Congo democrático clama vitória contra rebeldes do M23
5 de novembro de 2013 Kinshasa proclamou o que considera ser "a vitória total" sobre os últimos membros da rebelião – entre 200 e 300 homens, segundo estimativas, que se entrincheiraram nas colinas situadas a 80 quilómetros a norte de Goma, a capital da província do Kivu do Norte. A notícia foi confirmada pelo porta-voz do exército governamental congolês na região, o tenente-coronel Olivier Amuli.
O golpe fatal contra os rebeldes do M23 começou com uma ofensiva na noite de segunda para terça-feira (04.11 e 05.11.2013).
"Ocupámos os últimos santuários do M23, onde o movimento se retirou para poder começar com a rebelião contra a República Democrática do Congo (RDC), há cerca de 18 meses", afirmou o porta-voz do exército congolês. "Unidades especiais das FARDC realizaram operações que conduziram à completa destruição dos paióis de armamentos. Assim, os rebeldes não tiveram outra alternativa senão abandonar as suas posições e a região."
Vitória histórica
Observadores notam que esta se trata de uma vitória histórica para o exército congolês, que já foi inclusive classificada como a maior vitória militar de Kinshasa nos últimos cinquenta anos.
Ao que tudo indica, o exército governamental congolês, apoiado logisticamente pela Missão da ONU para a estabilização da RDC (MONUSCO) enfrentou sozinho os rebeldes do M23 desde 25 de outubro. Na segunda-feira, recebeu apoio concreto dos capacetes azuis, depois da morte de seis civis que foram vítimas de tiros de morteiros disparados contra a localidade de Bunagana, na fronteira ugandesa. Dois helicópteros sul-africanos tiveram que intervir e bombardearam um centro de comando do grupo rebelde.
Novos alvos
Após a conquista das zonas ocupadas pelo M23, segue-se agora uma "autêntica caça" aos outros grupos armados que operam na região, afirma ainda Olivier Amuli.
"A próxima etapa é desarmar todos os outros grupos e milícias, tanto nacionais como estrangeiros", disse o porta-voz militar. Se o desarmamento não for feito voluntariamente, Amuli avisou que o exército vai usar a "força", à semelhança do que aconteceu com o M23.
O Kivu do Norte, no leste do Congo democrático, é uma província rica em recursos naturais e um bastião histórico de múltiplas rebeliões, que, ao longo de vinte anos, desestabilizaram a RDC. Foi também desta região que, em 1996, partiu o movimento armado liderado por Laurent-Désiré Kabila (pai do atual presidente Joseph Kabila) e que, no ano seguinte, com a ajuda do vizinho Ruanda, derrubou o ditador zairense Mobutu Sese Seko, em Kinshasa.
Depois disso, o Kivu do Norte foi o epicentro da grande guerra africana de 1998 a 2003, na qual estiveram envolvidos vários países em todo o território congolês.
Desde essa altura que vários grupos rebeldes não cessam de desestabilizar o leste da RDC e também toda a região. Esses movimentos são na sua maioria compostos por tutsis congoleses.
Futuro do M23?
Esta terça-feira, depois da ofensiva do exército congolês, o M23 anunciou o "fim da rebelião".
O grupo rebelde disse estar disponível para chegar a uma solução pacífica com o Governo. O chefe da ala política do movimento, Bertrand Bisimwa, apelou num comunicado a todos os elementos do M23 para se prepararem para o desarmamento, desmobilização e reintegração, segundo os acordos que serão estabelecidos com o governo de Kinshasa.
Entretanto, o correspondente da DW África na região de Goma, John Kanyunyu, conseguiu entrar em contacto telefónico com Roger Lumbala, chefe-adjunto da delegação do M23 em na capital ugandesa, Campala. Sobre o futuro do movimento, Lumbala disse que só falaria depois de estar completamente informado sobre a situação no terreno: "Só nessa altura tomaremos uma posição através de uma declaração."
Na segunda-feira, a comunidade internacional encorajou as duas partes a chegarem a um acordo final. Os vizinhos da RDC, reunidos em Pretória, solicitaram ao Governo de Kinshasa para aceitar "publicamente" o anúncio do desmantelamento da rebelião para precisamente permitir a assinatura de um acordo formal nos próximos cinco dias.
O acordo deverá basear-se nas discussões que as duas partes têm mantido desde dezembro em Campala, mas que foram interrompidas há várias semanas na sequência de vários desentendimentos, nomeadamente devido à questão de uma amnistia que poderá beneficiar os rebeldes.