Construtora chinesa acusada de abusos no norte de Moçambique
Manuel David (Lichinga)
3 de dezembro de 2018
Trabalhadores da China Communications Constructions Company (CCCC), responsável pela asfaltagem do troço Muita-Massangulo, província do Niassa, queixam-se de maus-tratos e assédio sexual. Administrador promete medidas.
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As reclamações dos trabalhadores foram manifestadas recentemente num encontro que o administrador do distrito de Mandimba, Botelho Chuni, realizou aos estaleiros da CCCC, a empresa chinesa responsável pela execução das obras de asfaltagem do troço Muita-Massangulo, na estrada nacional número 13, que Cuamba a Lichinga.
Botelho Chuni disse que o governo distrital tem acompanhado, através de fontes não oficiais e pelas redes sociais, os relatos de abusos sexuais, roubo de material e outras situações, motivo pelo qual decidiu deslocar-se à empresa para ver in loco o ambiente de trabalho.
No local, os trabalhadores moçambicanos revelaram que estão a sofrer descontos no salário sem uma justificação clara, além de não terem dias de descanso. E os que não foram trabalharam no dia 10 de outubro passado, porque foram votar nas eleições autárquicas, também sofreram descontos.
Até o uniforme e outro equipamento de trabalho que os trabalhadores recebem são descontados no salário, contaram funcionários durante a visita do administrador. "Por três pares de luvas, descontaram-nos 322 meticais (equivalente a 4,61 euros) e nós queremos saber se o Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social existe cá no distrito para defender os trabalhadores", perguntou o operário Assifa Bonomar.
Denúncias de assédio sexual
A operária Maria Rafael também denunciou que tem sido alvo de assédio sexual e que os engenheiros chineses exigem que as mulheres façam sexo com eles para serem promovidas, caso contrário sofrerão represálias.
Construtora chinesa acusada de abusos no norte de Moçambique
"Dizem: se você não fizer sexo comigo, será expulsa do trabalho", conta a funcionária. "Nós viemos trabalhar aqui e agradecemos o projeto, mas não gostamos do que alguns chefes fazem. Não podemos trabalhar aqui em troca de favores", lamenta Maria Rafael.
O representante da empresa CCCC, o engenheiro Yan Nick, refuta as acusações, afirmando que à direção nunca foi comunicada qualquer ocorrência de abusos sexuais e agressões físicas. Sobre as denúncias de abusos sexuais, o representante afirma que "se esses problemas existem, devem ir reclamar no comando da polícia."
Por outro lado, Yan Nick reconhece que houve descontos salariais, como acontece noutros locais de trabalho. "Todas as empresas moçambicanas fazem descontos", sublinha.
Administrador promete medidas
No final do encontro, o administrador do distrito de Mandimba disse não ter gostado do que que ouviu. "Sinto-me arrepiado com aquilo que estão a contar", confessou Botelho Chuni, que apelou aos gestores da empresa chinesa para melhorarem a comunicação e respeitarem a lei do trabalho.
"Aceitar humilhações impossíveis não é a característica do povo moçambicano", afirmou o administrador de Mandimba, que prometeu reportar o caso à governadora da província.
A empresa CCCC conta com mais de 800 trabalhadores, moçambicanos e chineses.
Maputo: Várias construções públicas são obra de empreiteiros chineses
Estradas, viadutos e edifícios estatais - são algumas das grandes infra-estruturas públicas financiadas pelo Governo chinês e que foram construídas na capital moçambicana. Foram também adjudicadas a empresas chinesas.
Foto: DW/Romeu da Silva
Aeroporto Internacional de Maputo
O Aeroporto de Maputo obedece aos padrões internacionalmente aceites para receber todo o tipo de aviões e consta da lista das mais modernas infra-estruturas aeroportuárias de África. Em 2010, altura em que foi construído, esperava-se que aterrassem aqui as seleções que iam competir no Mundial de Futebol da África do Sul, o que acabou por não acontecer. Custou 75 milhões de dólares.
Foto: DW/Romeu da Silva
Estrada Circular de Maputo
Em 2011, o Governo moçambicano e o Governo da República Popular da China lançaram, em conjunto, o projeto “Estrada Circular de Maputo”, com o intuito de aliviar o trânsito na capital moçambicana. As obras começaram em 2012 e custaram 315 milhões de dólares, dos quais 300 são um empréstimo do banco estatal China Exim-Bank. A obra foi adjudicada à empresa China Road and Bridge Corporation (CRBC).
Foto: DW/Romeu da Silva
Viadutos
O projeto da Estrada Circular contemplou também a construção de várias pontes, entre elas um viaduto num troço que liga a zona leste de Maputo a Ressano Garcia, na fronteira com a África do Sul. Pretendeu-se proteger a circulação do comboio pelo corredor de Limpopo - crucial para o transporte de carga de e para os países do Hinterland.
Foto: DW/Romeu da Silva
Gloria Hotel
Localizado à beira mar na Avenida Marginal, na capital do país, o AFECC Gloria Hotel possui duas salas de conferências - uma com capacidade para duas mil pessoas e outra para oitocentas - 258 quartos, restaurantes e outros serviços. O investimento total rondou os 300 milhões de dólares, o que faz do Gloria o maior complexo hoteleiro do país.
Foto: DW/Romeu da Silva
Maputo Katambe
É a maior ponte suspensa de África e custou ao Governo moçambicano 700 milhões de dólares num financiamento do Exim Bank da China. O Governo considera a infra-estrutura de extrema importância para Moçambique, uma vez que vai permitir uma melhor circulação de pessoas, cargas e bens entre Maputo e Catembe, bem como a reativação de trocas comerciais com maior frequência.
Foto: DW/Romeu da Silva
Ponte suspensa
Todos os dias o "ferry-boat" faz transporte de passageiros e carga para o outro lado da baía de Maputo. Os passageiros levam horas a fazer a travessia. Mas a construção da ponte Maputo Katambe deverá aliviar este sofrimento apesar das muitas críticas que são feitas à sua construção. Os moçambicanos esperam por ela desde a independência.
Foto: DW/Romeu da Silva
Ministério dos Negócios Estrangeiros
O Ministério dos Negócios Estrangeiros é mais um dos edifícios modernos construídos por empreiteiros chineses na esteira das históricas relações diplomáticas que existem entre os dois países que duram há quase cinquenta anos. Localiza-se na baixa da capital moçambicana.
Foto: DW/Romeu da Silva
Palácio da Justiça
Com 12 andares, o edifício está avaliado em 13 milhões de dólares americanos. Mais um investimento que resulta de um crédito concedido pela China. Aqui encontram-se as secções civis, comerciais e laborais do Tribunal Judicial de Maputo. No mesmo edifício encontram-se ainda o Tribunal de Polícia, o gabinete dos representantes do Ministério Público e, provisoriamente, o Tribunal Supremo de Recurso.
Foto: DW/Romeu da Silva
Procuradoria-Geral da República
Sob a égide da empresa “China National Complete Plant Import & Export Corporation”, esta construção custou 40 milhões de dólares e durou 24 meses. É mais uma das obras cujo orçamento proveio de uma linha de crédito aberta pelo Governo chinês a favor de Maputo, no âmbito dos acordos assinados entre os dois estados, por ocasião da visita, em 2007, do Presidente da China, Hu Jintao, a Moçambique.
Foto: DW/Romeu da Silva
Avenida Marginal
Encontrar estacionamento na cidade nem sempre foi fácil. Havia muito tráfego rodoviário, com a agravante de haver automobilistas em estado de embriaguês. Agora, ao longo da avenida da Marginal, existem muitos espaços para estacionamento das viaturas dos banhistas, mesmo em dias de muito calor que convidam muita gente a deslocar-se à praia.
Foto: DW/Romeu da Silva
Proteção da Praia da Costa do Sol
As obras na Praia da Costa do Sol iniciaram-se em 2012 e custaram 22 milhões de dólares. A degradação da zona costeira permitia que, em momentos de maré alta, as águas galgassem a estrada. Foi por isso resconstruída. A barreira (na imagem) veio resolver o problema de erosão costeira nesta zona.
Foto: DW/Romeu da Silva
Estádio Nacional de Zimpeto
Com capacidade para 42 mil pessoas, das quais 10 mil em zona coberta, o Estádio Nacional situa-se no bairro de Zimpeto, a 14 quilómetros do centro de Maputo, e ocupa uma área de 26 hectares, num total de 46 reservados para a infra-estrutura. A obra, orçada em 70 milhões de dólares, foi também financiada pelo Governo chinês e construída pela Anhui Foreign Economic Construction Group.
Foto: DW/Romeu da Silva
Vila Olímpica
A Vila Olímpica de Zimpeto é composta por 848 apartamentos com infra-estruturas distribuídas por 26,5 blocos. Os edifícios são de quatro pisos, com apartamentos de tipo três, numa área útil de 100 metros quadrados. Em 2011, quando Moçambique organizou os jogos africanos, a Vila albergou todos os atletas que participaram no evento desportivo.