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PolíticaRuanda

Crítica a Paul Kagame, influencer é condenada no Ruanda

AFP
1 de outubro de 2021

Yvonne Idamange foi condenada a 15 anos de prisão por "incitação à violência". Sobrevivente do genocídio, youtuber tornou-se popular por suas críticas ao Governo de Paul Kagame. Seus vídeos têm média de 100 mil acessos.

54. Münchner Sicherheitskonferenz MSC 2018 Paul Kagame
Foto: picture-alliance/dpa/A. Gebert

O Supremo Tribunal de Kigali condenou esta quinta-feira (30.09) uma youtuber a 15 anos de prisão. Sobrevivente do genocídio de 1994, Yvonne Idamange foi alvo de seis acusações - entre as quais "incitação à violência", depois de criticar o Presidente Paul Kagame no seu canal.

Idamange é uma das várias pessoas que foram condenadas pelas autoridades ruandesas depois de terem recorrido à rede social para publicar conteúdos críticos ao Governo de Kagame, o que suscita preocupação entre os grupos de direitos humanos internacionais.

A influenciadora digital de 42 anos tem quatro filhos e não compareceu ao tribunal para conhecer o veredicto. Sobre Idamange pesam seis acusações. Além dos 15 anos de reclusão, a youtuber terá de pagar uma multa que equivale a mais de 1,7 mil euros.

Sobrevivente do genocídio

Idamange, que sobreviveu ao genocídio de 1994, foi detida em fevereiro por "ter demonstrado um comportamento que mistura política, criminalidade e loucura", disse a polícia ruandesa na altura.

O Supremo Tribunal considerou-a culpada por alegadamente incitar violência e revolta pública, denegrir objetos do genocídio, espalhar rumores e agressões violentas, entre outras acusações.

As acusações baseavam-se em comentários no seu canal YouTube "Idamange", bastante popular no Ruanda, no qual acusava o Governo de ser ditatorial e de explorar o genocídio sem oferecer suficiente bem-estar aos sobreviventes. O seu canal conta com mais de 17 mil subscritores e uma média de 100 mil visualizações por vídeo.

HRW alerta sobre pressão contra críticos do Governo em Kigali (foto)Foto: Imago/photothek/T. Imo

Transmissão online vedada

Idamange acusou o tribunal de parcialidade e boicotou o processo em junho, após o seu pedido de transmissão online do julgamento ser rejeitado pela justiça ruandesa.

O Ruanda é governado por Kagame desde o fim de um genocídio que deixou cerca de 800 mil mortos, principalmente de etnia Tutsi.

Em março, a Human Rights Watch (HRW) lançou um alerta sobre a repressão de Kigali contra pessoas que utilizam o YouTube ou blogs para falar sobre questões por vezes controversas no Ruanda.

A HRW disse então que pelo menos oito pessoas que relataram ou comentaram assuntos atuais - nomeadamente o impacto de medidas rigorosas contra a pandemia, que atingiram duramente os pobres - foram ameaçadas, presas ou processadas no ano passado.

A ONG lembrou uma declaração de 2019 de Kagame para salientar os perigos enfrentados por aqueles que utilizam plataformas online: "Aqueles que ouvem falar na Internet, quer estejam na América, na África do Sul, ou em França, pensam que estão longe... Eles estão longe, mas estão perto do fogo. No dia em que se aproximarem, o fogo vai queimá-los", disse o Presidente ruandês.

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