas, sete ataques contra cristãos provocaram pelo menos 88 mortos, cuja maioria foi reivindicada pela seita radical islâmica Boko Haram.

Autor: António Rocha
Edição: Nádia Issufo/Bettina Riffel

Saltar a secção Mais sobre este tema

Mais sobre este tema

Ver mais artigos