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Congresso do PAIGC: Há "forte oposição" a Simões Pereira

Iancuba Dansó (Bissau)
18 de novembro de 2022

Arrancou o X Congresso Ordinário do PAIGC. Domingos Simões Pereira concorre à sua sucessão na liderança do partido, mas há outros três candidatos. Analista prevê uma "luta séria", muito difícil.

Líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira
Líder do PAIGC, Domingos Simões PereiraFoto: DW/I. Dansó

Desta vez, sem impedimentos judiciais, mais de 1.400 delegados estão reunidos, até domingo (20.11), para debater a vida do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), rever os estatutos e eleger um novo líder.

O X Congresso Ordinário do PAIGC tem lugar depois de vários impedimentos por ordem judicial, na sequência de um diferendo entre o partido e um dos seus militantes. 

Edson Araújo, João Bernardo Vieira, Domingos Simões Pereira e Octávio Augusto Lopes concorrem à liderança da formação política.

X Congresso do PAIGC começou esta sexta-feira na vila de GardeteFoto: I. Dansó/DW

Vários delegados vindos da diáspora, na sua maioria da Europa, participam no encontro, mas podem não chegar todos para eleger o novo presidente do partido. O presidente da Comissão Preparatória do Congresso, Manuel dos Santos (Manecas), sugeriu, por isso, uma alternativa, para que ninguém fique de fora no processo de votação.

"Os estatutos não dizem que o congresso tem que se fazer presencialmente", adiantou.

"Nós temos uma proposta que vamos apresentar ao congresso - e só o congresso é que pode fazer isso. Se o congresso aceitar, será possível fazer a diáspora participar no congresso e em outras atividades utilizando as novas tecnologias online".

"Falta democracia interna"

Numa carta enviada, esta sexta-feira, à Comissão Preparatória do X Congresso, Raimundo Pereira e Martilene dos Santos, que antes se apresentaram como candidatos à liderança dos "libertadores", desistiram da corrida, alegando "várias irregularidades" na preparação do congresso. 

Martilene dos Santos disse que há um défice de democracia no PAIGC. "Ao longo deste processo [do congresso], conheci pessoas com vontade imensa de mudança, mas que não puderam pronunciar-se, porque têm medo da opressão", denunciou.

"O PAIGC lutou para acabar com a opressão e libertar o povo guineense, não podemos limitar a liberdade. O partido criou a comissão de reconciliação, ao longo de seis meses. Tiveram muitas reuniões com todos os candidatos. Mas vamos ao congresso sem dar oportunidade a esses camaradas [da comissão] de apresentarem o relatório da reunião."

Fransual Dias: "Constituir uma oposição será muito mau para os dois"Foto: privat

Ouvido pela DW África, o analista político Fransual Dias não acredita que os dois candidatos desistentes possam formar uma ala de oposição interna depois do congresso.

"Eles podem ter, sim, pontos de vista divergentes, mas constituir uma oposição será, de facto, muito mau para os dois, na medida em que Domingos Simões Pereira foi muito paciente e resistente em relação aos processos judiciais de Bolom Conté", afirma o analista.

Luta "muito difícil" para Simões Pereira

O PAIGC foi quatro vezes impedido de realizar o congresso, devido ao processo judicial intentado pelo militante Bolom Conté, que alegou irregularidades no processo de seleção dos delegados ao encontro. 

Com o processo ganho pelo partido na Justiça, espera-se que o novo líder seja conhecido no domingo, último dia do congresso. 

O sociólogo Ivanildo Bodjam antevê um congresso "muito difícil" para o líder cessante, Domingos Simões Pereira: "Vamos ter uma luta séria entre os candidatos e com grande tendência de mobilização de todos contra um", diz.

Os candidatos poderão formar uma frente única, "contrariando a candidatura de Domingos Simões Pereira", prossegue Bodjam. "Isso pode criar um ambiente de muita pressão interna". 

O PAIGC é a maior formação política da Guiné-Bissau e foi o partido que mais vezes ganhou as eleições legislativas no país, embora nunca tenha conseguido consolidar o poder, devido sucessivas crises internas que em várias ocasiões resultaram na dissidência e expulsão de militantes.

O X Congresso do PAIGC decorre sob o lema: "Consolidação da coesão interna, a luz do pensamento de Amílcar Cabral, pelo resgate do poder popular e promoção do desenvolvimento". O evento decorre na vila de Gardete, no norte da Guiné-Bissau, e mobilizou milhares de militantes e simpatizantes.

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