O primeiro Congresso Pan-Africano realizou-se na capital francesa em 1919. Saía, assim, do papel o ambicioso plano traçado pelo norte-americano W.E.B Du Bois: dar voz ao continente africano no espetro mundial.
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Há 100 anos, a Alemanha tinha acabado de perder a I Guerra Mundial. E Versalhes, em Paris, tinha sido o local escolhido para a negociação de um tratado de paz. O contexto ideal para este primeiro Congresso Pan-Africano, considerou W.E.B Du Bois, considerado um dos pais do pan-africanismo.
O norte-americano queria que o continente africano passasse a ter voz neste período de "transformação do mundo", como explicou à DW Mamadou Diouf, professor de estudos africanos na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. "Os líderes negros entendiam que África devia estar presente durante estas discussões e que as questões africanas tinham de ser apresentadas pelos próprios, de forma a garantir uma presença africana na ordem mundial do pós-guerra", lembra.
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Terminada a I Guerra tornava-se claro que o império colonial alemão em África tinha os dias contados. Era por isso um período favorável, considerava Du Bois, para África apresentar ao mundo as suas reinvindicações.
"Embora Du Bois estivesse relativamente convencido de que os políticos europeus e norte-americanos não dariam independência às colónias, ele pelo menos tentou usar essa situação para dizer que era preciso negociar melhorias muito concretas para as sociedades que viviam nessas colónias", relata Andreas Eckert, professor de História de África da Universidade Humboldt de Berlim.
Blaise Diagne: Aliado fundamental
A realização do Congresso era apoiada por vários líderes negros, tanto em África, como nos EUA e outras regiões do mundo. Mas foram também muitos os que duvidaram da sua concretização. Não foi, no entanto, o caso do senegalês Blaise Diagne que se viria a tornar num aliado chave deste movimento.
Congresso Pan-Africano foi há 100 anos em Paris
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"Foi difícil levar as pessoas a Paris. Para as pessoas das ex-colónias ou para os negros na América do Norte, foi um desafio a obtenção dos passaportes. A realização do Congresso só foi possível graças à iniciativa e influência de Blaise Diagne", afirma Andreas Eckert.
O Primeiro Congresso Pan-Africano acabou mesmo por avançar a 19 de janeiro de 1919 e contou com a participação de 57 delegados africanos. No final do encontro de três dias, os defensores do pan-africanismo delinearam exigências claras: a auto-administração gradual das colónias africanas, liberdade de expressão, o direito à terra e à educação.
Nascimento de um movimento global
Algo que acabaria por atraiar, nos anos seguintes, mais e mais círculos. "[Através do Congresso], os africanos e afrodescendentes uniram-se e deram início a um movimento global. Movimento este que não teve um impacto direto nas negociações, mas que desempenhou um papel importante no período entre as guerras", explica o professor Mamadou Diouf.
Nos anos seguintes, foram-se realizando outros Congressos em cidades como Londres, Nova Iorque e Manchester. O movimento Pan-Africano acabou por influenciar vários jovens africanos que se encontravam a estudar na Europa e que se tornaram, mais tarde, os líderes da independência nos seus países. Foi o caso de Jomo Kenyatta no Quénia ou Kwame Nkrumah no Gana.
Mamadou Diouf lembra que o pan-africanismo acabou por ter um resultado muito prático que foi a criação da União Africana.
50 anos de União Africana
A Organização da Unidade Africana (OUA) nasceu há 50 anos. Em 2002, a União Africana seguiu-lhe os passos. Recordamos cinco décadas de unidade.
Foto: picture-alliance/AP
Uma mulher no poder
Em 2012, Nkosazana Dlamini-Zuma tornou-se a primeira mulher a presidir à Comissão da União Africana (UA). A ex-ministra do Interior da África do Sul trouxe uma nova dinâmica à UA, diziam observadores 100 dias depois de Dlamini-Zuma tomar posse. O grupo de 53 Estados celebra o 50º aniversário a 25 de maio de 2013.
Foto: picture-alliance/dpa
Unidade contra a divisão
Do grupo inicial da Organização da Unidade Africana (OUA) faziam parte todos os 30 países que já tinham conquistado a independência no continente. A união política tentava evitar uma África dividida. Isto porque os estados africanos se polarizavam a favor e contra o Ocidente, influenciados pelas grandes potências da Guerra Fria. Aqui uma fotografia de uma cimeira em 1966.
Foto: AFP/Getty Images
Precursores do pan-africanismo
Kwame Nkrumah (esq.), o primeiro Presidente do Gana, e o imperador etíope Haile Selassie (centro) são dois dos fundadores da OUA. O pan-africanista Nkrumah tinha em mente a criação de uns "Estados Unidos de África" para competir com as forças coloniais e desenvolver um mercado comum. Mas os estados recém-independentes não queriam ir tão longe.
Foto: STR/AFP/Getty Images
Inimigo comum
Um objetivo bastante importante nas primeiras décadas da OUA foi a luta contra o regime racista de 'apartheid' na África do Sul. Logo no ano em que foi criada, a organização criou um comité de libertação. A partir de 1970, a OUA apoiou também a luta armada contra o regime de 'apartheid'.
Foto: AP
Novo impulso para a economia
A OUA quis acelerar o desenvolvimento económico em África com o Plano de Ação de Lagos em 1980. O plano previa, entre outros pontos, a criação de um mercado comum até 2000. Mas, à semelhança de outros projetos da organização, o plano não passou do papel. Em 1991 seguiu-se o Tratado de Abuja, que prevê o estabelecimento de uma Comunidade Económica Africana até 2025.
Foto: DW/P. Hille
Decisão polémica
Apesar da sua política de não se imiscuir nos assuntos de delimitação de fronteiras, a OUA reconheceu em 1982 a "República Árabe Sarauí Democrática" (Saara Ocidental), reivindicada pelo movimento independentista Frente Polisário. Nessa altura, Marrocos saiu da organização. Até hoje, foi o único país que saiu da OUA por livre iniciativa.
Foto: picture-alliance/dpa
Críticas à OUA
O caso do Saara Ocidental continua a ser uma exceção à política de não interferência da OUA. Mas essa posição também levantou críticas. Observadores protestaram contra o chamado "clube dos ditadores" na cimeira anual em Addis Abeba. Um dos poucos críticos na organização foi Yoweri Museveni, que se tornou Presidente do Uganda em 1986.
Foto: OFF/AFP/Getty Images
Atuação em conflitos
No início dos anos 90, a OUA introduziu uma nova política: África queria assumir a responsabilidade pelos seus conflitos. Por isso, criou o chamado "Mecanismo de Paz". No golpe militar no Burundi em 1996, a organização respondeu com sanções. Porém, o "mecanismo" mostrou-se frequentemente incapaz de atuar. Inclusive no genocídio no Ruanda.
Foto: ALEXANDER JOE/AFP/Getty Images
Quem espera…
Grande motivo de contentamento foi a adesão da África do Sul à OUA em 1994, três décadas depois do nascimento da organização. Entretanto, o país desempenha um papel importante em Addis Abeba – para alguns, demasiado importante.
Foto: picture alliance/landov
Uma nova era
Com o fim da Guerra Fria e do 'apartheid' na África do Sul, a OUA tentou começar de novo a partir de 1999. Isso proporcionou ao líder líbio Mouammar Kadhafi (aqui numa cimeira em 2006) uma boa oportunidade para trazer, de novo, à luz do dia a ideia pan-africana dos "Estados Unidos de África". Para a alcançar, Kadhafi utilizou também a sua riqueza, pagando as dívidas de vários estados-membros.
Foto: picture alliance/dpa
OUA torna-se União Africana
Mas Kadhafi não conseguiu que as suas ideias fossem para a frente. O seu plano contribuiu apenas para dividir opiniões depois do lançamento oficial da União Africana em 2002 na cidade de Durban, na África do Sul. O tratado fundador da União Africana prevê, como princípio orientador, o abandono da política de não interferência.
Foto: ALEXANDER JOE/AFP/Getty Images
Instituição sem poder
Ao criar as suas estruturas, a UA usou como modelo a União Europeia (UE) e propôs um Parlamento pan-africano. O órgão foi inaugurado em 2004, sendo constituído por 235 representantes de 47 países. O Parlamento fica na pequena cidade de Midrand, na África do Sul. A distância relativamente à sede da União Africana em Addis Abeba simboliza o limitado poder de influência do Parlamento.
Foto: F. Moalusi/AFP/Getty Images
Luta pela paz
No início do século XXI, conflitos violentos afetavam 20% dos africanos. O foco principal da UA foi, por isso, a paz. Em 2004, a organização criou um Conselho de Paz e Segurança, que está também autorizado a enviar tropas de intervenção. Nesse mesmo ano, a UA enviou soldados para a região sudanesa do Darfur para proteger a população civil. Os desafios continuam a ser muitos.