Eleições legislativas na Guiné-Bissau em outubro ou novembro
Braima Darame (Bissau)
1 de março de 2018
Presidente da Guiné-Bissau José Mário Vaz termina auscultação às forças políticas legalizadas no país sobre a marcação da data das eleições. Outubro ou novembro reúne consenso dos partidos.
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Outubro ou novembro do corrente ano são dois meses propostos pelos partidos políticos da Guiné-Bissau ao Presidente da República para a realização das eleições legislativas. A atual legislatura que teve início em 2014 termina oficialmente a 23 de abril.
Foram quatro anos de uma prolongada crise política que resultou na queda de seis primeiros-ministros, sendo apenas o primeiro Governo liderado por Domingos Simões Pereira, presidente do PAIGC, partido vencedor das eleições legislativas de 2014, que conseguiu submeter ao Parlamento o seu Programa de Governação e o Orçamento Geral do Estado.
Recorde-se que o primeiro-ministro, Artur Silva, proposto por José Mário Vaz, a 30 de janeiro, ainda não conseguiu formar Governo, porque as forças políticas não lhe reconhecerem legitimidade.Com o fim da legislatura, o Presidente do país, José Mário Vaz ouviu nos últimos dois dias um total de quarenta e três partidos políticos legalizados no país. A maioria foi unânime em admitir que as eleições só se poderiam realizar no segundo semestre deste ano. O mês de novembro foi o que mais reuniu consenso dos partidos.
Formação de um Governo de consenso?
Vários partidos entendem que José Mário Vaz, antes de avançar para a marcação da data para a realização das legislativas, deveria preocupar-se com a formação de um Governo de consenso que terá a missão de realizar atos prévios a marcação da data para ida as urnas.
Domingos Simões Pereira afirmou ter sublinhando perante o Presidente guineense que o PAIGC "quer as eleições ainda este ano", desde que fossem cumpridas todas as etapas previstas na lei. Para o Presidente do PAIGC, o chefe de Estado guineense quer que o escrutínio só venha a ter lugar em 2019, ano das presidenciais."O Presidente da República deve cumprir o Acordo de Conacri ou a Constituição da República e proceder a nomeação de um Governo de consenso em função dessas disposições. Feito isso, deverá exigir desse Executivo, num prazo mais rápido possível, que lhe seja apresentado um calendário que permita fixar uma data ainda este ano. Isto permitirá que o Parlamento possa nomear novos órgãos da Comissão Nacional das eleições. Agora, não respeitar os pressupostos leva-nos a ponderar que lá no fundo o Presidente não quer eleições em 2018, tal como anunciou no seu roteiro", destacou Simões Pereira.
Condições técnicas inexistentesÀ saída da audiência com o Presidente guineense, o porta-voz do Partido da Renovação Social (PRS), Victor Pereira, disse que partido entende que, obedecendo a realidade no terreno, as eleições poderão decorrer entre 23 de outubro à 25 de novembro do corrente ano.
"Dadas as condições técnicas que não existem, segundo informaram as autoridades competentes, para o PRS as eleições far-se-ão já, mas propomos que decorram entre 23 de outubro à 25 de novembro de 2018. Seria mais sensato".
legislativas em outubro ou novembro
Agnelo Regalla, presidente da União para Mudança (UM), com um assento no Parlamento, disse ter lembrado a José Mário Vaz que tal como a comunidade internacional exige que as eleições legislativas tenham lugar este ano da mesma forma que exorta para que o Presidente respeite o Acordo de Conacri."A primeira entidade a ser ouvida pelo Presidente no quadro das consultas para eleições é o Governo. Um governo inexistente. Portanto, está a colocar a carroça à frente dos bois. Uma coisa é certa, nós queremos as eleições este ano. Não há condições para que elas decorram em maio. Para tal, o Presidente teria que marcar eleições a 20 de fevereiro, o que não aconteceu".
Presidente quer eleições em 2018?
A ideia de que José Mário Vaz não quer as eleições legislativas em 2018, foi também defendida, perante os jornalistas, por Idirssa Djaló, líder do Partido da Unidade Nacional (PUN, extraparlamentar), com a justificação de que o Presidente inicia as consultas com os partidos "sem ter um Governo".
Com o termo das consultas aos partidos políticos, o Presidente guineense, José Mário Vaz deverá fixar através de um decreto presidencial a data para a realização das próximas eleições legislativas na Guiné-Bissau.
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Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.