Centro Político Administrativo de Luanda vai ser erguido em três anos numa parceria público-privada. Edificado contará com 28 edifícios ministeriais e várias unidades de apoio. Custos do megaprojeto não foram revelados.
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Ministérios, casas protolocolares, hóteis, lojas e vários serviços de apoio institucional são algumas das valências que o novo "Bairro dos Ministérios" deverá ter. O empreendimento está previsto para a orla marítima de Luanda, na Chicala, uma das áreas mais nobres da capital angolana.
"Como é que se constrói um bairro dos ministérios com uma população que não tem acesso a água de qualidade, que não tem energia, que não tem educação? Estamos a meter a carroça à frente dos bois", comenta o ativista e militar angolano Osvaldo Caholo.
Bairro de luxo num país em crise
O oficialmente designado Centro Político Administrativo (CPA) compreenderá também áreas dedicadas à iniciativa privada, como centros de negócios, apartamentos de luxo, restaurantes e zonas de lazer. Os beneficiários destes espaços serão sobretudo os altos cargos do governo, o que para Osvaldo Caholo é uma afronta aos angolanos. "Como é que o MPLA continua a tratar os angolanos como farrapo humano?", questiona o ativista.
"Não se concebe como é que um representante do povo, um deputado, tem um carro de cento e tal mil dólares, quando o seu representado nem sequer tem um transporte público", lamenta.
O projeto apresentado pelo ministro de Estado do Desenvolvimento Económico e Social de Angola, Manuel Nunes Júnior, pretende nas palavras do governante reduzir os avultados custos financeiros com os atuais edifícios dos ministérios.
Francisco Paulo, economista e investigador auxiliar do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola, critica a não divulgação dos custos do megaprojeto.
"O senhor ministro para o Desenvolvimento Económico diz que atualmente o governo gasta muito dinheiro em edifícios privados onde estão localizados os ministérios, mas não avançou quanto é que ele gasta mensal ou anualmente, nem tão pouco avançou quando é que vai custar este centro, nem quanto é que vai contribuir para a poupança do Estado", indica o investigador. "Sem esses dados não conseguimos avaliar o custo-benefício", adverte Franciso Paulo.
Construir um bairro dos ministérios em Luanda é "meter a carroça à frente dos bois"
De acordo com o ministro, o Estado vai recorrer a uma parceria público-privada (PPP) para a edificação da empreitada, já que, segundo Manuel Nunes Júnior, esta solução é a "mais viável em situações de restrições orçamentais".
"Isso não faz sentido, porque não terá um impacto imediato na redução [da despesa]. A burocracia continua, os hospitais estão sem medicamentos, as crianças fora do sistema de ensino, mas continuamos a viver do luxo e do supérfluo", critica o investigador da Universidade Católica de Angola.
Congestionamento, poluição e mais tensão sobre a capital
O futuro CPA de Luanda será erguido na continuidade do bairro da Praia do Bispo, onde já estão localizados o Palácio Presidencial e a nova sede do Parlamento angolano.
A concentração de edifícios do Estado numa zona nobre do centro de Luanda aumenta a tensão sobre a capital, adverte Francisco Paulo. "A cidade de Luanda sofre de engarrafamento e todos os serviços estarem concentrados no mesmo local é um perigo para o congestionamento e poluição. É o tempo da descentralização e não da concentração", assevera o economista.
Por outro lado, a construção do projeto vai obrigar ao desalojamento de milhares de pessoas. Por isso, Osvaldo Caholo apela ao povo angolano para "pôr um basta". "Um basta é dizer ‘chega'. O povo deve tomar consciência de que não vão ser as eleições que vão tirar o MPLA do poder. O povo deve ir para as ruas em massa", conclui.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".