Conselho de Segurança da ONU debate conflito na Líbia
Tom Allinson | nn | Lusa | AP | Reuters | EFE
18 de abril de 2019
Conselho de Segurança das Nações Unidas reúne-se esta quinta-feira, em Nova Iorque, para analisar situação na Líbia. Conflito já provocou pelo menos 20 mil deslocados e há milhares de migrantes encurralados pela guerra.
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Pelo menos seis pessoas morreram e 35 ficaram feridas nos últimos dias, em mais um bombardeamento no sul de Tripoli. A batalha contra o Governo pelo controlo da capital foi lançada a 4 de abril pelo marechal Haftar, através das forças que lhe são fiéis do Exército Nacional Líbio.
O coordenador da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), Craig Kenzie, destaca a exposição das populações a condições "perigosas e desumanas" e acrescenta que alguns migrantes foram obrigados a integrar as frentes de batalha. "Temos um centro de detenção onde trabalhamos na área de Qasr bin Gashir, do outro lado da linha de batalha, mas não conseguimos ter acesso até ele", explica.
Pelo menos três trabalhadores médicos morreram na sequência dos combates. Doenças como a tuberculose e sarna, assim como a falta de comida e água tornam ainda mais precárias as condições de vida nos territórios afetados.
Refugiados vítimas de "horrores inimagináveis"
Milhares de refugiados e migrantes de todo o continente africano afunilam-se na Líbia na tentativa de chegar à Europa, mas não raras vezes acabam detidos e sujeitos a "horrores inimagináveis", segundo a ONU. Muitos migrantes são mantidos em campos de detenção e sujeitos a trabalhos forçados.
Conselho de Segurança da ONU debate conflito na Líbia
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) estima que um em cada 18 refugiados morreu ao tentar atravessar o Mediterrâneo no ano passado. A atual política europeia que criminaliza os resgates de organizações não-governamentais e recompensa a guarda costeira líbia por deter os migrantes expõe milhares de pessoas a novas tentativas de evasão.
Segundo Jacob Mundy, especialista em conflitos na Universidade de Colgate, nos Estados Unidos, algumas milícias no conflito de Trípoli passaram a ver o controlo dos migrantes como uma fonte de receita. "Uma milícia que controla um centro de detenção pode dizer que é um parceiro internacional construtivo em termos de migração. Por isso, os migrantes tornam-se, em certa medida, numa arma de guerra", explica.
Deslocamento da crise
A União Europeia instaurou uma série de medidas políticas para cortar a rota migratória do Mediterrâneo depois de uma onda de populismo anti-imigração tomar conta da Europa. Essas políticas têm sido criticadas por serem apenas um penso rápido e estarem a financiar milícias que controlam o fluxo de migrantes.
"De uma forma estranha, é uma espécie de deslocamento da crise. Tinha-se uma crise política na Europa, que agora está a ser empurrada para a Líbia e que recai sobre os migrantes", afirma Jacob Mundy.
Na Alemanha, um grupo de cerca de 200 deputados lançou um apelo ao Ministério do Interior para facilitar os resgates de emergência no mar Mediterrâneo.
A comunidade internacional continua dividida sobre a ofensiva líbia. Um projeto de resolução do Reino Unido apresentado no Conselho de Segurança pediu um cessar-fogo e acesso humanitário às zonas de combate, mas não foi unânime com a Rússia a bloquear o projeto na semana passada.
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.