Convivência difícil entre FRELIMO e oposição em Gaza
Carlos Matsinhe (Xai-Xai)
19 de maio de 2017
Em Gaza, sul de Moçambique, a oposição acusa a FRELIMO de usar o braço juvenil para desestabilizar os seus trabalhos. Problemas que uma nova equipa de observação eleitoral criada na província espera resolver.
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Parece ser cada vez mais dificil a convivência política entre a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e os partidos da oposição. O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) diz que a última vez que foi impedido de exercer a sua actividade política foi há menos de uma semana, na cidade de Xai-Xai.
Alfeu Bila, do MDM, conta que membros do braço juvenil da FRELIMO desestabilizaram um encontro do partido da oposição com um dirigente nacional, com buzinas e ruídos de carros.
O episódio culminou em agressões físicas de ambas as partes. "Entraram na sede do MDM, partiram as bandeiras, bateram nos nossos membros e houve problemas porque ninguém pode levar porrada parado", explica Bila.
O chefe provincial da mobilização e propaganda do MDM diz que as atitudes dos membros da Organização da Juventude Moçambicana (OJM) são "antidemocráticas" e espera que episódios como este não se voltem a repetir a caminho das eleições autárquicas, previstas para o próximo ano.
FRELIMO desmente
Mas Moisés Nhantsave, secretário de mobilização da FRELIMO em Gaza, nega que o partido esteja a boicotar o trabalho do MDM e dos outros partidos da oposição e contra-ataca.
"Acusar o partido FRELIMO é como quando alguém dança, mas não consegue dançar bem e diz que a causa é o instrumento que eu estava a usar, que não estava bem", contra-ataca Nhantsave. "Eles próprios podem não estar em condições de fazer uma democracia livre, educativa e dentro de respeito", contrapõe.
Não é primeira vez que o MDM e outros partidos da oposição se queixam do impedimento de reuniões, marchas e comícios. Os partidos dizem ainda que têm dificuldades em recrutar os representantes para as mesas de voto, por medo de represálias.
Equipa de observação eleitoral
Há uma semana foi criada em Gaza uma equipa de observação eleitoral para as próximas eleições autárquicas, agendadas para 2018.
Convivência difícil entre FRELIMO e oposição em Gaza
O coordenador da equipa, Fernando Nhatave, diz estar ciente dos desafios para a convivência pacífica entre os partidos políticos.
"A nossa província tem tido essas escaramuças quando chega o momento das campanhas", confirma Fernando Nhatave, da Associação Moçambicana para o Desenvolvimento e Democracia.
Razão pela qual os partidos serão convidados para formações e encontros para "recordar o que é a ética, o código de conduta que eles assinaram".
O mentor da iniciativa é Anastácio Matavel. O diretor do Fórum das Organizações Não-Governamentais de Gaza lembra que entre os atores envolvidos nos processos eleitorais, "há desconhecimento da lei, mas também dos procedimentos práticos".
Por isso, o Fórum vai tentar integrar a Polícia da República de Moçambique (PRM) e as instituições da Justiça neste processo de diálogo, para garantir que as eleições e o caminho para as eleições decorram sem problemas.
O eterno segundo lugar: uma vida na oposição em África
Não são apenas os presidentes que não mudam durante décadas nalguns países africanos. Também os chefes da oposição ocupam o cargo toda a vida, vedando o caminho às novas gerações. Conheça alguns eternos oposicionistas.
Foto: Reuters
O guerrilheiro moçambicano
Afonso Dhlakama é um veterano entre os oposicionistas africanos de longa duração. Em 1979 assumiu a liderança do movimento de guerrilha Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO. Este tornou-se num partido democrático. Mas Dhlakama é famoso pelo seu tom combativo. Por vezes ameaça pegar em armas contra os seus inimigos. E concorreu cinco vezes sem sucesso à presidência do país.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Morgan Tsvangirai - o resistente
O ex-mineiro tornou-se num símbolo da resistência contra o Presidente vitalício do Zimbabué, Robert Mugabe. Foi detido, torturado, sofreu fraturas do crânio e uma vez tentaram, sem sucesso, atirá-lo do décimo andar de um edifício. Após as controversas eleições de 2008, o líder do Movimento pela Mudança Democrática chegou a acordo com Mugabe sobre uma partilha do poder.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
O primeiro jurista doutorado na RDC
Étienne Tshisekedi foi nomeado ministro da Justiça antes de terminar o curso. Só mais tarde se tornou no primeiro jurista doutorado da República Democrática do Congo. Teve vários cargos na presidência de Mobuto, mas tornou-se crítico do regime. Foi preso e obrigado a abandonar o país. Liderou a oposição de 2001 até a sua morte em fevereiro de 2017. Perdeu as eleições de 2011 contra Joseph Kabila.
Foto: picture alliance/dpa/D. Kurokawa
Raila Odinga: a política fica em família
Filho do primeiro vice-presidente do Quénia, Raila Odinga nunca escondeu a ambição de um dia assumir a presidência. Foi deputado ao mesmo tempo que o pai e o irmão. Mas não se pode dizer que seja um militante fiel de algum partido: já mudou de cor política por quatro vezes. Após a terceira derrota nas presidenciais de 2013, apresentou queixa em tribunal contra o resultado e ... perdeu.
Foto: Till Muellenmeister/AFP/Getty Images
O Dr. Col. Kizza Besigye do Uganda
Besigye já foi um íntimo de Museveni, para além do seu médico privado. Quando começou a ter ambições de poder, transformou-se no inimigo número um do Presidente do Uganda. Foi repetidas vezes acusado de vários delitos, preso e brutalmente espancado em público. Voltou a candidatar-se nas presidenciais de maio de 2016, durante as quais ocorreram novamente distúrbios violentos.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Kurokawa
Juntos por um novo Chade
Saleh Kebzabo (esq.) e Ngarlejy Yorongar são os dois rostos mais importantes da oposição no Chade. Embora sejam de partidos diferentes, há muitos anos que lutam juntos pela mudança política no país. Mas desavenças no ano de eleições 2016 enfraqueceram a aliança. A situação beneficiou o Presidente perene Idriss Déby, que somou nova vitória eleitoral.
Foto: Getty Images/AFP/G. Cogne
O Presidente autoproclamado
Desde o início da sua atividade política que Jean-Pierre Fabre se encontra na oposição do Togo. O líder da “Aliança Nacional para a Mudança” concorreu por duas vezes à presidência. Após a mais recente derrota, em abril de 2015, rejeitou os resultados do escrutínio e autoproclamou-se Presidente. Sem sucesso.
O pai foi Presidente do Gana na década de 70. Nana Akufo-Addo demorou muitos anos até seguir-lhe as pisadas. Muitos ganeses não levam muito a sério as tentativas desesperadas para chegar à presidência, tendo dificuldades em identificar-se com este membro das elites. Mas em novembro de 2016, Akufo-Addo candidatou-se pela terceira vez e venceu as eleições. Desde janeiro de 2017 é Presidente do Gana.