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MPLA: José Eduardo dos Santos diz adeus à política ativa

Lusa
8 de setembro de 2018

O ex-Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos entrega este sábado o poder no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) ao atual chefe de Estado angolano, João Lourenço.

Angola Luanda Parteitag der MPLA
Foto: DW/A. Cascais

O presidente cessante do MPLA, José Eduardo dos Santos, despediu-se este sábado, em Luanda, das funções, assumindo que cometeu erros ao longo dos quase 40 anos no poder em Angola, mas garantindo que sai de "cabeça erguida".

"Não existe, naturalmente, qualquer atividade humana isenta de erros e assumo que também os cometi, pois só deste modo os podemos ultrapassar", disse o também ex-chefe de Estado angolano (1979-2017), no discurso de abertura do sexto congresso extraordinário do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), convocado para eleger João Lourenço como novo líder do partido.

"Esta é a minha última intervenção na qualidade de presidente do MPLA", começou por afirmar, recordando que assumiu aquele cargo em 21 setembro de 1979, após a morte do então presidente e chefe de Estado, António Agostinho Neto.

"É de cabeça erguida que estou neste grande conclave do nosso partido", disse ainda, ao dirigir-se aos mais de 2.000 delegados, ao mesmo tempo que se assumiu "pronto para passar a liderança do partido ao próximo presidente", mas sem referir o nome de João Lourenço, vice-presidente e chefe de Estado, que será eleito hoje líder do MPLA.

"Deixo-vos o meu modesto legado, para que continuem a trilhar os caminhos das nossas figuras", afirmou, por entre vários momentos de palmas dos delegados.

Na cerimónia de encerramento, com início marcado para as 14:00, está prevista a apresentação de presidente eleito do MPLA, João Lourenço, e o seu primeiro discurso nas funções.

O conclave do MPLA põe fim a 39 anos de liderança de José Eduardo dos Santos - aos 76 anos, é a única função política que exerce -, depois de não se ter apresentado às eleições gerais de agosto de 2017, deixando a Presidência da República 38 anos depois de a ter assumido, após a morte, em setembro de 1979, do primeiro chefe de Estado de Angola, Agostinho Neto.

Ainda assim, o ex-Presidente da República alimentou a dúvida sobre a saída - foi eleito para um mandato de cinco anos no congresso de 2016 -, até que a anunciou, a 25 de maio último, aos membros Comité Central do MPLA. "Tudo o que tem um começo tem um fim", disse na altura.

Abertura do VI Congresso Extraordinário do MPLA, em LuandaFoto: DW/A. Cascais

Mexidas nos "núcleos duros"?

Do congresso extraordinário deste sábado são de esperar mudanças nos órgãos do partido,como o Bureau Político, o Secretariado e o Comité Central, cuja composição, na sua essência, transitou do último congresso ordinário, realizado em 2016, sob proposta de José Eduardo dos Santos.

A bicefalia nas estruturas de poder em Angola - João Lourenço é Presidente da República e vice-presidente do MPLA e José Eduardo dos Santos o presidente do partido - vai, assim, terminar, desconhecendo-se até que ponto irá o futuro líder partidário mudar o "núcleo duro".

Uma das várias incógnitas do congresso, que tem como lema "MPLA - Com a Força do Passado e do Presente, Construamos um Futuro Melhor", é saber quem será o vice-presidente de João Lourenço no partido.

Por outro lado, tal como resumiu o académico angolano Fernando Manuel, além de se preverem mexidas nos "núcleos duros" dos diferentes órgãos do partido, um dos objetivos de João Lourenço deverá passar por dissipar a ideia da existência de fraturas internas.

Tudo, acrescentou, tendo em conta o que João Lourenço tem feito na área da governação, afastando-se das ideias e da teia em redor de José Eduardo dos Santos, sem que isso possa afetar a unidade do MPLA e, sobretudo, o "núcleo duro" que se mantém ligado ao ainda líder do partido e ex-Presidente de Angola.

A "transição" do "arquiteto da paz", como se refere o MPLA a José Eduardo dos Santos, que tem recebido inúmeras homenagens um pouco por todo o país nos últimos dias, para as mãos de João Lourenço tem sido alvo de algumas tensões internas no partido, que, tal como referiu Fernando Manuel, têm agudizado "as insinuações da existência de clivagens no seio do MPLA".

A 7 de julho, no lançamento do congresso, o secretário-geral do MPLA, Paulo Kassoma, adiantou que o conclave terá como ponto único da agenda de trabalhos a conclusão do "processo de transição política na presidência" do partido.

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