Constituição de Moçambique traduzida em emakhuwa e changana
Arlindo Chissale
9 de julho de 2019
Moçambique tem finalmente a Constituição traduzida em emakhuwa e changana, as línguas mais faladas do país. Iniciativa é da organização não-governamental Sekelekani.
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Moçambique ganhou na segunda-feira (08.07) as primeiras mil cópias da Constituição da República em emakhuwa e changana, com quase 6 milhões de falantes no país. O texto da Lei Fundamental estava disponível apenas em português desde 1975.
Tomás Vieira Mário, diretor executivo da Sekelekani, a organização responsável pelo projeto, diz que o grande objetivo é que mais pessoas possam ler a Constituição.
Constituição de Moçambique traduzida em emakhuwa e changana
Muitos cidadãos africanos não conhecem as suas leis fundamentais, porque elas "estão todas em línguas europeias", comenta Tomás Vieira Mário. "Então, quisemos contribuir um pouco, trazendo esta Constituição em changana e em emakhuwa, para começar. Assim que houver mais recursos, esperamos alargar a tradução a outras línguas nacionais, que também são dignas".
Inclusão política
Foram necessários 14 mil dólares para a impressão, lançamento e distribuição das primeiras mil cópias da Constituição moçambicana em emakhuwa e em changana.
O desafio agora, segundo a Sekelekani, é divulgar o mais possível estas traduções, fazendo-as chegar a igrejas e centros comunitários no país.
As traduções da Constituição da República servirão como um "instrumento de inclusão política, social e para a materialização plena da cidadania ativa", comenta o presidente da Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e de Legalidade da Assembleia da República, Edson Macuácua.
Segundo o académico Jamisse Taímo, um dos convidados na cerimónia de lançamento das duas traduções da Constituição, em Maputo, o "conhecimento faz parte dos direitos fundamentais de primeira linha de todo o cidadão porque, só com o tal conhecimento, pode exercer plenamente os seus direitos e liberdades."
Espera-se agora que outras línguas se sigam. Além da tradução da Constituição moçambicana em línguas nacionais, a organização Sekelekani empenha-se noutras causas: por exemplo, prepara estudos aprofundados sobre a poluição do meio ambiente na província de Tete e treina ativistas em matérias de tecnologias da informação.
Tempos difíceis para a timbila de Moçambique
Os produtores da timbila debatem-se com dificuldades. Há cada vez menos árvores para a produção deste instrumento tradicional moçambicano da família dos xilofones, classificado como património da humanidade pela UNESCO.
Foto: DW/L. da Conceição
Origem e reconhecimento
A timbila surgiu no século X, de acordo com historiadores. No século XVI, os portugueses começaram a escrever sobre este instrumento musical criado pelo povo Chopi, que reside no distrito de Zavala, em Inhambane. Em 2005, a UNESCO reconheceu a timbila como obra-prima do património oral intangível da humanidade e apelou a uma maior preservação do instrumento.
Foto: DW/L. da Conceição
Escudo e azagaia
Os dançarinos da timbila entram sempre em palco com um escudo e uma azagaia. Significa defesa contra os inimigos na comunidade, segundo a tradição. Ao longo das danças são interpretadas canções de alegria, mas também de tristeza. Os adultos procuram envolver as crianças na preservação desta tradição, que tem sido passada de geração a geração.
Foto: DW/L. da Conceição
Escassez de árvores
Mwenge é a árvore cuja madeira serve de base para o fabrico da timbila. Pode ser encontrada nos distritos de Massinga e Vilankulo. Estes troncos foram comprados em em Vilankulo e custaram cerca de 20 mil meticais (300 euros), depois da burocracia e pagamento das taxas de corte. Estas árvores estão em vias de extinção, o que pode comprometer a produção da timbila nos próximos anos.
Foto: DW/L. da Conceição
Nova estrela da timbila
Simião Venâncio Mbande é filho de Venâncio Mbande, ícone da timbila em Moçambique e pretende seguir os passos do pai. Começou a tocar quando tinha apenas 4 anos e aos 11 anos já é considerado um verdadeiro timbileiro de mãos cheias. O seu maior sonho é ser uma estrela de timbila a nível mundial. Mas para isso precisa de apoio financeiro, diz.
Foto: DW/L. da Conceição
De pequenino se torce... a timbila
Também Edmercio Ofensio é timbileiro desde os cinco anos de idade. Hoje, aos 21 anos, integra o grupo de Guilundo, do mestre da timbila Venâncio Mbande, que morreu em 2015. "Gostaria de um dia levar a cultura para o estrangeiro, se houver condições", disse à DW África.
Foto: DW/L. da Conceição
Festival Anual da Timbila
Situado na vila de Quissico, à beira da praia, este espaço abriu portas em 1995 e desde então tem acolhido turistas que vêm assistir à atuação de diversos grupos que tocam timbila, no Festival Anual da Timbila M’saho, promovido pela Associação dos Amigos de Zavala (AMIZAVA). Este ano, o festival decorreu em agosto.
Foto: DW/L. Da Conceicao
Timbila para turistas
Em Inhambane são produzidas timbilas especiais para os turistas internacionais. A venda é feita nas zonas de praia e os preços rondam os 10 euros. Geralmente os instrumentos não pesam mais de dois quilos - para serem fáceis de transportar. Nos últimos anos, os produtores de timbilas reclamam da falta de compradores.
Foto: DW/L. da Conceição
Falta de clientes
Armando Júlio começou a vender timbila a turistas há mais de 15 anos. Mas ultimamente reclama da falta de clientes. Com as vendas que fez, já conseguiu adquirir um terreno para construir uma casa, onde vice com a sua família. O vendedor diz que nos últimos anos os lucros caíram drasticamente, devido à falta de turistas interessados em comprar o instrumento.
Foto: DW/L. Da Conceicao
Homenagem aos timbileiros
Na sede do distrito de Zavala, em Quissico, foi erguido um monumento em homenagem a todos os que contribuiram para o desenvolvimento da timbila naquela região. O monumento atrai muitos investigadores nacionais e internacionais, além de muitos estudantes universitários que toso os os anos visitam o local.
Foto: DW/L. da Conceição
Esplanada Timbila
Devido à sua expressão cultural na sociedade moçambicana, a timbila é homenageada de várias formas pelos moçambicanos, como forma de preservação da identidade cultural do povo. Nas ruas é recorrente encontrar lugares públicos com o nome do instrumento, como esta esplanada em Zavala, muito conhecida pelos residentes. Um ponto de encontro de referência.
Foto: DW/L. da Conceição
Uma casa digna para a timbila
Os timbileiros de Inhambane reclamam da falta de uma "residência digna" onde os produtores do instrumento tradicional possam guardar as suas obras e respetivos materiais. Dizem que a atual casa não tem condições e que os lucros das atuações não chegam para construir um novo espaço. Por isso, pedem apoios.
Foto: DW/L. da Conceição
Para quando uma escola da timbila?
Era um sonho do ícone da timbila Venâncio Mbande construir uma escola de arte na sua terra natal, ao lado da sua residência, onde até deixou reservado um espaço. Antes de morrer, em 2015, deu várias entrevistas em que não escondeu o seu desagrado pela falta de ajuda do Governo para a materialização deste sonho. Hoje, a pergunta continua a ser: para quando a "escola da timbila ta Venâncio"?